Entrevista

Papa manifesta indignação por queima do Alcorão na Suécia

Francisco concedeu uma entrevista ao jornal dos Emirados Al-Ittihad; Além de falar sobre o caso na Suécia, Pontífice citou o documento sobre a Fraternidade Humana e comentou sobre seu estado de saúde

Da redação, com Vatican News

Foto: REUTERS – Guglielmo Mangiapane

Em entrevista ao jornal dos Emirados Árabes Unidos Al-Ittihad, o Papa Francisco se manifestou sobre a queima de cópias do Alcorão na Suécia, ocorrida na última quarta-feira, 28. O Pontífice afirmou: “Sinto-me indignado e desgostoso por essas ações”.

“Qualquer livro considerado sagrado por seus autores deve ser respeitado por respeito aos seus fiéis, e a liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros, e permitir isso deve ser rejeitado e condenado”, complementou.

A queima do Alcorão aconteceu no início da celebração muçulmana de três dias do Eid al-Adha, em memória do sacrifício de Abraão. O ato profano foi praticado por Salwan Sabah Metti Momika, de 37 anos, em frente à Grande Mesquita de Estocolmo. A ação provocou fortes reações em todo o mundo e a embaixada sueca em Bagdá foi invadida. Momika é cidadão sueco nascido em um vilarejo próximo a Mosul, no Iraque. Ele é acusado de ódio étnico e racial.

Outras manifestações contra o ato

O Conselho Cristão Sueco emitiu uma declaração sobre o ato desrespeitoso. Além de condenar a queima do Alcorão, as igrejas cristãs defenderam o direito de cada pessoa praticar sua fé, independentemente da religião. “A queima do Alcorão é uma violação deliberada da fé e da identidade muçulmana, mas também a vemos como um ataque a todos nós como pessoas de fé. Portanto, queremos expressar nossa solidariedade aos crentes muçulmanos em nosso país”, lê-se na declaração.

Em uma coletiva de imprensa, o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson condenou a ação. “Acho que devemos ter bom senso na Suécia. Estamos em uma grave situação política de segurança e não há motivo para ofender outras pessoas”, disse ele, ao mesmo tempo em que enfatizou que a ação em si era legal. 

Estado de saúde

Na mesma entrevista, o Papa falou sobre seu estado de saúde após a recente cirurgia abdominal: “Foi difícil, mas agora, graças a Deus, estou melhor graças ao empenho e profissionalismo dos médicos e da equipe de enfermagem, a quem agradeço muito e rezo por eles e suas famílias e por todas as pessoas que escreveram e rezaram por mim nesses dias”.

Visita a Abu Dhabi

Francisco também recordou a sua visita a Abu Dhabi, em 2019, e expressou apreço pelo compromisso dos Emirados Árabes Unidos e do xeque Mohamed bin Zayed pelo caminho percorrido para difundir a fraternidade, a paz e a tolerância.

O Pontífice pediu que os jovens não sejam deixados pelos adultos nas garras de miragens e choques de civilizações: “Na minha opinião, a única maneira para proteger os jovens de mensagens negativas e notícias falsas e inventadas, e das tentações do materialismo, do ódio e do preconceito, é não os deixar sozinhos nessa batalha, mas dar-lhes os instrumentos necessárias, que são a liberdade, o discernimento e a responsabilidade. A liberdade é o que distingue uma pessoa. Deus nos criou livres até para rejeitá-Lo, a liberdade de pensamento e expressão é essencial para ajudá-los a crescer e aprender”.

“Nunca devemos cair na experiência de tratar os jovens como crianças incapazes de escolher e tomar decisões”, continuou o Pontífice, “eles são o presente e investir neles significa garantir a continuidade”, sempre seguindo a regra de ouro de fazer aos outros o que você gostaria que fosse feito a você.

Documento sobre a Fraternidade Humana

Em resposta a uma pergunta sobre o documento sobre a Fraternidade Humana, o Santo Padre disse que sempre o entrega às delegações que recebe no Vaticano porque acredita que é um texto importante não apenas para o diálogo entre as religiões, mas para a convivência pacífica entre todos os seres humanos. “Haverá a civilização da fraternidade ou a da inimizade, ou construímos juntos o futuro ou não haverá futuro”, disse.

Francisco disse estar satisfeito com a aceitação da mensagem e dos objetivos do documento pela comunidade global. “A fraternidade humana é o antídoto que o mundo precisa para se curar do veneno dessas feridas. O futuro da cooperação inter-religiosa se baseia no princípio da reciprocidade, do respeito pelo outro e da verdade”.

“Nossa tarefa”, acrescentou o Pontífice, “é transformar o senso religioso em cooperação, em fraternidade, em boas obras concretas. Hoje precisamos de construtores de paz, não de fabricantes de armas; hoje precisamos de construtores de paz, não de instigadores de conflitos; precisamos de bombeiros, não de incendiários; precisamos de defensores da reconciliação, não de pessoas ameaçadas de destruição”.

Falando de compromissos concretos nessa direção, incentivando as iniciativas de caridade lançadas após a publicação do documento, o Papa disse: “é fácil falar sobre fraternidade, mas a verdadeira medida da fraternidade é o que realmente fazemos de forma concreta para ajudar, apoiar, nutrir e acolher os meus irmãos e irmãs na humanidade. Todo bem, por sua própria natureza, deve ser para todos, indiscriminadamente. Se eu só fizer o bem àqueles que pensam ou acreditam como eu, então meu bem é hipocrisia, porque o bem não conhece discriminação ou exclusão”.

Aumento das ameaças terroristas

Com relação ao aumento das ameaças terroristas, o Papa respondeu com as palavras do documento, condenando todas as práticas que ameaçam a vida, como os genocídios, os atos terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o aborto e a eutanásia, e as políticas que “apoiam tudo isso”.

Enfim, o Santo Padre expressou seu apreço pela Casa de Abraão em Abu Dhabi – o espaço que compreende uma igreja dedicada a São Francisco, uma mesquita e uma sinagoga -, criada para realizar o princípio da fraternidade humana.

Questão climática

Por fim, Francisco comentou sobre a questão da emergência climática e ambiental:

“A única maneira eficaz de enfrentar essa crise é encontrar soluções realistas aos problemas reais da crise ecológica. Devemos transformar as declarações em ação antes que seja tarde demais”.

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