Catequese

Papa: José ensina a olhar para a periferia, para o que o mundo não quer

Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José; “Ele pode ser apoio, conforto e orientação para nós”, disse 

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante Audiência Geral desta quarta-feira, 17/ Foto: REUTERS/Remo Casilli

O Papa Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José, na Audiência Geral, desta quarta-feira, 17.  Ela foi realizada na Sala Paulo VI e teve como tema “São José e o ambiente em que viveu”.

O Santo Padre recordou que, em 8 de dezembro de 1870, o Beato Pio IX proclamou São José padroeiro da Igreja universal. Depois de 150 anos daquele evento, o Pontífice recordou que a Igreja está vivendo um ano especial dedicado a São José.

Na Carta Apostólica Patris corde, o Papa afirma ter recolhido algumas reflexões sobre a figura do santo. “Nunca como hoje, neste tempo marcado por uma crise global com diferentes componentes, ele pode ser apoio, conforto e orientação para nós. Por isso decidi dedicar-lhe um ciclo de catequeses, que espero nos possa ajudar ulteriormente a deixar-nos iluminar pelo seu exemplo e pelo seu testemunho”, comenta.

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Nome José

Em seguida, Francisco sublinhou que na Bíblia há mais de dez personagens com o nome de José. O mais importante de todos é o filho de Jacó e Raquel. Ele, prosseguiu o Santo Padre, através de várias vicissitudes, de escravo, tornou-se a segunda pessoa mais importante no Egito depois do Faraó.

O Pontífice explica que o nome José em hebraico significa “Deus aumente, Deus faça crescer”. Para o Papa é um desejo, uma bênção baseada na confiança na providência de Deus e refere-se especialmente à fecundidade e ao crescimento dos filhos.

Este mesmo nome, segundo Francisco, revela um aspecto essencial da personalidade de José de Nazaré. “Ele é um homem cheio de fé em Deus, na sua providência. Ele crê na providência de Deus. Tem fé na providência de Deus”, aponta.

“Toda a sua ação, narrada no Evangelho, é ditada pela certeza de que Deus “faz crescer”, “aumenta”, “acrescenta”, ou seja, que Deus providencia à continuação do seu plano de salvação. E nisto, José de Nazaré é muito parecido com José do Egito”.

Belém e Nazaré

Segundo Francisco, as principais referências geográficas que se referem a José são Belém e Nazaré. Elas desempenham um papel importante na compreensão de sua figura.

“O Filho de Deus não escolheu Jerusalém como o lugar da sua encarnação, mas Belém e Nazaré, duas aldeias periféricas, longe do clamor da crônica e do poder da época. Contudo, Jerusalém era a cidade amada pelo Senhor, a ‘cidade santa’, escolhida por Deus para lá habitar. Ali, com efeito, habitavam os doutores da Lei, os escribas e fariseus, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo”, explica.

É por isso que, de acordo com o Santo Padre, a escolha de Belém e Nazaré diz a todos que a periferia e a marginalidade são prediletas a Deus. Jesus, continua, não nasceu em Jerusalém, Ele nasceu na periferia. Viveu a sua vida até 30 anos naquela periferia, trabalhando como carpinteiro, como José.

Periferia

“Para Jesus, as periferias e a marginalidade são prediletas”, disse o Papa. O Pontífice destaca que não levar esta realidade a sério equivale a não levar a sério o Evangelho e a obra de Deus, que continua a manifestar-se nas periferias geográficas e existenciais.

O Senhor age sempre escondido, nas periferias, disse Francisco. “Na periferia da alma, nos sentimentos, nos sentimentos que talvez nos envergonha. Mas o Senhor está ali para nos ajudar a ir adiante. O Senhor continua se manifestando nas periferias, geográficas e existenciais”, comenta.

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Em particular, o Santo Padre ressalta que Jesus vai em busca dos pecadores, entra nas suas casas, fala com eles, chama-os à conversão. Jesus é repreendido por isso, comenta. “Olhem esse mestre, dizem os doutores da lei, esse mestre que come com os pecadores, se suja. Mas também vai em busca daqueles que não praticaram o mal, mas que o sofreram: os doentes, os famintos, os pobres, os últimos”.

“Jesus vai sempre em direção à periferia. E isso deve nos dar muita confiança, pois o Senhor conhece as periferias do nosso coração, as periferias da nossa alma, as periferias de nossa sociedade, de nossa cidade, de nossa família, aquela parte um pouco escura que nós não mostramos por vergonha talvez”, frisa o Papa.

Anunciar a Boa Nova

Segundo o Pontífice, sob este aspecto, a sociedade daquela época não é muito diferente da atual. Hoje, também há um centro e uma periferia. Francisco aponta que a Igreja sabe que é chamada a anunciar a boa nova a partir das periferias.

“José, que é um carpinteiro de Nazaré e que confia no plano de Deus para a sua jovem noiva e para si mesmo, recorda à Igreja para fixar o olhar naquilo que o mundo ignora deliberadamente”, destaca.

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Francisco afirma que José nos ensina a não olhar muito para as coisas que o mundo louva, mas a olhar para o ângulo, olhar para as sombras, para a periferia, para aquilo que o mundo não quer.

O santo, prossegue o Papa, lembra a cada um para dar importância ao que os outros descartam. “Neste sentido, ele é um mestre do essencial: nos lembra que o que é realmente valioso não atrai a nossa atenção, mas requer um discernimento paciente para ser descoberto e valorizado. Peçamos-lhe que interceda para que toda a Igreja possa recuperar este discernimento, esta capacidade de discernir e avaliar o que é essencial. Comecemos de novo a partir de Belém, comecemos de novo a partir de Nazaré.”

Por fim, o Papa transmitiu uma mensagem a todos os homens e mulheres que vivem nas periferias geográficas mais esquecidas do mundo ou que experimentam situações de marginalidade existencial:

“Que encontrem em São José a testemunha e o protetor para quem olhar”, disse o Pontífice.

Oração a São José

Após a Catequese, Francisco proferiu a seguinte oração:

“São José,
vós que sempre confiastes em Deus,
e fizestes as vossas escolhas
guiado pela sua providência
ensinai-nos a não contar tanto com os nossos projetos
mas com o seu desígnio de amor.
Vós que viestes das periferias
ajudai-nos a converter o nosso olhar
e a preferir o que o mundo descarta e marginaliza.
Confortai quantos se sentem sozinhos
e apoiai quantos se comprometem em silêncio
para defender a vida e a dignidade humana. Amém.”

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