Nesta segunda-feira, 7, Francisco fez a saudação inicial aos participantes do Sínodo para a Amazônia pedindo coragem e prudência
Da redação, com Vatican News
Os trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia tiveram início na manhã desta segunda-feira, 7, com um momento de oração diante do túmulo de Pedro, na Basílica Vaticana, intercalado com um canto da região amazônica, seguido pelo Veni Creator.
Leia mais
.: Papa: povos aguardam pela consolação do Evangelho e amor da Igreja
Os participantes seguiram, em procissão, até a sala sinodal, levando cartazes com imagens de mártires e frases da encíclica Laudato Si e símbolos da região amazônica, como o barco, a rede e objetos indígenas. O Pontífice fez a saudação inicial, agradecendo a todos pelo trabalho realizado desde sua visita a Puerto Maldonado no Peru.
Dimensão pastoral
“O Sínodo para a Amazônia tem quatro dimensões”, explicou o Papa: pastoral, cultural, social e ecológica. “A primeira é essencial, porque abarca tudo, e vemos a realidade da Amazônia com olhos dos discípulos, porque não existem hermenêuticas neutras, ascéticas, sempre estão condicionadas a uma opção prévia, e a nossa opção prévia é a dos discípulos. Mas também com olhos missionários, porque o amor que o Espírito Santo colocou em nós nos impulsiona ao anúncio de Jesus Cristo”.
Francisco advertiu para as colonizações ideológicas, que fazem ver a realidade com programas pré-confeccionados com o afã de domesticar os povos originários. “As ideologias são uma arma perigosa”, afirmou, porque levam a visões redutivas, a entender sem admirar, sem assumir, sem compreender.
A realidade é absorvida com categorias “ismos”. O lema “civilização e barbárie” serviu para dividir, aniquilar os povos originários, demonstrando todo o desprezo por eles. O Pontífice citou a experiência que a própria Argentina viveu com esses povos e as atitudes depreciativas que continuam, até hoje, expressas, inclusive, na linguagem.
Leia também
.: Vaticano apresenta detalhes sobre Sínodo Especial para a Amazônia
.: Papa consagra Sínodo para a Amazônia a São Francisco de Assis
Contra o risco de medidas pragmáticas, o Papa propõe a contemplação dos povos, a capacidade de admiração e um pensamento paradigmático. “Se alguém veio com intenções pragmáticas, converte-se para atitudes paradigmáticas, que nasce da realidade dos povos”, afirmou.
Francisco alertou ainda para os riscos da mundanidade, “que sempre se infiltra e nos faz distanciar da poesia dos povos”. “Viemos para contemplar, compreender, servir os povos e fazemos percorrendo um caminho sinodal, não numa mesa-redonda, em conferências ou em discursos, mas em sínodo. Porque um Sínodo não é um parlamento, um locutório, é um caminhar juntos sob a inspiração do Espírito Santo e o Espírito Santo é o protagonista do Sínodo”.
O martírio do Instrumento de trabalho
Quanto ao Instrumento de trabalho, o Papa o qualificou como “mártir”, destinado a ser destruído, pois é o ponto de partida. “Vamos caminhar sob a guia do Espírito Santo, deixar que Ele se expresse nesta assembleia, entre nós, conosco, por meio de nós e se expresse apesar da nossa resistência”.
Para assegurar que a presença do Espírito Santo seja fecunda, o Santo Padre indicou antes de tudo a oração – “rezemos muito”. “É preciso também refletir, dialogar, escutar com humildade, sabendo que eu não sei tudo e falar com coragem, com paresia, “mesmo que tenha que passar vergonha”, discernir e tudo isso dentro, custodiando a fraternidade que deve existir aqui dentro.”
Leia também
.: Igreja e meio ambiente, olhos voltados para a Amazônia
Para favorecer essa atitude de reflexão, oração, discernimento, depois das intervenções haverá um espaço de quatro minutos de silêncio. “Pois estar no Sínodo é entrar num processo, não é ocupar um espaço na sala, e os processos eclesiais têm necessidade de serem custodiados, cuidados com delicadeza, com o calor da Mãe Igreja.”
O Pontífice, então, indicou prudência ao falar com os jornalistas, para não se criar a impressão de que exista um “Sínodo dentro” e um “Sínodo fora”. “Uma informação impudente leva a equívocos”. “Obrigado por aquilo que estão fazendo, obrigado por rezar uns pelos outros, e ânimo, não perdamos o sentido de humor”.