Em seu discurso na oração ecumênica, Papa destacou que a oração é necessária para trabalhar e para ter a força de caminhar
Jéssica Marçal
Da Redação
Um dos momentos mais aguardados da viagem do Papa Francisco ao Sudão do Sul aconteceu neste sábado, 4: a oração ecumênica pela paz. Cerca de 50 mil pessoas participaram desse encontro marcante.
Francisco esteve acompanhado pelo arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e pelo moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, pastor Iain Greenshields. Juntos, os três líderes religiosos fizeram a oração de intercessão e de misericórdia pela nação.
“Como cristãos, a primeira coisa – e a mais importante – que somos chamados a fazer é rezar, para podermos trabalhar bem e termos a força de caminhar. Rezar, trabalhar e caminhar: três verbos sobre os quais precisamos de refletir.”, disse o Papa logo no início de seu discurso.
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A necessidade da oração
Francisco pontuou, antes de tudo, a importância de rezar. Sem a oração, seria vão todo o empenho das comunidades cristãs, uma vez que aquilo que se faz é, primariamente, dom gratuito recebido de Deus.
Mais cedo, no encontro com o clero em Juba, o Papa se inspirou na figura de Moisés e, voltando a ele, agora na perspectiva da oração, mencionou um episódio decisivo em sua história. Às margens do Mar Vermelho, quando o povo fugia do exército inimigo e se via diante da barreira intransponível das águas, a força de Moisés vinha da escuta de Deus. A união com Deus, cultivada na oração, foi o segredo que permitiu a Moisés acompanhar o povo da opressão à liberdade.
“Dá-se o mesmo conosco: rezar dá a força para seguir em frente, superar os medos, vislumbrar, mesmo na escuridão, a salvação que Deus prepara”, disse o Papa. Ele destacou, em especial, a oração de intercessão dos pastores do povo santo de Deus.
“Irmãos, irmãs, apoiemo-nos nisto: nas nossas várias Confissões, sintamo-nos unidos entre nós, como uma só família; e sintamo-nos encarregados de rezar por todos. Nas nossas paróquias, igrejas, assembleias de culto e louvor, rezemos assíduos e concordes (cf. At 1, 14) para que o Sudão do Sul, como o povo de Deus na Escritura, «alcance a terra prometida»: disponha serena e equitativamente da terra fértil e rica que possui e seja cumulado daquela paz prometida, mas que, infelizmente, ainda não chegou”.
Trabalhar pela causa da paz
Em segundo lugar, continuou o Papa, está o chamado a trabalhar pela paz. O Pontífice recordou que a paz de Deus não é apenas uma trégua entre os conflitos, mas uma comunhão fraterna, que brota de congregar, de perdoar, de reconciliar-se, não de impor-se.
“Trabalhemos incansavelmente, queridos irmãos e irmãs, por esta paz que o Espírito de Jesus e do Pai nos convida a construir: uma paz que integra as diversidades, que promove a unidade na pluralidade. Esta é a paz do Espírito Santo, que harmoniza as diferenças, ao passo que o espírito inimigo de Deus e do homem aproveita as diversidades para dividir.”
Caminhar na unidade
Por fim, o Papa ressaltou como, ao longo dos decênios, as comunidades cristãs no Sudão do Sul se empenharam na promoção de percursos de reconciliação. Mesmo em meio aos conflitos, a pertença cristã nunca desagregou a população, mas foi e ainda é fator de unidade.
Francisco pediu que tribalismo e o faciosismo que alimentam as violências no país não afetem as relações interconfessionais. “Pelo contrário, derrame-se sobre o povo o testemunho de unidade dos crentes.”
Memória e compromisso foram as duas palavras-chave indicadas pelo Papa para a continuação desse caminho. Memória nas pegadas dos predecessores e com o compromisso com o amor concreto, para socorrer quem está à margem.
“Recomecemos cada dia a partir da oração de uns pelos outros e com os outros, do trabalhar juntos como testemunhas e mediadores da paz de Jesus, do caminhar pela mesma estrada, dando passos concretos de caridade e unidade”, concluiu.