Papa disse que Igreja da Colômbia é chamada a comprometer-se com ousadia na formação de discípulos-missionários
Da redação, com Rádio Vaticano
Neste sábado, 9, penúltimo dia da visita do Papa Francisco à Colômbia, o Pontífice presidiu a Santa Missa no Aeroporto Enrique Olaya Herrera em Medellín. No início da Missa, o Santo Padre pediu perdão aos milhares de fiéis e peregrinos pelo atraso da sua chegada.
Na homilia, o Pontífice recordou que na Missa de quinta-feira, 7, em Bogotá, a liturgia narrou o chamado de Jesus aos seus primeiros discípulos; esta parte do evangelho segundo Lucas, que começa com aquela narração, culmina com o chamado dos Doze. Ora, questionou Francisco, entre estes dois acontecimentos, o que é que querem recordar os evangelistas?
E explicou que os evangelistas querem recordar aos fiéis que o caminho de seguimento do Senhor exigiu dos primeiros discípulos muito esforço de purificação. Alguns preceitos, proibições e mandamentos davam-lhes segurança; cumprir determinados ritos e práticas dispensava-os da preocupação de se interrogar: Que agrada ao nosso Deus?
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O Papa disse ainda que Jesus indica-lhes que obedecer é caminhar atrás d’Ele, o que os fazia deparar com leprosos, paralíticos, pecadores. Estas realidades requeriam muito mais do que uma receita, uma norma estabelecida. Aprenderam que ir atrás de Jesus implica outras prioridades, outras considerações para servir a Deus.
Segundo o Pontífice, para o Senhor, como também para a comunidade primitiva, é de suma importância que, se os fiéis se considerarem discípulos, não estejam agarrados a um certo estilo, a certas práticas que os aproximam mais do modo de ser de alguns fariseus da época do que do modo de ser de Jesus.
“A liberdade de Jesus contrasta com a falta de liberdade dos doutores da lei daquele tempo, que estavam paralisados por uma interpretação e prática rigoristas da lei. Jesus não Se limita a uma atuação aparentemente “correta”, mas leva a lei à sua plenitude; e, por isso, quer colocar-nos nessa direção, nesse estilo de seguimento que implica ir ao essencial, renovar-se e envolver-se. São três atitudes que devemos plasmar na nossa vida de discípulos”:
Ir ao essencial
A primeira atitude sublinha o Pontífice é ir ao essencial. Isto não significa “cortar com tudo” o que para não se adapta a realidade hodierna, pois Jesus também não veio revogar a lei, mas levá-la à sua plenitude (cf. Mt 5, 17); trata-se, antes de mais, de caminhar em profundidade rumo ao que conta e tem valor para a vida.
Jesus ensina que a relação com Deus não pode ser uma fria aderência a normas e leis, nem o cumprimento de certos atos exteriores que não conduzem a uma mudança real da vida. “O nosso discipulado não pode ser motivado simplesmente por um costume, porque dispomos dum certificado de batismo, mas deve partir duma experiência viva de Deus e do seu amor”.
Francisco advertiu ainda que o discipulado não é algo de estático, mas um movimento contínuo para Cristo; não é simplesmente a aderência à explicitação duma doutrina, mas a experiência da presença amorosa, viva e operante do Senhor, uma aprendizagem permanente através da escuta da sua Palavra. “E esta Palavra, como ouvimos, impõe-nos cuidar das necessidades concretas dos nossos irmãos: pode ser a fome de quem vive ao nosso lado (assim o vimos no texto proclamado hoje: cf. Lc 6, 1-5), ou a doença como se vê na narração que Lucas apresenta a seguir”.
Renovar-se
A segunda palavra, disse o Papa, é renovar-se. Como Jesus “instava” com os doutores da lei para que saíssem da sua rigidez, disse, também agora a Igreja é “instada” pelo Espírito para que deixe as suas comodidades e amarras. “A renovação não nos deve meter medo. A Igreja está sempre em renovação (Ecclesia semper reformanda). Não se renova como lhe apetece, mas fá-lo ‘sólida e firme na fé, sem se deixar afastar da esperança do Evangelho que ouviu’ (cf. Col 1, 23)”.
Ora, sublinhou o Papa, a renovação implica sacrifício e coragem, não para que os fiéis se considerem melhores ou impecáveis, mas para responderem melhor ao chamado do Senhor. “O Senhor do sábado, a razão de ser de todos os nossos mandamentos e preceitos, convida-nos a ponderar as normas quando está em jogo segui-Lo a Ele; quando as suas chagas abertas, o seu grito de fome e sede de justiça nos interpelam e impõem respostas novas”.
E, na Colômbia, observou Francisco, há tantas situações que reclamam, dos discípulos, o estilo de vida de Jesus, particularmente o amor traduzido em atos de não-violência, de reconciliação e de paz.
Envolver-se
A terceira palavra e última palavra é envolver-se. Envolver-se, disse Francisco, ainda que para alguns isso pareça sujar-se, manchar-se. Como Davi e os seus homens que entraram no templo porque tinham fome e os discípulos de Jesus entraram na seara e comeram as espigas, também hoje aos cristãos é pedido que cresçam em ousadia, numa coragem evangélica que brota de saber que são muitos os que têm fome, fome de Deus, fome de dignidade, porque dela foram despojados. E, como cristãos, ajudá-los a saciar-se de Deus; não lhes dificultar nem proibir esse encontro.
“Não podemos ser cristãos, que levantam continuamente a bandeira de ‘Passagem Proibida’, nem considerar que esta parcela é minha, apoderando-me de algo que absolutamente não é meu. A Igreja não é nossa, é de Deus; Ele é o dono do templo e da seara; todos têm um lugar, todos são convidados a encontrar, aqui e entre nós, o seu alimento”, advertiu o Papa.
Francisco destacou que os fiéis são os meros “servidores” (cf. Col 1, 23) e não podem ser quem dificulta esse encontro. Pelo contrário, Jesus pede a cada um como fez aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16); tal é o nosso serviço. Bem compreendeu isto Pedro Claver, celebrado hoje na Liturgia. “Escravo dos negros para sempre”: foi o seu lema de vida, porque compreendeu, como discípulo de Jesus, que não podia ficar indiferente perante o sofrimento dos mais abandonados e ultrajados do seu tempo, mas tinha de fazer algo para o aliviar.
Comprometer-se com ousadia
“Irmãos e irmãs, a Igreja na Colômbia é chamada a comprometer-se, com mais ousadia, na formação de discípulos missionários, como foi indicado por nós, Bispos reunidos em Aparecida no ano de 2007. Discípulos que saibam ver, julgar e agir, como propunha aquele documento latino-americano que nasceu nestas terras (cf. Medellín, 1968). Discípulos missionários que sabem ver sem miopias hereditárias; que examinam a realidade com os olhos e o coração de Jesus, e julgam a partir daí. E que arriscam, atuam, comprometem-se”, afirmou Francisco.
O Papa disse que foi à Colômbia precisamente para confirmar os fiéis na fé e na esperança do Evangelho: “permanecei firmes e livres em Cristo, de tal modo que O espelheis em tudo o que fizerdes; abraçai com todas as vossas forças o seguimento de Jesus, conhecei-O, deixai-vos convocar e instruir por Ele, anunciai-O com grande alegria”.
E concluiu pedindo a intercessão de Nossa Senhora da Candelária, para que acompanhe cada fiel no caminho de discípulo, afim de que, colocando sua vida em Cristo, seja simplesmente missionário que leve a todos a luz e a alegria do Evangelho.