Viagem apostólica

Papa defende integração em visita a comunidade cigana na Eslováquia

“Colocar as pessoas em guetos não resolve nada”, disse o Papa em visita à comunidade cigana, que vive submetida à pobreza na periferia da cidade eslovaca de Košice

Jéssica Marçal
Da Redação

Papa saúda a comunidade cigana no bairro Luník IX, na cidade de Košice, Eslováquia / Foto: REUTERS/Remo Casilli

Uma mensagem de acolhimento e diálogo, que vai contra preconceitos e a marginalização. Assim foi o discurso do Papa Francisco no encontro com a Comunidade Rom, no bairro Luník IX, na cidade de Košice, Eslováquia. O bairro na periferia da cidade reúne cerca de cinco mil pessoas de origem cigana, submetidas a uma condição de degradação e pobreza.

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Antes do discurso de Francisco, alguns testemunhos de ciganos da comunidade. Foram dois casais que falaram para o Papa sobre a realidade da vida ali. Mencionaram as dificuldades, mas também o auxílio prestado pela Igreja.

Ninguém deve se sentir estranho ou marginalizado na Igreja, frisou o Papa logo no início de sua fala. A Igreja é uma família de irmãos e irmãs com o mesmo Pai. O Pontífice ressaltou que a Comunidade de Rom tem um grande amor e respeito pela família. “Por isso – digo-vo-lo do coração – sede bem-vindos! Senti-vos sempre de casa na Igreja e nunca tenhais medo de habitar nela”.

O Papa considerou que não é fácil ultrapassar os preconceitos, nem mesmo entre os cristãos. Mas lembrou que o Evangelho é claro ao trazer as palavras de Jesus: “Não julgueis” (Mt 7, 1). Mesmo assim, muitas vezes se fala sem provas, com uma posição de “juízes implacáveis” dos outros.

“Quantas vezes os juízos não passam realmente de preconceitos, quantas vezes adjetivamos! Deste modo desfiguramos com as palavras a beleza dos filhos de Deus, que são nossos irmãos. Não se pode reduzir a realidade do outro aos próprios modelos pré-concebidos, não se podem rotular as pessoas”.

Passar do preconceito ao diálogo e à integração

Francisco lembrou que esta comunidade cigana muitas vezes sofreu preconceitos e discriminações. Uma atitude que deixa todos mais pobres em humanidade. Mas em contrapartida, para recuperar a dignidade, é preciso passar do preconceito ao diálogo, do fechamento à integração.

“Juízos e preconceitos só aumentam as distâncias. Contrastes e palavras duras não ajudam. Colocar as pessoas em guetos não resolve nada. (…) O caminho para uma convivência pacífica é a integração. É um processo orgânico, lento e vital, que começa com o conhecimento mútuo, prossegue com a paciência e estende o olhar para o futuro”.

O Papa agradeceu a todos os que se dedicam à integração, um trabalho cansativo e tantas vezes marcado por incompreensão e ingratidão, mesmo da Igreja.

“Queridos sacerdotes, religiosos e leigos, queridos amigos que dedicais o vosso tempo a oferecer um desenvolvimento integral aos vossos irmãos e irmãs, obrigado! Obrigado por todo o trabalho com os marginalizados. Penso também nos refugiados e nos presos. A estes, em particular, e a todas as pessoas no mundo carcerário expresso a minha proximidade”.

Francisco encerrou o discurso com palavras de encorajamento. “Convido todos vós a ultrapassarem os medos, as feridas do passado, com confiança, passo a passo: no trabalho honesto, na dignidade de ganhar o pão de cada dia, no cultivo da confiança mútua. E na oração uns pelos outros, porque é isto que nos guia e fortalece”.

Ao final do discurso, Francisco convidou cada um, em sua própria língua, a rezar a oração do Pai Nosso. E na sequência, deu a benção apostólica a toda a comunidade.

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