À comunidade judaica

Papa reitera condenação a toda forma de antissemitismo

Papa encontrou-se com a comunidade judaica em Bratislava na Praça Rybné námestie, símbolo do sofrimento dos judeus eslovacos no século XX

Jéssica Marçal
Da Redação

Papa Francisco no encontro com a comunidade judaica na Praça Rybné námestie, em Bratislava / Foto: REUTERS/Remo Casilli

O Papa Francisco reiterou a condenação a todo tipo de violência e forma de antissemitismo ao encontrar-se nesta segunda-feira, 13, com a comunidade judaica na Eslováquia. Francisco discursou na Praça Rybné námestie, na capital Bratislava. O local é um símbolo do sofrimento dos judeus eslovacos no século XX.

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O encontro contou com o testemunho de um sobrevivente do holocausto. Nascido em maio de 1942, teve a família devastada pela lei anti-judaica. Muito cedo – aos três meses de vida – se viu separado do pai e somente após 50 anos soube que o pai morreu na Ucrânia. Ele contou que destino não lhe deu a oportunidade de rezar por seu pai em seu túmulo. A mãe também foi levada em 1944. Nos últimos 20 anos, ele se dedica à história do holocausto no sul da Eslováquia.

Outro testemunho foi de uma irmã ursulina, que relatou ao Papa e aos presentes a experiência das irmãs ursulinas no período da perseguição à comunidade judaica. Ela mencionou o orgulho e gratidão por cada eslovaco que abriu as portas para os irmãos judeus perseguidos. E destacou que hoje há uma vigorosa colaboração judaico-cristã, também entre as pessoas da vida cotidiana.

Discurso do Papa

O Santo Padre recordou a história da Praça: fez parte do bairro judeu, foi local de trabalho do célebre rabino Chatam Sofer, abrigou uma sinagoga. Mas também um local de sofrimento. Mais de 100 mil judeus eslovacos foram mortos durante o holocausto e a sinagoga foi demolida.

“Aqui o nome de Deus foi desonrado, porque a pior blasfémia que se lhe pode fazer é usá-lo para os próprios fins em vez de servir para respeitar e amar os outros”, disse o Papa. Francisco falou da vergonha em admitir que tantas vezes o nome de Deus foi usado para atos de desumanidade.

Para muitos, esse Memorial da Shoah é o único lugar onde podem honrar a memória de seus entes queridos, considerou o Papa. E frisou que a memória não pode nem deve ser esquecida. Também hoje, acrescentou, não faltam ídolos vãos e falsos que desonram o nome de Deus, como poder e dinheiro.

“Estejamos unidos – repito – na condenação de toda a violência, de todas as formas de antissemitismo, e no empenho por que não seja profanada a imagem de Deus na criatura humana”.

Esperança e caminho fraterno

Para além de um memorial que simboliza o sofrimento, na praça também brilha a luz da esperança, destacou o Pontífice. Todos os anos, os judeus lá acendem a primeira luz no castiçal Chanukiá. Segundo o Papa, uma mensagem de que a destruição e a morte não têm a última palavra. “E se a sinagoga deste lugar foi demolida, a comunidade está ainda presente; está viva e aberta ao diálogo”.

Nesse ponto do discurso, Francisco recordou o encontro em Roma, em 2017, com os representantes das comunidades judaicas e cristãs. Após a reunião, foi instituída uma Comissão para o diálogo com a Igreja Católica e importantes documentos conjuntos foram publicados.

“É bom partilhar e comunicar o que une. E é bom continuar, na verdade e com sinceridade, o caminho fraterno de purificação da memória para curar as feridas do passado, bem como a recordação do bem recebido e oferecido”.

Francisco encerrou o discurso com os votos de que a família dos filhos de Israel continue a cultivar o chamado a ser sinal de bênção para todas as famílias da terra. “Abençoe-vos o Todo-Poderoso para que unidos, no meio de tanta discórdia que polui o nosso mundo, possais ser sempre testemunhas de paz. Shalom!”

Ao final do discurso, o Papa participou de um breve momento de oração. 

Viagem apostólica

Esse foi o terceiro compromisso de hoje do Papa na capital eslovaca. Francisco começou o dia reunindo-se com as autoridades. Depois, falou à Igreja na Eslováquia, em um encontro com os bispos, padres, religiosos, seminaristas e catequistas locais. Também fez uma visita privada ao “Centro Belém”, onde as Irmãs da Caridade cuidam de desabrigados.

A agenda do Papa nesta segunda-feira se encerra na nunciatura apostólica, onde ele receberá o Presidente do Parlamento e o Primeiro Ministro.

Amanhã, a programação segue com uma visita à cidade de Košice, após a qual Francisco retorna à capital Bratislava. A viagem termina na quarta-feira, 15, após a Missa no Santuário Nacional.

 

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