Encontro

Papa às Clarissas: ter um coração sereno e fazer memória da vocação

Durante visita a Assis, na sexta-feira 12, o Papa foi ao Mosteiro de Santa Clara para saudar as Clarissas antes de ir ao encontro dos pobres na Basílica de Santa Maria dos Anjos

Da redação, com Vatican News

Papa durante visita a Assis nesta sexta-feira, 12/ Foto: IPA/ABACA via Reuters

“Tenho medo que o Senhor esteja passando e que eu não perceba, que Ele esteja passando”. Esta frase de Santo Agostinho é a premissa do discurso proferido pelo Papa Francisco às Clarissas no Mosteiro de Santa Clara em Assis. O Pontífice as visitou antes do encontro de oração na Basílica de Santa Maria dos Anjos. O Santo Padre exortou as religiosas a serem contemplativas atentas.

“A atenção”, explicou, “não é a de alguém que olha pela janela o que está acontecendo durante o dia: uma mente que pensa bem “não perde tempo em conversas vazias”. Para estar atento ao Senhor, é preciso ter “um coração sereno” e voltar com a memória ao momento da vocação, ao “que o coração sentiu naquele momento”: “a alegria de seguir Jesus, de acompanhá-lo”.

O Papa então convidou a fazer perguntas cruciais que estão ligadas precisamente ao tempo da vocação. “Por que fui chamada? Para fazer uma carreira? Para chegar àquele lugar, ou aquele outro? Não: para amar e deixar-me amar”.

Interceder pela Igreja

À serenidade da mente deve-se acrescentar também a das mãos que devem se mover não apenas para rezar, mas também “para trabalhar”. Francisco recordou o que São Paulo escreve em sua carta aos tessalonicenses: “Quem não trabalha, não come”. Quando a mente, o coração e as mãos fazem o que devem, o equilíbrio das consagradas “está cheio de amor e paixão”, destacou. E é fácil perceber “quando o Senhor passa, e não deixá-lo passar sem escutar o que ele quer dizer”. Seu trabalho, disse Francisco, é este:

“Carreguem nas costas os problemas da Igreja, as dores da Igreja e também – ouso dizer – os pecados da Igreja, nossos pecados, os pecados dos bispos, somos bispos pecadores, todos; os pecados dos sacerdotes; os pecados das almas consagradas… E levá-los diante do Senhor: ‘São pecadores, mas deixai-os ir, perdoai-os’, sempre com intercessão pela Igreja”.

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Não se deixar corromper pelo pecado

O perigo, acrescentou, não está em ser pecador, mas em se deixar corromper pelo pecado: “o corrupto é incapaz de pedir perdão”. O caminho desta corrupção, que leva a ver o pecado como “uma atitude normal”, tem apenas “um bilhete de ida, dificilmente um bilhete de volta”.

A vida dos pecadores, por outro lado, “sente a necessidade de pedir perdão”. “Esta “necessidade de pedir perdão nunca deve ser perdida”. O Pontífice exortou as religiosas a rezar para que “a Igreja não seja corrupta”. Irmãs, padres e bispos corruptos são de “altíssima qualidade”, porque – afirmou, citando um ditado – “Corruptio optimi pessima”, ou seja, “a corrupção dos melhores é péssima, é a pior”. Ao invés disso, é necessário ter sempre “a humildade de se sentir pecador, porque o Senhor sempre perdoa, ele olha para o outro lado”. Ele perdoa tudo”.

Nunca deixe de pedir perdão

Francisco lembrou então das palavras que lhe foram ditas por um confessor capuchinho que agora tem 94 anos de idade em Buenos Aires. Ainda hoje, há muitas pessoas em seu confessionário: “homens, mulheres, crianças, jovens, trabalhadores, sacerdotes, bispos, freiras, tudo, todo o rebanho do povo de Deus vai se confessar a ele porque ele é um bom confessor”.

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Um dia, este religioso tinha ido ao episcopado e dito ao futuro Pontífice: “Às vezes me sinto mal porque perdoo demais”. “Vou à capela, olho para o tabernáculo: ‘Senhor, perdoa-me, já perdoei demais’! Mas a certa altura me dou conta: “Mas cuidado: porque foi você quem me deu o mau exemplo”! Recordando estas palavras do sacerdote, o Papa enfatizou que Deus “só pede nossa humildade ao pedir perdão”.

Rezem para que os sacerdotes possam ser pastores e não administradores

Francisco dirigiu então uma exortação especial às Clarissas: “Pensem na Igreja. Pensem nos idosos, nos avós, que muitas vezes são material descartado”. “Pensem nas famílias, o quanto as mães e os pais têm que trabalhar para conseguir o sustento, para ter comida. Rezar pelas famílias para que saibam educar bem seus filhos. Pensem nas crianças, nos jovens e nas muitas ameaças de mundanismo que causam tantos danos. E rezem pela Igreja. Pensem nas irmãs, nas mulheres consagradas como vocês, naquelas que devem trabalhar em escolas e hospitais. Pensem nos sacerdotes. Teresinha entrou no Carmelo para rezar pelos padres: nós precisamos, precisamos de orações”.

“Rezem”, concluiu o Papa, “para que saibamos ser pastores e não administradores: que os padres sejam bispos, sacerdotes, possam ter esta pastoralidade, serem pastores”.

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