No discurso de Encerramento do Fórum do Bahrein para o Diálogo, Papa convidou a considerar o Documento final onde se almeja um encontro fecundo entre Ocidente e Oriente
Da Redação, com Vatican News
O primeiro compromisso da manhã desta sexta-feira, 4, do Papa Francisco no Bahrein foi a participação no Encerramento do Fórum “Oriente e Ocidente em prol da Coexistência Humana”.
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O Pontífice iniciou seu discurso recordando que a terra vista do alto apresenta-se como um vasto mar azul, que liga margens distintas. “Do céu, parece recordar-nos que somos uma família: não ilhas, mas um único grande arquipélago. É assim que o Altíssimo nos quer, e bem pode simbolizar o seu anseio este país, um arquipélago de mais de trinta ilhas”.
Entre dois mares de sabores opostos
Francisco Recordou também que a humanidade possui várias formas de continuamente se interligar mas se apresenta bem mais dividida do que unida. “E o nome do ‘Bahrein’ pode ajudar-nos a ir mais longe na nossa reflexão: os ‘dois mares’, que evoca, referem-se às águas doces das suas nascentes submarinas e às águas salobras do Golfo. De modo semelhante, encontramo-nos hoje perante dois mares de sabor oposto: por um lado, o mar calmo e doce da convivência comum, por outro, o mar amargo da indiferença, afligido por confrontos e agitado por ventos de guerra, com as suas devastadoras ondas sempre mais tumultuosas, com o risco de nos arrastar a todos”.
Com esse pensamento, Francisco lamentou que o Oriente e o Ocidente tenham se assemelhado cada vez mais a dois mares contrapostos. Na ocasião, encorajou os presentes afirmando que sua estadia no país é sinal de que pretende navegar no mesmo mar, escolhendo a rota do encontro ao invés do confronto, o caminho do diálogo indicado por este Fórum.
O paradoxo mundial
“Impressiona este paradoxo: enquanto a maior parte da população mundial se encontra unida pelas mesmas dificuldades, atormentada por graves crises alimentares, ecológicas e pandêmicas, bem como por uma injustiça planetária cada vez mais escandalosa, uns poucos poderosos concentram-se decididamente numa luta por interesses de parte, desenterrando linguagens obsoletas, redesenhando áreas de influência e blocos contrapostos”.
O Santo Padre aludiu também que se as oposições forem acentuadas sem a redescoberta da compreensão, acentuando a falta de distinção entre quem é bom e quem é mal, se não houver esforços para compreender e colaborar para aquilo que é o bem comum, verão multiplicar amargar consequências. “Estas opções estão diante de nós, porque, num mundo globalizado, só se avança remando juntos; ao passo que, navegando sozinho, vai-se à deriva.”
Documento da Fraternidade Humana
Francisco convidou a considerarem o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, onde se almeja um encontro fecundo entre Ocidente e Oriente. “Encontramo-nos aqui, crentes em Deus e nos irmãos, para rejeitar ‘o pensamento isolante’, aquele modo de ver a realidade que ignora o mar único da humanidade para se concentrar apenas nas suas próprias correntes”.
Ao falar sobre os temas debatidos durante o Fórum, o Papa disse que os líderes religiosos não poderiam deixar de se comprometer e dar bom exemplo.
Ao fim do assunto, Francisco lançou a possibilidade de pensarem três desafios que sobressaíssem o documento sobre a Fraternidade Humana e da Declaração do Reino do Bahrein, nos quais se refletiu nestes dias sobre respeito, oração, educação e ação.
Oração e Coração
Lembrando a Encíclica Gaudium et spes, o Papa recordou que é a oração que toca o coração do homem. “Na realidade, os dramas que sofremos e as perigosas dilacerações que experimentamos, os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem’”, disse. Acrescentou ainda que a oração é a abertura do coração ao Altíssimo, é fundamental para a purificação do egoísmo, do isolamento, da autorreferencialidade, das falsidades e da injustiça.
“Quem reza, recebe no coração a paz, não podendo deixar de se fazer sua testemunha e mensageiro, convidando os seus semelhantes para não se tornarem reféns de um paganismo que reduz o ser humano àquilo que vende, compra ou com que se diverte, mas redescobrirem a dignidade infinita que cada um traz impressa.”
Liberdade religiosa
Porém, afirmou ainda o Papa “para que isso possa acontecer, há uma premissa indispensável: a liberdade religiosa. A Declaração do Reino do Bahrein explica que ‘Deus nos orientou para o dom divino da liberdade de opção’ e, por conseguinte, ‘qualquer forma de coerção religiosa não pode levar a pessoa a uma relação significativa com Deus’”.
Francisco afirmou que todo tipo de coerção não vem do Onipotente, pois Ele não entregou o mundo a escravos, mas a criaturas livres, a quem respeita profundamente.
Educação e mente
“Se o desafio da oração tem a ver com o coração, o segundo desafio – a educação – diz respeito essencialmente à mente do homem” afirmou o Papa. “A Declaração do Reino do Bahrein afirma que ‘a ignorância é inimiga da paz’. É verdade que, onde faltam oportunidades de instrução, aumentam os extremismos e radicam-se os fundamentalismos”.
O Pontífice acredita que é indigno da mente humana crer que as razões da força prevalecem sobre a força da razão. Ao usar métodos do passado para as questões presentes, aplicar os esquemas da técnica e da conveniência à história e à cultura do homem, o Santo Padre explicou que isto requer questionar-se, entrar em crise e saber dialogar com paciência, respeito e espírito de escuta; aprender a história e a cultura alheia. “Assim se educa a mente do homem, alimentando a compreensão recíproca. Porque não basta dizer que somos tolerantes, é preciso abrir verdadeiramente espaço ao outro, dar-lhe direitos e oportunidades”.
Urgências educativas
O Pontífice descreveu em seguida três urgências educativas: “Em primeiro lugar, o reconhecimento da mulher na esfera pública: reconhecer o seu direito ‘à instrução, ao trabalho, ao exercício dos seus direitos políticos’. Em segundo lugar, “‘a tutela dos direitos fundamentais das crianças’, para que cresçam instruídas, assistidas, acompanhadas, não condenadas a viver nos mordimentos da fome e nos remordimentos da violência”. Por fim, em terceiro lugar, “a educação para a cidadania, para viver juntos, no respeito e na legalidade. E, em particular, a importância do ‘conceito de cidadania’, que ‘se baseia na igualdade dos direitos e dos deveres’”.
Ação e as forças do homem
Para concluir, falou sobre o último dos três desafios: aquele que diz respeito às ações poderosas: as forças humanas. A Declaração do Reino do Bahrein ensina que, quando se prega ódio, violência e discórdia, profana-se o nome de Deus. “Com efeito, não basta dizer que uma religião é pacífica, é preciso condenar e isolar os violentos que abusam do seu nome. E não basta sequer distanciar-se do extremismo, é preciso agir em sentido contrário”. E disse com firmeza:
“Por isso, é necessário interromper o apoio aos movimentos terroristas através do fornecimento de dinheiro, de armas, de planos ou justificações e também da cobertura midiática, e considerar tudo isto como crimes internacionais que ameaçam a segurança e a paz mundial. É preciso condenar tal terrorismo em todas as suas formas e manifestações”
No final do discurso, o Papa disse que o homem religioso, da paz, opõe-se também à corrida ao rearmamento, aos negócios da guerra, ao mercado da morte. Não sustenta alianças contra ninguém, mas apoia caminhos de encontro com todos: sem ceder a relativismos ou sincretismos de qualquer espécie, segue apenas uma estrada, a da fraternidade, do diálogo, da paz. Estes são os seus ‘sins’.
Da Praça Al-Fida’ no Palácio Real de Sakhir em Awali, Bahrein, a voz do Papa sobe aos céus ao lançar um novo e sentido apelo ‘pelo fim da guerra na Ucrânia e por sérias negociações de paz'”.