Francisco enviou sua bênção aos participantes do tradicional Encontro para a Amizade entre os Povos
Da redação, com Vatican News
Através da mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, o Papa Francisco enviou sua bênção aos participantes do tradicional Encontro para a Amizade entre os Povos.
O evento terá início nesta sexta-feira, 20, na modalidade presencial. O texto foi enviado a Dom Francesco Lambiasi, bispo de Rímini. O Pontífice manifestou sua felicidade pelo encontro ser realizado “em presença”.
A mensagem de Francisco foi direcionada ao bispo, aos organizadores e a todos os participantes. Ele os saudou e fez votos de um fecundo desenvolvimento.
O título escolhido – “A coragem de dizer eu” – foi extraído do Diário do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Segundo Dom Parolin, quem assina a mensagem, o tema ganha relevância no momento em que se trata de recomeçar com o passo certo.
Liberdade
Segundo o cardeal, é preciso não desperdiçar a oportunidade proporcionada pela crise pandêmica. “’Reiniciar’ é a palavra de ordem. Mas isso não acontece automaticamente, porque em cada iniciativa humana está envolvida a liberdade”.
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É então que o purpurado recorda Bento XVI: “A liberdade pressupõe que cada homem nas decisões fundamentais […] seja um novo começo. […] A liberdade deve ser conquistada sempre de novo para o bem” (Enc. Spe Salvi, 24).
Nesse sentido, Dom Parolin destaca que a coragem de arriscar é antes de tudo um ato de liberdade.
Durante o primeiro lockdown, o cardeal lembra que o Papa Francisco chamou todos ao serviço dessa liberdade: “Pior do que esta crise, há somente o drama de desperdiçá-la” (Homilia de Pentecostes, 31 de maio de 2020).
Sentido da existência e utilidade de viver
Ao mesmo tempo que impôs um distanciamento físico, a pandemia recolocou no centro a pessoa, o eu de cada um, escreveu.
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Tal situação, prosseguiu o purpurado, provoquem muitos casos um despertar das perguntas fundamentais sobre o sentido da existência e sobre a utilidade de viver. Por longo tempo, tais questionamentos estavam latentes, ou mesmo censurados.
Suscitou também o senso de uma responsabilidade pessoal, acrescenta. “Muitos testemunharam isso em diferentes situações. Diante da doença e da dor, diante do surgimento de uma necessidade, muitas pessoas não se esquivaram e disseram: ‘Eis-me aqui’”.
Egoísmo, idolatrias, poder e dinheiro
A sociedade, aponta Dom Parolin, tem uma necessidade vital de pessoas que sejam presenças responsáveis. “Sem pessoa não há sociedade, mas um agregado casual de seres que não sabem porque estão juntos”.
Desta forma, o cardeal alerta que o único agregador permaneceria o egoísmo do cálculo e do interesse particular que torna indiferentes a tudo e a todos.
“Ademais, as idolatrias do poder e do dinheiro preferem lidar com indivíduos antes do que com pessoas, ou seja, com um ‘eu’ concentrado nas próprias necessidades e nos próprios direitos subjetivos antes de um ‘eu’ aberto aos outros, voltado a formar o ‘nós’ da fraternidade e da amizade social”.
O Santo Padre não se cansa de alertar aqueles que têm responsabilidades públicas contra a tentação de usar a pessoa e de descartá-la quando ela não é mais necessária, em vez de servi-la, ressalta Dom Parolin.
Pessoa: ponto de partida para recomeçar
Depois do que vivemos neste tempo, o purpurado afirma a pessoa é o ponto a partir do qual tudo pode recomeçar.
“Certamente existe a necessidade de encontrar recursos e meios para colocar em movimento a sociedade, mas antes de tudo há a necessidade de alguém que tenha a coragem de dizer ‘eu’ com responsabilidade e não com egoísmo, comunicando com a própria vida para que é possível começar o dia com esperança confiável”, ressalta.
A coragem nem sempre é um dom espontâneo, destaca o cardeal. Ninguém pode dá-la a si mesmo (como dizia padre Abbondio), especialmente em uma época como essa em que o medo – revelador de uma profunda insegurança existencial – desempenha um papel tão decisivo.
O medo, prossegue, bloqueia tantas energias e impulsos em direção ao futuro, percebido cada vez mais como incerto, sobretudo pelos jovens.
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Perigo da dúvida e comodismo
Nesse sentido, Dom Parolin cita o Servo de Deus Luigi Giussani. Ele advertiu para um duplo perigo: “O primeiro perigo […] é a dúvida. Kierkegaard observa: ‘Aristóteles diz que a filosofia começa com a admiração, e não como em nossos tempos com a dúvida’”.
A dúvida sistemática é, por assim dizer, o símbolo de nosso tempo, explica o purpurado.
A segunda objeção à decisão do eu é a mesquinhez. “Dúvida e comodismo, esses são os nossos dois inimigos, os inimigos do eu” (In cammino 1992˗1998, Milano 2014, 48˗49), ressalta.
O cardeal questiona: “De onde pode vir, então, a coragem de dizer que eu?”. Segundo ele, vem graças àquele fenômeno chamado encontro:
“Somente no fenômeno do encontro se dá a possibilidade ao eu de decidir, de se tornar capaz de acolher, de reconhecer e de acolher. A coragem de dizer “eu” nasce diante da verdade, e a verdade é uma presença” (ibid., 49).
Seguir Jesus
Desde o dia em que se fez carne e veio habitar entre nós, Deus deu ao homem a oportunidade de sair do medo e de encontrar a energia do bem seguindo seu Filho, morto e ressuscitado, frisa Dom Parolin.
Segundo o purpurado, são iluminadoras as palavras de São Tomás de Aquino quando afirma que “a vida do homem consiste no afeto que principalmente o sustenta e na qual encontra a maior satisfação” (Summa Theologiae, II-II, q. 179, a. 1 co. ).
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A relação filial com o Pai Eterno, que se faz presente nas pessoas alcançadas e transformadas por Cristo, dá consistência ao eu, libertando-o do medo e abrindo-o ao mundo com uma atitude positiva, escreve.
Essa relação gera uma vontade de bem e infunde a coragem da esperança: “O encontro com Cristo, o deixar-se conquistar e guiar pelo seu amor alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme que não desilude”. (ID., Enc. Lumen fidei, 53).
Coragem do cristão: Cristo
A razão profunda da coragem do cristão é Cristo. O Senhor Ressuscitado, afirma o cardeal, é segurança, gera uma paz profunda mesmo em meio às tempestades da vida.
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Segundo Dom Parolin, o Papa Francisco faz votos que durante a semana do encontro, os organizadores e convidados deem um testemunho vivo, fazendo sua tarefa indicada no documento programático do seu pontificado:
“Muitos buscam a Deus secretamente, movidos pela saudade de seu rosto, mesmo em países de antiga tradição cristã. […] Os cristãos têm o dever de anunciá-lo sem excluir ninguém, não como quem impõe uma obrigação nova, mas sim como quem partilha uma alegria, mostra um belo horizonte, oferece um banquete desejável” (Exortação apostólica Evangelii Gaudium, 14).