Na homilia desta quinta-feira, 8, Francisco destacou três palavras: testemunho, murmuração e pergunta
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco celebrou a missa, nesta quinta-feira, 8, na Casa Santa Marta, e em sua homilia destacou três palavras: testemunho, murmuração e pergunta. A reflexão se desenvolveu a partir do Evangelho de Lucas, da liturgia do dia: “Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus”, resumiu Francisco, que destacou a fala dos fariseus: “Este homem [Jesus] acolhe os pecadores e faz refeição com eles”.
O Pontífice iniciou a homilia citando Jesus e seu testemunho sobre uma novidade para aquele tempo. “Encontrar os pecadores tornava a pessoa impura, assim como tocar um leproso. Por isso, os doutores da lei se distanciavam”, comentou. Francisco observou que nunca na história, o testemunho foi algo confortável para as testemunhas, que muitas vezes pagam com o martírio, para os poderosos.
“Testemunhar é romper um costume, uma maneira de ser. Romper para melhorar, para mudar. Por isso, a Igreja vai adiante para testemunhar. O que atrai é o testemunho, não as palavras, que certamente ajudam, mas o testemunho é o que atrai e faz a Igreja crescer. Jesus testemunha. É algo novo, mas não muito novo, porque a misericórdia de Deus existe desde o Antigo Testamento. Os doutores da lei nunca entenderam isso: ‘Eu quero misericórdia e não sacrifícios’. Eles liam, mas não entendiam o significado da misericórdia. Jesus com sua maneira de agir, proclama essa misericórdia com o testemunho”, sublinhou o Santo Padre.
O testemunho de Jesus provocou murmuração, apontou o Pontífice, que destacou a negativa postura dos fariseus, escribas, e doutores da lei, que criticavam Jesus por acolher os pecadores e fazer refeição com eles, ao invés de o verem como um homem bom, por buscar converter os pecadores. “Um comportamento que consiste em fazer sempre um comentário negativo para destruir o testemunho”, afirmou.
Segundo o Pontífice, o pecado da murmuração é cotidiano, tanto no pequeno quanto no grande, e surge quando as pessoas não gostam disso e daquilo, e, ao invés de dialogar, tentam resolver uma situação conflituosa, murmurando escondido, sempre em voz baixa, por falta de coragem para falar claramente.
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“Assim, acontece também nas pequenas sociedades, nas paróquias. Quanto se murmura nas paróquias? Por muitas coisas”, disse o Papa, evidenciando que o “não gostar” de algo ou alguém, desencadeia a falação. “Isso é feio. Quando um governo não é honesto, procura sujar os adversários com a murmuração. Que seja difamação, calúnia, procura sempre. Vocês conhecem bem os governos ditadores, pois viveram isso. O que faz um governo ditador? Primeiro, toma os meios de comunicação com uma lei e dali começa a murmurar, a menosprezar todos aqueles que são um perigo para o governo. O murmúrio é o nosso pão cotidiano no âmbito pessoal, familiar, paroquial, diocesano, social”.
De acordo com o Pontífice Jesus, ao invés de condenar pela murmuração, faz uma pergunta: “Usa o mesmo método que eles usam, ou seja, o de fazer perguntas. Eles fazem perguntas para colocar Jesus em dificuldade, com má intenção, para fazê-lo cair: por exemplo, com uma pergunta sobre os impostos a serem pagos ao império ou sobre repudiar a própria esposa. Jesus usa o mesmo método, mas depois vemos a diferença. Jesus lhes diz: Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la?”.
O Santo Padre recordou que, ao invés de entenderem, os fariseus fizeram cálculos e afirmara: “Eu tenho 99, uma se perdeu, está chegando o pôr do sol. Começa a escurecer: ‘Deixemos pra lá aquela perdida e entre perdas e ganhos teremos lucro. Salvemos estas'”. O Papa apontou a resposta como uma lógica farisaica, de escolha contrária a de Jesus. .
“Eles escolhem o contrário de Jesus. Por isso, não conversam com os pecadores, com os publicanos, não vão até eles porque: ‘É melhor não se sujar com essa gente, é um risco. Conservemos os nossos’. Jesus é inteligente em lhes faz essa pergunta: entra na sua casuística, mas os deixa numa posição diferente em relação àquela justa. ‘Qual de vocês? Ninguém diz: ‘Sim, é verdade’, mas todos: ‘Não, não o farei’. Por isso, são incapazes de perdoar, de serem misericordiosos, de receber”, explicou Francisco.
Por fim, o Papa recordou mais uma vez as três palavras de sua reflexão: “testemunho”, que provoca e faz a Igreja crescer, “murmuração”, que é como uma guarda interior para que o testemunho não penetre, e “a pergunta” de Jesus. O Papa também recordou as palavras alegria e festa: “Todos aqueles que seguem o caminho dos doutores da lei não conhecem a alegria do Evangelho”, sublinhou o Pontífice, que concluiu com a seguinte frase: “Que o Senhor nos faça entender essa lógica do Evangelho contrária à lógica do mundo”.