Migração e crise na Venezuela foram dois dos temas abordados pelo Papa durante coletiva de imprensa no voo
Da Redação, com Rádio Vaticano
Em sua viagem de retorno à Colômbia nesta segunda-feira, 11, o Papa Francisco, como de costume, concedeu uma entrevista coletiva aos jornalistas que o acompanham no voo. Francisco abriu a coletiva com uma consideração espontânea sobre a viagem e depois foram abordados temas atuais, como a situação na Venezuela, imigrações nos Estados Unidos, situação dos migrantes e o clima.
Como de costume, as perguntas de início cabem aos jornalistas do país; dois dos jornalistas pediram a Francisco que se expressasse sobre a Colômbia pós-acordo de paz e sobre a questão da corrupção.
A guerrilha, afirmou o Papa, foi “uma doença”, mas reconheceu a existência de “passos que dão esperança”. O Santo Padre acrescentou ter percebido que a vontade de seguir adiante neste processo vai além das negociações, “é uma vontade espontânea”, e aí, assegurou, “existe a força do povo”, que porém “deve ser ajudado com a proximidade e a oração” e “com a compreensão”.
A questão da corrupção é um dos temas fortes do Pontificado e Francisco recordou o livro escrito sobre o tema e também as convicções já expressas sobre o corrupto, pessoa – reiterou – que “se cansa de pedir o perdão e se esquece de pedi-lo” a Deus que não lhe negaria e que, em todo caso, é o único que pode salvar uma pessoa que se encontra nessa situação.
O tema do povo protagonista de seu destino voltou na resposta aos jornalistas de língua espanhola, que lhe perguntaram se era possível “replicar o modelo Colômbia”, ou seja, de uma negociação com mais vozes participantes.
Certamente, já aconteceu, confirmou o Papa, mas o fato é que mais do que a ONU, mais do que políticos ou técnicos, “um processo de paz seguirá adiante se o povo o assume”. Do contrário, serão “compromissos” pouco resolutivos, acrescentou.
Desastres ambientais e responsabilidade
Outro tema abordado na coletiva foi um tema bem marcante no Pontificado de Francisco: a questão ambiental. Os sucessivos furacões em breve espaço de tempo que estão destruindo amplas áreas da América Central são um drama que, reafirmou, chama cada um a suas “responsabilidades morais”, inclusive os governantes. Basta consultar os cientistas, eles “são muito claros”, indicou.
Imigrados, reconhecimento à Itália e Grécia
Os jornalistas italianos quiseram saber a posição do Papa em relação à falta de prontidão dos governos no que diz respeito à imigração. Perguntaram o porquê de não serem solícitos como se deveria, quando, ao invés, o são, por exemplo, sobre a venda de armas.
Porque o homem “é estúpido”, rebateu o Papa citando a Bíblia, e quando decide não enxergar “não vê”. Sobre a gestão dos migrantes que partem da Líbia, o Santo Padre disse não ter tratado do tema durante o encontro com o premier italiano Gentiloni e, sobretudo, sentir um “dever de gratidão” para com a Itália e a Grécia “porque abriram o coração aos migrantes”. Abertura, precisou, que não pode prescindir da capacidade de cada país singularmente considerado. Todavia, insistiu o Pontífice, a verdadeira questão em jogo é “a integração” ou o seu oposto.
“Coração sempre aberto, paciência, integração e proximidade humanitária”, indicou, convidando a humanidade a tomar “consciência” dos “lagers no deserto” onde se infringem os sonhos de tantos migrantes e reconhecendo o fato de o governo italiano estar “fazendo de tudo para resolver problemas humanitários, inclusive aqueles que não pode resolver”.
Durante a coletiva, o Papa fez um aceno também à África, sobre o qual recai ainda uma convicção radicada, ou seja, que se trata de um continente a ser explorado, ao invés de ser ajudado a reerguer-se.
Trump e Maduro
Ainda sobre a migração, Francisco foi interpelado também acerca da abolição da lei estadunidense “Dreamers” (que elimina as proteções queridas por Obama para 800 mil menores imigrantes ilegalmente).
Embora reconhecendo não conhecer profundamente os termos, o Pontífice espera uma reconsideração do governo. “Sei que o presidente estadunidense”, observou “se apresenta como homem pro-life. Se é um bom pro-life, entende, a família é o berço da vida e sua unidade deve ser defendida”, vez que se tiram as raízes dos jovens, observou, drogas, dependências e suicídios tornam-se as terríveis saídas que eles encontram.
Sobre a questão venezuelana, que tem muito a peito, Francisco ressaltou que “a Santa Sé falou forte e claramente” e que acerca das declarações do presidente Maduro cabe a ele explicá-las. O que é “mais doloroso” para Francisco é o “problema humanitário” e sobre isso a Onu “deve fazer ouvir a sua voz” para dar uma ajuda, frisou.
A Colômbia tem futuro
Após cerca de 40 minutos de coletiva, uma momentânea turbulência induziu a interromper o diálogo com os jornalistas. A esse ponto, Francisco escolheu despedir-se como havia iniciado o encontro, falando sobre como a Colômbia o impressionou.
Impressionado em particular com os pais e mães que levantavam seus filhos quando ele passava para que fossem vistos e abençoados. Esse “é um símbolo de futuro, de esperança”, concluiu. Um povo “capaz de fazer crianças e depois mostrá-las como se fossem tesouro, esse é um povo que tem esperança e tem futuro”.