Nos dois países africanos que visitou recentemente, o Papa compartilhou com os jesuítas locais suas preocupações sobre as guerras
Da redação, com Vatican News
O Vaticano publicou, nesta quarta-feira, 16, o relato de como foi o encontro do Papa Francisco com os jesuítas, na ocasião de sua visita à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, realizada no início de fevereiro. Entre os temas abordados no encontro, estavam os conflitos, a crueldade da violência, a proteção do patrimônio natural, os males da Igreja e o sonho da África.
No dia 2 de fevereiro, o Pontífice encontrou-se com 82 jesuítas que trabalham no Congo, guiados pelo padre provincial Rigobert Kyungu, na sede da nunciatura apostólica, em Kinshasa. Dentre os presentes, estava o bispo de Inongo, o jesuíta Donat Bafuidinsoni.
O mundo está em guerra
Na conversa, a questão da missão de reconciliação e justiça (uma das opções preferenciais da Companhia de Jesus) ganhou muita atenção. “Aqui é forte o tema do conflito, das lutas entre facções. Mas abramos os olhos ao mundo: o mundo inteiro está em guerra”, sublinhou Francisco, recordando as situações na Síria, Iêmen, Mianmar, América Latina e Ucrânia.
O Papa disse que a humanidade segue rumo ao abismo, se faltar a coragem para deter a guerra. “Será que a humanidade terá coragem, força ou mesmo oportunidade de voltar atrás? Segue-se adiante, adiante rumo ao abismo. Não sei: é uma pergunta que me faço. Lamento dizer isto, mas sou um pouco pessimista.”
Produção de armas
O Santo Padre afirmou que, atualmente, o principal problema parece ser a produção de armas. “Ainda há tanta fome no mundo e nós continuamos a fabricar armas. É difícil voltar atrás dessa catástrofe. Pra não falar de armas atômicas! Acredito ainda num trabalho de persuasão”, disse aos jesuítas congoleses.
E repetiu aos jesuítas do Sudão do Sul que a cultura atual é também uma “cultura pagã de guerra”, onde importa quantas armas se têm. “São todas formas de paganismo”, enfatizou.
Bioma do Congo
Sobre a questão ambiental, o Papa destacou a bacia do rio Congo, segundo pulmão verde do planeta depois da Amazônia, que também está ameaçado pelo desmatamento, pela poluição e a exploração intensa e ilegal.
Questionado se poderia fazer um Sínodo sobre esta região como o da Amazônia, ele respondeu que não haverá um Sínodo, mas que certamente seria bom que a Conferência Episcopal se comprometesse sinodalmente em nível local, porque o equilíbrio planetário depende também da saúde do bioma do Congo.
Cuidar das feridas
Quanto às liturgias vividas no país, Francisco expressou seu apreço pelo rito congolês, afirmando ser uma obra-prima, realizada não como uma adaptação, mas como “uma realidade poética, criativa”.
Em seguida, voltou à imagem da Igreja como um hospital de campanha, enfatizando que uma das piores coisas na Igreja é o autoritarismo, “espelho de uma sociedade ferida pela mundanidade e pela corrupção”.
E acrescentou: “A Igreja não é uma multinacional da espiritualidade. Olhem os santos! Curem, cuidem das feridas que o mundo vive! Sirvam as pessoas! A palavra ‘servir’ é muito inaciana. ‘Em tudo, amar e servir’ é o lema inaciano. Quero uma Igreja do serviço”, apontou o Papa.