Scalabriniana comenta visita do Papa a Florença – que acontece neste domingo, 27, para o evento “Mediterrâneo: Fronteira de Paz” e encontro previsto com famílias de migrantes e refugiados
Julia Beck
Da redação
Neste domingo, 27, o Papa Francisco se encontrará com famílias de migrantes e refugiados em Florença, cidade italiana. O compromisso foi programado após o Santo Padre anunciar a sua presença no evento “Mediterrâneo: Fronteira de Paz”, que contará com a participação de bispos e prefeitos daquela região.
O evento será dedicado a questões e dinâmicas que são particularmente relevantes e de impacto para as cidades, vilas e comunidades ribeirinhas do Mar Mediterrâneo. Algumas delas são: a reconstrução de cidades destruídas pela violência, a acolhida de migrantes e refugiados, a promoção do encontro e da comunhão entre Igrejas irmãs.
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Opção e compromisso com os migrantes
A opção e o compromisso para com quem precisa migrar é perceptível desde o início do pontificado de Francisco, indica a scalabriniana Irmã Rosa Maria Martins. A Congregação dos Missionários Scalabrinianos, a qual a religiosa integra, é empenhada na causa dos migrantes e refugiados.
Irmã Rosa recorda a primeira viagem do Pontífice a Lampedusa. Na ilha, ele encontrou-se com migrantes. Ela ressalta que toda vez que que o Santo Padre fala e faz um gesto em favor dos refugiados, está indicando e ensinando a Igreja como deve viver a sua missão.
“Mas não é só para a Igreja, mas para a sociedade, a política, o mundo em geral. Esse modo de ser de Francisco se torna um ensino social da Igreja. Uma instituição que sempre esteve ao lado dos pobres, mendigos, povo da rua, dos marginalizados, dos migrantes e refugiados, de todas as causas sociais como um todo”, aponta.
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As atitudes do Papa são, de acordo com a religiosa, Encíclicas vivas, Evangelho vivo, Ensino Social que foram escritos com atos concretos de bondade, caridade e amor.
Quando o Santo Padre dá o passo de sair de trás das paredes vaticanas rumo ao encontro com os migrantes e refugiados está dizendo com a atitude como superar essas barreiras que impedem o encontro e o diálogo com o diferente, afirma Irmã Rosa.
Acolher, proteger, promover e integrar
Acolher, proteger, promover e integrar. Estes são os “quatro verbos de Francisco” recordados pela scalabriniana. “Estes verbos têm uma força muito grande quando conjugados em conjunto. Ele usa e sugere estes verbos como uma forma de não deixar de lado nenhuma ação prioritária quando se trata do cuidado com os migrantes e refugiados”, aponta.
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As ações que representam estes verbos contemplam todas as necessidades e direitos humanos de quem precisa migrar, de acordo com a religiosa. Um verbo, conjugado, puxa o outro.
“Quem acolhe, necessariamente sentirá que não basta acolher, mas precisa proteger das ameaças sociais, como trabalho escravo, tráfico e demais violações de direitos. A proteção pede mais um passo que é a promoção, no sentido de ajudar essas pessoas a se tornarem protagonistas da sua própria história e a se inserirem como qualquer outra no mercado de trabalho para uma vida digna. Necessariamente os três primeiros verbos culminarão na integração. Essas pessoas precisam se tornar parte da sociedade onde chegam, pois é um direito que lhes cabe”, afirma.
Fraternidade
O conceito de fraternidade, muito defendido e disseminado por Francisco, também diz respeito aos migrantes e refugiados. Irmã Rosa comenta que somente com uma fraternidade universal é possível abraçar a todos sem discriminação.
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Fraternidade universal, prossegue a scalabriniana, tem tudo a ver com a “Fratelli Tutti”, a “Laudato Sì” – ambas encíclicas do Papa. A religiosa destaca que nesta Casa Comum, todos são irmãos que devem se amar e se acolher mutuamente.
“No caminho da fraternidade universal não há brechas para as mais variadas fronteiras: físicas, psíquicas, econômicas, sociais. (…) Nela não há tempo e nem espaço para preconceitos, discriminações, racismos, guerras, violência. É utopia, talvez. Mas a utopia é necessária, pois mantém viva a esperança de um mundo possível”, opina.
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Encontro com autoridades
Ao recordar que o Santo Padre encontrará com prefeitos e autoridades das cidades do Mediterraneo durante visita a Florença, a scalabriniana ressalta o crescimento na Europa da xenofobia e a discriminação contra os migrantes e refugiados.
Neste encontro, o Pontífice quer deixar muito claro que eles têm responsabilidade pública, além de dar um recado aos que são contrários à acolhida, acredita Irmã Rosa.
“Em uma Europa que sempre emigrou e foi acolhida em tantas partes do mundo, cabe às autoridades políticas e civis empenharem-se contra aqueles que reforçam a discriminação e a xenofobia – que é o ódio do diferente, do outro”, frisa.
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Esse encontro, destaca a religiosa, pode promover e favorecer maior atenção e sensibilidade das autoridades para essa realidade dramática da imigração no Mediterrâneo. “Francisco incentiva o poder público a implementar leis mais condizentes com a realidade para melhor acolher quem bate às portas da Europa”, complementa.
Irmã Rosa conta que já esteve em Lampedusa e relata que a população daquele local dá grande atenção aos migrantes. Segundo a scalabriniana, a xenofobia e a discriminação crescem nas cidades maiores e nas capitais.
A ida de Francisco a estes lugares de chegada dos migrantes é um incentivo para quem está acostumado a acolher e tem coração compassivo, ressalta a religiosa. “É também um apelo forte e uma denúncia frente às mortes no Mediterrâneo vistas com uma certa frieza pelas comunidades internacionais e pelas autoridades políticas desses países”, afirma.
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Dedicação à causa dos migrantes
Irmã Rosa recebeu no último dia 15 de fevereiro uma carta do Papa Francisco. Ela é datada de 22 de dezembro de 2021. Esta é a segunda vez que o Pontífice envia uma correspondência à religiosa.
Na carta, a scalabriniana conta que o Santo Padre a abençoou. Ele pediu que ela continue o seguimento de Jesus, em especial no rosto das pessoas em situação de migração e refúgio. “As cartas de Francisco sempre me emocionam e me encantam. Ampliam em mim a devoção, o respeito que lhe prezo como autoridade máxima da Igreja Católica, a qual aprendi a amar desde o ventre materno e na qual sirvo ao meu Senhor Jesus Cristo, na pessoa em situação de migração e refúgio”, declara a scalabriniana.