Em Chipre

Papa ouve migrantes e pede ao mundo: passar do conflito à comunhão

Encontro de oração com os migrantes aconteceu nesta sexta-feira, 3, na Igreja de Santa Cruz em Chipre

Da redação

Papa durante encontro com migrantes em Chipre/ Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

A oração ecumênica com os migrantes na Igreja de Santa Cruz em Nicósia foi o último compromisso oficial do Papa Francisco desta sexta-feira, 3, em Chipre.  Neste sábado, 4, o Pontífice se despede do país rumo à Grécia — segunda etapa de sua Viagem Apostólica.

Em discurso, o Santo Padre agradeceu o testemunho dos migrantes. Francisco recordou que já havia encontrado o grupo há cerca de um mês, e confidenciou que havia ficado impressionado. Porém, isso não o impediu de se comover diante dos testemunhos dados nesta sexta-feira.

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“Não é só emoção; é muito mais: é a comoção que provém da beleza da verdade. Como a comoção de Jesus quando exclamou: ‘Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos’ (Mt 11, 25). Também eu bendigo o Pai celeste porque o mesmo acontece hoje aqui, bem como no mundo inteiro: aos pequeninos, Deus revela o seu Reino – Reino de amor, justiça e paz”, disse.

Membros da casa de Deus

Depois de ter ouvido os migrantes, Francisco afirma que foi possível compreender melhor toda a força profética da Palavra de Deus, que diz através do apóstolo Paulo: “Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus” (Ef 2,19).

Escrita aos cristãos de Éfeso, as palavras de São Paulo são, de acordo com o Papa, distantes no tempo, contudo muito próximas, mais atuais do que nunca, como se fossem escritas hoje para homens e mulheres.

O Pontífice prossegue sublinhando que estas palavras do apóstolo são a profecia da Igreja. “Uma comunidade que – com todas as suas limitações humanas – encarna o sonho de Deus.”

Presença dos migrantes

A presença dos migrantes é de grande significado para a celebração, enfatiza o Santo Padre. “Os vossos testemunhos são como um espelho para nós, comunidades cristãs”, destaca o Papa.

Os migrantes, garante Francisco, não são números, indivíduos a catalogar; são irmãos, amigos, crentes, próximos uns dos outros. O Pontífice critica o ódio destilado contra os refugiados e alerta que também este sentimento poluiu as relações entre cristãos.

O ódio deixa marcas, marcas profundas que perduram por muito tempo, frisa o Papa. “Trata-se de um veneno, do qual é difícil desintoxicar-se. É uma mentalidade distorcida que, em vez de nos fazer reconhecer como irmãos, faz-nos ver como adversários, como rivais”.

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Caminhar do conflito para a comunhão

Caminhar do conflito para a comunhão é o que pede o Santo Padre. Neste caminho, que é longo e feito de subidas e descidas, Francisco pediu que as diferenças não gerem medo, mas sim os fechamentos e preconceitos, que impedem homens e mulheres de se encontrarem verdadeiramente e de caminharem juntos.

“Os fechamentos e os preconceitos reconstroem entre nós aquele muro de separação que Cristo derrubou, ou seja, a inimizade (cf. Ef 2, 14). E então o nosso percurso rumo à unidade plena pode conhecer passos em frente na medida em que, todos juntos, mantivermos o olhar fixo sobre Ele, que é «a nossa paz» (Ef 2, 14), que é a «pedra angular» (2, 20)”.

Jesus vem ao encontro da humanidade com o rosto do irmão marginalizado e descartado; com o rosto do migrante desprezado, repelido, engaiolado, alerta o Pontífice. Por isso a necessidade de seguir rumo a uma esperança, rumo a uma convivência mais humana.

Humanidade sem muros

Deus sonha uma humanidade sem muros de separação, liberta da inimizade, sem mais estrangeiros, mas apenas concidadãos, garante o Papa.

“Possa esta ilha, marcada por uma dolorosa divisão, tornar-se com a graça de Deus um laboratório de fraternidade”, exorta Francisco. Isto será possível, de acordo com o Santo Padre, sob duas condições: o reconhecimento efetivo da dignidade de toda a pessoa humana e a abertura confiante a Deus Pai.

Contra a cultura da indiferença

Ao final de seu discurso, o Pontífice recordou os migrantes que faleceram durante travessias, os que foram escravizados, torturados e que tiveram a permanência negada em outros países.

O Papa defendeu o combate ao que considera a “guerra do ocidente” e pediu fim à cultural da indiferença, ao habituar-se com notícias tristes relacionadas aos migrantes e refugiados.

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