Catequese

Migração de hoje é um escândalo social da humanidade, diz Papa

Na Audiência Geral desta quarta-feira, 29, Francisco convidou a rezar “por todos os migrantes, todos os perseguidos e todos aqueles que são vítimas de circunstâncias adversas”

Da redação, com Vatican News

Papa durante Catequese na Sala Paulo VI/Foto: Daniel Ibanez – CNA

“São José, migrante perseguido e corajoso”. Este foi o tema da Catequese do Papa Francisco desta quarta-feira, 29. Na Audiência Geral, o Pontífice recordou que a família de Nazaré teve que fugir para o Egito. Segundo o Santo Padre, eles experimentaram em primeira pessoa a precariedade, o medo e a dor de ter que deixar a sua terra.

Francisco sublinhou que ainda hoje muitos são obrigados a viver a mesma injustiça e sofrimento. “A causa é quase sempre a prepotência e a violência dos poderosos. Isto aconteceu também com Jesus”.

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Através dos Reis Magos, o rei Herodes toma conhecimento do nascimento do “rei dos Judeus”, e a notícia o perturba, indicou o Papa. “Ele se sente inseguro, ameaçado no seu poder” e manda “matar todas as crianças de Belém de até dois anos. Foi o tempo em que, segundo o cálculo dos Magos, Jesus teria nascido”.

Entretanto, o Pontífice recordou que um anjo ordena a José: “Levanta-te, toma o menino e a sua mãe, e foge para o Egito; permanece lá até que eu te avise, pois Herodes vai à procura do menino para o matar”. “Pensemos nas muitas pessoas que hoje sentem dentro de si esta inspiração: Fujamos! Fujamos porque aqui há perigo”, frisou.

Herodes: símbolo de muitos tiranos de ontem e de hoje

“A fuga da Sagrada Família para o Egito salva Jesus, mas infelizmente não impede que Herodes leve a cabo o seu massacre. Assim, encontramo-nos diante de duas personalidades opostas: por um lado, Herodes com a sua ferocidade e, por outro, José com o seu esmero e a sua coragem”, ressaltou o Santo Padre.

O Papa indica que Herodes quer defender o seu poder, a própria pele, com crueldade impiedosa, como atestam também as execuções de uma das suas esposas, alguns dos seus filhos e centenas de adversários. “Era um homem cruel. Para resolver os problemas tinha apenas uma receita, matar”.

Segundo Francisco, Herodes é o símbolo de muitos tiranos de ontem e de hoje, e para esses tiranos as pessoas não contam, conta o poder. “Se eles precisam de espaço de poder, matam as pessoas. Isso acontece hoje. Não precisamos recorrer à história antiga. Isso acontece hoje. É o homem que se torna “lobo” para os outros homens”, indicou.

A história, lembrou o Pontífice, está cheia de personalidades que, vivendo à mercê dos seus temores, procuram vencê-los, exercendo o poder de forma despótica e praticando gestos de violência desumanos.

“Mas não devemos pensar que só viveremos na perspectiva de Herodes se nos tornarmos tiranos; na realidade, é uma atitude em que todos podemos cair, sempre que procuramos afugentar os nossos medos com a prepotência, ainda que seja apenas verbal ou feita de pequenos abusos cometidos para mortificar quem está ao nosso lado. Também nós temos dentro do coração a possibilidade de sermos pequenos Herodes”, alertou.

José: homem justo

Em seguida, o Santo Padre sublinhou que José é o oposto de Herodes: em primeiro lugar, é um homem justo. Herodes é um ditador. Além disso, demonstra-se corajoso na execução da ordem do Anjo.

“Podemos imaginar as peripécias que teve de enfrentar durante a longa e perigosa viagem, e as dificuldades exigidas para a permanência num país estrangeiro. A sua coragem sobressai também na hora do regresso quando, tranquilizado pelo Anjo, supera os seus compreensíveis receios, estabelecendo-se com Maria e Jesus em Nazaré”, comentou.

Herodes e José, ressaltou o Papa, são dois personagens opostos, que refletem as duas faces da humanidade de sempre. É um lugar-comum errado considerar a coragem como virtude exclusiva do herói, revelou Francisco. Na realidade, a vida cotidiana de cada pessoa requer coragem.

Não é possível viver sem coragem para enfrentar as dificuldades de cada dia, argumentou o Pontífice. “Em todos os tempos e culturas encontramos homens e mulheres corajosos que, para ser coerentes com a sua crença, superaram toda a espécie de dificuldades, suportando injustiças, condenações e até a morte. Coragem é sinônimo de fortaleza que, com a justiça, a prudência e a temperança, faz parte do grupo de virtudes humanas chamadas ‘cardeais’”.

“A lição que José nos deixa hoje é a seguinte: a vida nos apresenta sempre adversidades, diante das quais podemos sentir-nos também ameaçados, amedrontados, mas não é mostrando o pior de nós, como faz Herodes, que podemos superar certos momentos, mas agindo como José, que reage ao medo com a coragem da confiança na Providência de Deus”, disse ainda o Papa.

Rezar pelos migrantes

Rezemos hoje por todos os migrantes, todos os perseguidos e todos aqueles que são vítimas de circunstâncias adversas, sejam circunstâncias políticas, históricas ou pessoais, pediu Francisco.

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“Pensemos nas muitas pessoas vítimas das guerras, que querem fugir de sua pátria, mas não podem. Pensemos nos migrantes que começam a estrada para serem livres e muitos terminam na rua ou no mar. Pensemos a Jesus nos braços de José e Maria fugindo e vejamos nele cada um dos migrantes de hoje”, indicou.

A migração de hoje, afirmou o Papa, é uma realidade diante da qual não podemos fechar os olhos. “É um escândalo social da humanidade”.

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