10 ANOS DO DOCUMENTO

Papa lembra objetivo da Evangelii Gaudium no amor ativo aos pobres

Em mensagem aos participantes de simpósio que comemora 10 anos da exortação apostólica, Francisco frisou necessidade de combater a injustiça e a desigualdade

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: Vandeville Eric /ABACA via Reuters

Nesta sexta-feira, 24, a Santa Sé divulgou uma mensagem do Papa Francisco aos participantes de um simpósio promovido pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. O evento acontece em ocasião do aniversário de 10 anos da Evangelii Gaudium, propondo reflexões sobre a primeira exortação apostólica de Francisco.

No texto, o Pontífice agradeceu a organização do simpósio e recordou como surgiu a Evangelii Gaudium, escrita com o objetivo de convidar os cristãos “a uma nova etapa no anúncio do Evangelho”. Ele explicou que propôs recuperar “a alegria missionária dos primeiros cristãos, cheios de coragem, incansáveis no anúncio e capazes de uma grande resistência, mesmo em circunstâncias que, desde cedo, não eram favoráveis ao anúncio do Evangelho, nem à luta pela justiça, nem à defesa da dignidade humana”.

A Igreja permaneceu em saída mesmo diante das perseguições, frisou o Santo Padre, buscando aqueles que estavam distantes e chamando os excluídos. De volta ao tempo presente, ele reconheceu que também existem dificuldades, menos explícitas, porém mais traiçoeiras. “Em todos os momentos da história estão presentes a fraqueza humana, a busca doentia de si, o egoísmo confortável e, em última análise, a concupiscência que nos persegue. Isso está sempre lá, com uma roupagem ou outra”, afirmou Francisco.

Desta forma, “a proclamação do Evangelho no mundo de hoje continua a exigir de nós uma resistência profética contracultural ao individualismo hedonista pagão como a dos padres da Igreja”, pontuou o Papa. Uma resistência, indicou, que se dá frente a um sistema que destrói a dignidade humana e a uma mentalidade que isola a vida interior, prendendo-a aos próprios interesses e afastando o homem de Deus e dos outros.

Amor ativo aos pobres

O Pontífice sublinhou que, com a Evangelii Gaudium, ele quis mostrar que todos são chamados a ter o mesmo sentimento que Jesus em relação aos pobres. “No amor ativo que devemos aos pobres está o remédio para o grande risco do mundo de hoje, com a sua múltipla e avassaladora oferta de consumo: uma tristeza individualista que brota do coração confortável e ganancioso, da procura doentia de prazeres superficiais, da consciência isolada”, sinalizou.

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Citando diretamente a exortação apostólica, o Pontífice lembrou a importância da solidariedade, “reação espontânea daqueles que reconhecem a função social da propriedade e o destino universal dos bens”. Bens estes cuja propriedade privada se justifica para que eles sejam usados em prol do bem comum.

Por outro lado, “infelizmente, mesmo os direitos humanos podem ser usados ​​como justificação para uma defesa exacerbada dos direitos individuais ou dos direitos das pessoas mais ricas. Respeitando a independência e a cultura de cada nação, devemos sempre lembrar que o planeta pertence a toda a humanidade e para toda a humanidade, e que o simples fato de nascer em um local com menos recursos ou menos desenvolvimento não justifica que algumas pessoas vivam com menos dignidade”, sublinhou o Santo Padre.

Combater a desigualdade

Diante desta mentalidade, ele destacou que as novas estruturas devem atacar as causas da desigualdade. Retomando a Evangelii Gaudium, Francisco afirmou que “o crescimento na equidade exige algo mais do que o crescimento econômico, embora o suponha: requer decisões, programas, mecanismos e processos especificamente orientados para uma melhor distribuição de rendimentos, para a criação de fontes de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que exceda o mero bem-estar”.

O Papa reiterou que, com isto, não propõe “um populismo irresponsável”, mas clama por uma mudança nas soluções buscadas pela economia. “Se não conseguirmos esta mudança de mentalidade e de estruturas, estamos condenados a ver o agravamento da crise climática, sanitária e migratória, e particularmente a violência e as guerras, colocando em risco toda a família humana, pobres e não pobres, integrados e excluídos, porque ‘estamos todos no mesmo barco e somos chamados a remar juntos’”, alertou.

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Além disso, o Pontífice apontou ainda que a segurança, tão pedida em diversos lugares do mundo, não será possível até que sejam revertidas a exclusão e a desigualdade. Ele observou que, “quando a sociedade – local, nacional ou global – abandona uma parte de si mesma para a periferia, não haverá programas políticos, nem recursos policiais ou de inteligência que possam garantir indefinidamente a tranquilidade”.

A injustiça impede a esperança de um mundo melhor

A injustiça tende a espalhar suas consequências negativas em todas as áreas, comprometendo o sistema social e político. “É o mal cristalizado em estruturas sociais injustas, das quais não se pode esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado ‘fim da história’, uma vez que as condições para um desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente planeadas e concretizadas”, sinalizou o Santo Padre.

Ele denunciou ainda que os mecanismos da economia atual promovem um consumo exagerado, que resulta no consumismo, danoso ao tecido social. A desigualdade se perpetua e gera, cedo ou tarde, uma violência que não consegue ser resolvida por campanhas armamentistas, que só servem para enganar os que pedem por mais segurança. “As armas e a repressão violenta, em vez de fornecerem soluções, criam novos e piores conflitos”, frisou.

Por fim, Francisco advertiu que a desigualdade também é a raiz das crises climáticas, sanitárias, migratórias, além de destruir a “mãe terra”. “Dez anos depois da publicação da Evangelii Gaudium, reafirmemos que só se ouvirmos o grito tantas vezes silenciado da terra e dos pobres poderemos cumprir a nossa missão evangelizadora, viver a vida que Jesus nos propõe e contribuir para resolver os graves problemas da humanidade”, concluiu.

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