10 anos do Papa

Magistério de Francisco: bispo e teólogo recordam a Evangelii Gaudium

Na celebração dos 10 anos do pontificado de Francisco, recorde os principais ensinamentos da Evangelii Gaudium – primeira exortação assinada pelo Papa argentino

Julia Beck
Da redação

Papa Francisco depois de eleito em 13 de março de 2013/ Foto: REUTERS/Dylan Martinez

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica apresentava ao mundo seu novo Papa: Francisco. O anúncio da eleição do Cardeal Jorge Mario Bergoglio, na época com 76 anos, foi às 20h12, (horário de Roma, 16h12 horário de Brasília), da sacada central da Basílica de São Pedro, pelo Cardeal Protodiácono Jean-Louis Tauran.

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Aproximadamente oito meses após o início de seu pontificado, em 26 de novembro, o Vaticano apresentava ao mundo a primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco: a Evangelii Gaudium. O documento é considerado o programa do pontificado de Francisco.

O arcebispo de Belo Horizonte (BH) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, afirma que, no documento, estão condensados importantes aspectos que têm caracterizado o magistério do Papa Francisco. Um pontificado fortemente marcado pela dimensão místico-profética que faz parte da identidade cristã-católica.

Indicações do Papa

Irmão Afonso Murad/ Foto: Arquivo Pessoal – Irmão Afonso

O teólogo, Irmão Afonso Murad, indica questões que são evidenciadas por Francisco neste documento: a reforma da “Igreja em saída” missionária, a identificação das tentações que os agentes pastorais sofrem – leigos ou presbíteros, como a evangelização deve enfrentar essas tentações, uma visão de Igreja baseada na totalidade do povo de Deus – todos são protagonistas – e indicações aos padres acerca da homilia e sua preparação.

Também na exortação, o religioso afirma que dois temas dizem respeito à relação da Igreja com a sociedade: inclusão social dos pobres, a paz e o diálogo social.

O presidente da CNBB complementa que Francisco lembra à humanidade que a transformação da Igreja e do mundo é compromisso de fé, convocando todos a revisitar as lições das primeiras comunidades cristãs, onde estão muitas respostas para graves problemas atuais.

“A vivência da espiritualidade cristã-católica exige, de cada discípulo do Mestre, uma disciplinada busca pelo transcendente, a partir da oração, dos sacramentos, da proximidade com os santos e as santas que inspiram a nossa caminhada, sem desconsiderar o compromisso social de mudar o mundo ao sabor do Evangelho”, indica o prelado.

O documento é encerrado com uma perspectiva espiritual que o teólogo adjetivou como “extraordinária”: “as motivações, à luz da fé, para o compromisso missionário”.

Irmão Afonso recorda que, ao longo dos anos que sucederam a publicação da exortação apostólica, Francisco trabalhou estes temas, como por exemplo a paz e o diálogo social na Carta Encíclica “Fratelli Tutti” e a inclusão social dos pobres em suas atitudes – para que a Igreja seja fiel ao Evangelho, promovendo e integrando os pobres.

A alegria do Evangelho no mundo atual

O fato do Papa colocar como fundamento a alegria é considerado por Murad como algo atual. Hoje, o religioso opina que o ser humano está marcado pela tristeza, individualismo, pela dificuldade de se contentar com a sua própria existência, busca pela felicidade meramente pessoal – sem levar em conta o outro.

Dom Walmor destaca que muitos estudos apontam que a humanidade padece com graves adoecimentos, de toda ordem. “Há uma progressiva crise de sentido, fazendo com que as pessoas experimentem profunda melancolia, mergulhadas no vazio existencial”, complementa.

A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, explica o bispo, de modo claro e objetivo, indica o antídoto para esse vazio. “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Todos que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”.

Para o arcebispo de Belo Horizonte, aqueles que experimentam a alegria irradiada do Evangelho vencem as prisões do individualismo, pois aprendem que a vida se torna cada vez mais apreciável quando se converte em oferta pelo bem do próximo. “A vivência do Evangelho é, pois, reação ao individualismo que leva a adoecimentos”, alerta.

Impactos na vida da Igreja

Presidente da CNBB e arcebispo de BH, Dom Walmor de Oliveira / Foto: Canção Nova

O presidente da CNBB frisa que a Evangelii Gaudium apontou uma direção que está sendo seguida pela Igreja no mundo inteiro e também no Brasil. Outros documentos, nascidos do magistério do Papa Francisco, aprofundaram as ricas orientações da Evangelii Gaudium, ajudando a Igreja na renovação de sua força missionária.

“A Igreja, no Brasil e no mundo, está ainda mais ‘em saída’, isto é, próxima das realidades mais sofridas, das periferias geográficas e existenciais. No magistério do Papa Francisco vivemos um sínodo sobre a Amazônia, sobre as famílias, trazendo para o coração da Igreja questões muito relevantes, como o dever cristão de cuidar do planeta, a Casa Comum. A Igreja no Brasil está fortemente inserida neste conjunto de transformações iniciadas à luz do magistério do Papa Francisco”, comenta.

A profunda comunhão que une a Igreja no Brasil ao sucessor do Apóstolo Pedro é outro destaque de Dom Walmor. Para citar um exemplo dessa comunhão, o bispo conta que a CNBB atualizará as suas Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora ao término do Sínodo sobre a sinodalidade da Igreja, convocado pelo Pontífice.

“Essa decisão do episcopado reflete o compromisso dos bispos de permanecerem em plena sintonia com as orientações do Santo Padre, muito importantes para que a Igreja seja capaz de responder aos desafios da contemporaneidade”, revela.

Dimensão social da evangelização

O pontificado de Francisco destacou a dimensão social da evangelização. A partir disso, o presidente da CNBB reforça que a fé genuína em Jesus Cristo conduz à ação diante das injustiças, percepção essa destacada pelo Papa Francisco quando orienta os fiéis a viverem uma fraternidade mística:

“Trata-se de uma fraternidade contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu bondoso Pai”.

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