Francisco acolheu participantes de conferência que homenageia padre Georges Lemaître e incentivou que fé e ciência se unam a serviço do homem com caridade
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência nesta quinta-feira, 20, os participantes da II Conferência do Observatório Astronômico Vaticano, intitulada “Buracos negros, ondas gravitacionais e singularidades espaço-temporais”. Na Sala dos Papas, no Vaticano, o Pontífice agradeceu e deu as boas-vindas aos cientistas que se reúnem em Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma, sete anos depois da edição anterior.
A conferência faz memória ao padre Georges Lemaître, o qual disse que “a criação e o Big Bang são duas realidades distintas” e que Deus “não pode ser um objeto facilmente categorizado pela razão humana”.
Papel da Igreja diante da ciência
No início de seu discurso, o Papa recordou a relevância de Georges Lemaître na ciência. “O valor científico do sacerdote e cosmólogo belga foi depois reconhecido pela União Astronômica Internacional, que decidiu que a conhecida lei de Hubble deveria ser chamada mais apropriadamente de lei de Hubble-Lemaître”, afirmou.
“Nesses dias”, prosseguiu, “vocês discutem as últimas questões colocadas pela pesquisa científica em cosmologia: os diferentes resultados obtidos na medição da constante de Hubble, a natureza enigmática das singularidades cosmológicas (do Big Bang aos buracos negros) e o tema muito atual das ondas gravitacionais”.
Francisco recordou que “a Igreja está atenta a essas pesquisas e as promove, porque elas abalam a sensibilidade e a inteligência dos homens e das mulheres de nosso tempo”. O início do universo, sua evolução e a estrutura do espaço e do tempo levam os seres humanos a uma busca frenética por sentido, observou, constituindo um vasto cenário onde há o risco de se perderem.
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Diante disso, o Santo Padre recordou um trecho do livro dos Salmos: “Quando contemplo o céu, obra de teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste. O que é o homem, para dele te lembrares? O ser humano, para que o visites? Tu o fizeste pouco menos do que um deus, e o coroaste de glória e esplendor” (Sl 8,4-7). “Portanto, é claro que estes temas têm uma relevância particular para a Teologia, a Filosofia, a Ciência e também para a vida espiritual”, avaliou.
Legado do padre Georges Lemaître
Na sequência, o Pontífice falou sobre o legado de Georges Lemaître, reconhecendo-o como um sacerdote e cientista exemplar. “O seu percurso humano e espiritual representa um modelo de vida com o qual todos nós podemos aprender”, observou ainda Francisco.
Para atender aos desejos do pai, Lemaître estudou engenharia. Depois, alistou-se na Primeira Guerra Mundial e viveu seus horrores. Já adulto, seguiu a sua vocação sacerdotal e científica.
“Inicialmente, ele acredita que as verdades científicas estão depositadas nas Sagradas Escrituras de forma velada. As suas experiências humanas e as consequentes elaborações espirituais o levam a compreender que a ciência e a fé seguem dois caminhos diferentes e paralelos, entre os quais não há conflito”, continuou Francisco.
O Santo Padre acrescentou que, “na verdade, esses caminhos podem se harmonizar, porque tanto a ciência quanto a fé, para quem crê, têm a mesma matriz na Verdade absoluta de Deus. O seu caminho de fé o leva à consciência de que a criação e o Big Bang são duas realidades distintas, e que o Deus em que ele acredita não pode ser um objeto facilmente categorizado pela razão humana, mas é o ‘Deus escondido’, que permanece sempre numa dimensão de mistério, não totalmente compreensível”.
Ciência deve estar a serviço dos homens
O Papa exortou aos cientistas para continuarem “debatendo com um espírito justo e humilde os temas que estão discutindo. Que a liberdade e a falta de condicionamento que vocês estão experimentando nesta conferência os ajudem a progredir em seus campos em direção à Verdade, que é certamente uma emanação da Caridade de Deus”.
“A fé e a ciência podem se unir na caridade se a ciência for colocada a serviço dos homens e mulheres de nosso tempo, e não distorcida em seu detrimento ou mesmo destruição. Eu os encorajo a ir para as periferias do conhecimento humano: é ali que podemos fazer experiência do Deus Amor, que satisfaz e sacia a sede do nosso coração”, concluiu o Pontífice.