Papa respondeu aos jornalistas sobre a defesa da identidade das repúblicas dos países bálticos, a condenação dos armamentos e abusos do clero
Da redação, com Vatican News
O Papa retornou, na tarde desta terça-feira, 26, de sua viagem aos países bálticos. Durante o vôo de Tallinn a Roma, o pontífice respondeu à perguntas dos jornalistas.
As três perguntas feitas pelos colegas dos países visitados não foram suficientes a fazê-lo expressar plenamente o que foi para ele mergulhar na realidade das “três irmãs”. Quatro dias em contato com as chagas da memória que unem a Lituânia, a Letônia e a Estônia, com seus relatos entre um presente político que as projetou para o oeste e raízes que as sustentam no lado oposto, com um futuro que o Papa repetidamente desejou no sinal da esperança, de uma autêntica reconciliação.
A identidade a ser preservada
O Papa reforçou a necessidade de preservação da identidade dos países bálticos, muitas vezes pisada pelos invasores cruéis e guardada por aqueles que ontem se utilizaram dela como escudo contra as ditaduras e hoje, idosos, têm o dever de transmiti-la aos jovens com toda a herança de cultura, fé e arte.
Recordou a realidade das salas de tortura do Museu das Vítimas de Vilnius, e condenou a violência e o “escândalo” do comércio legal e ilegal de armas que fomentam o país. É “lícito” e honroso, afirma, defender a pátria, mas um Estado deveria se equipar com “um exército razoável e não agressivo de defesa”. E ainda recordou o princípio frequentemente citado de “prudência”, sobre a imigração que nas repúblicas bálticas é tanto em entrada que em saída, notando como os mesmos Chefes de Estado que acabou de encontrar reconheceram o valor da “acolhida”.
China, a “sabedoria” do Acordo
Francisco então falou sobre o acordo provisório com a China. Diante das críticas atuais, o Papa respondeu: “Eu mesmo assinei”, “eu sou o responsável”, e pediu orações por aqueles que, “tendo muitos anos nas costas de clandestinidade”, hoje não entendem o seu alcance. Em todos os acordos de paz, recorda, “ambos os lados perdem algo” e todavia agora, afirma, “é o Papa quem nomeia” os bispos chineses. Francisco elogia a “paciência” e a “sabedoria” dos negociadores do Vaticano – do cardeal Parolin a Mons. Celli, ao padre Rota Graziosi – dizendo ter avaliado todos os “dossiers” dos bispos cuja nomeação ainda não tinha o aval pontifício e lembrando que a mesma se tornou de exclusiva pertinência papal em tempos não tão distantes.
A “grande fé” dos chineses
Francisco lembrou a “grande fé” dos chineses católicos, tão longamente provada.
“Sempre em um acordo – reconhece – há sofrimento” e fez uma revelação: por ocasião do “famoso comunicado de um ex-núncio apostólico”, que havia motivado muitos episcopados para expressar a ele proximidade, também os fiéis chineses o fizeram, assinando em modo significativo, os da Igreja tradicional ou não, uma carta comum para expressar ao Papa a própria solidariedade. Para ele, aquilo – disse Francisco – “era o sinal”.
Os abusos são monstruosos
Quanto à pergunta sobre os abusos na Igreja, feita por uma jornalista alemã, inspirada nas palavras dirigidas aos jovens estonianos, Francisco respondeu:
Seria “monstruoso” mesmo se houvesse um único padre que cometesse esse crime. Ele confessa nunca ter “assinado um pedido de clemência” diante de uma notícia de condenação em relação aos casos relatados pela Congregação para a Doutrina da Fé. Os abusos sexuais estão em toda parte, mas na Igreja são bem piores, porque os sacerdotes devem “levar as crianças para Deus” e a este respeito não existe “nenhuma negociação.”
Todavia – observou o Papa – não se deve cometer o erro de interpretar o passado com o critério de juízo, com a “hermenêutica” de hoje, em que se tem uma sensibilidade diferente.