Na celebração das Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo, o Papa concluiu a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
Denise Claro
Da redação
Nesta terça-feira, 25, o Papa Francisco celebrou as Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo. A celebração aconteceu na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.
O Papa Francisco concluiu o encontro ecumênico da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, centralizado no tema: “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”, que faz referência à experiência dos Reis Magos.
O Papa saudou o representante do Patriarcado Ecumênico, Sua Eminência o Metropolita Polykarpos, o representante pessoal do Arcebispo de Cantuária em Roma, Sua Graça Ian Ernest, e os representantes das outras Comunidades cristãs presentes. Saudou também os estudantes do Ecumenical Institute of Bossey, os anglicanos do Nashotah College, nos Estados Unidos da América, os ortodoxos e ortodoxos orientais.
Em sua homilia, o Papa falou sobre a acolhida do ardente desejo de Jesus que pede a todos unidade, e lembrou que neste caminho, o modelo dos Magos pode ajudar. Seu itinerário tem três etapas: parte do Oriente, passa por Jerusalém e, finalmente, chega a Belém.
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.: Íntegra da Homilia
A partida do Oriente
Francisco lembrou que os magos partiram do Oriente, porque de lá viram despontar a estrela. Põem-se em viagem do Oriente, donde surge a luz solar, mas vão à procura duma luz maior. Estes sábios não se contentam com os seus conhecimentos e tradições, mas anseiam por mais. Por isso enfrentam uma viagem arriscada, animados pela inquietação da busca de Deus.
“Sigamos também nós a estrela de Jesus! Não nos deixemos distrair pelos fulgores do mundo, estrelas cintilantes mas cadentes. Não sigamos as modas passageiras, meteoros que se apagam; não cedamos à tentação de brilhar com luz própria, ou seja, de nos fechar no nosso grupo para nos autoconservarmos. Mas, que o nosso olhar esteja fixo no Céu, na estrela de Jesus. Sigamos a Ele, ao seu Evangelho, ao seu convite à unidade, sem nos preocuparmos de quão longa e cansativa possa ser a viagem para a alcançar plenamente. Aspiremos e caminhemos juntos, apoiando-nos mutuamente, como fizeram os Magos.”
O Papa recordou neste momento dos cristãos que habitam em várias regiões devastadas pela guerra e a violência, que enfrentam tantos desafios difíceis e no entanto, com o seu testemunho, dão esperança à Igreja.
“Lembram-nos não só que a estrela de Cristo resplandece nas trevas e não conhece ocaso, mas também que, do Alto, o Senhor acompanha e anima os nossos passos. Ao redor d’Ele no Céu brilham, juntos e sem distinções de confissão, inúmeros mártires; estes indicam-nos na terra um caminho concreto: o da unidade!”
Jerusalém
Do Oriente, os magos chegam a Jerusalém com o desejo de Deus no coração, mas sentem a dura realidade da terra.
Na Cidade Santa, os magos, em vez de ver refletida a luz da estrela, experimentam a resistência das forças tenebrosas do mundo. Não é só Herodes que se sente ameaçado pela novidade duma realeza diversa da sua corrompida pelo poder mundano, mas toda a Jerusalém se perturba com o anúncio dos Magos.
“Também ao longo do nosso caminho rumo à unidade, pode acontecer que nos detenhamos pelo mesmo motivo que paralisou aquela gente: a perturbação, o medo. É o temor da novidade que faz alterar os costumes e as certezas adquiridas; é o medo de que o outro desnorteie as minhas tradições e esquemas consolidados. Mas, na raiz, está o medo que habita o coração do homem e do qual nos quer libertar o Senhor Ressuscitado.”
O pontífice pediu que os cristãos confiem uns nos outros e caminhem juntos, apesar dos erros do passado e das feridas mútuas. E lembrou que é a Palavra de Deus que os ajuda na caminhada.
Belém
Ao chegar a Belém os magos entram na casa, prostram-se e adoram o Menino. A viagem termina com eles juntos, na mesma casa, em adoração.
“Também para nós, a unidade plena, na mesma casa, só pode chegar através da adoração do Senhor. Queridos irmãos e irmãs, a etapa decisiva do caminho rumo à plena comunhão requer uma oração mais intensa, a adoração de Deus.”
No centro, o Senhor
Entretanto os Magos lembram-nos que, para adorar, há um passo a realizar: primeiro é preciso prostrar-se.
“Este é o caminho, inclinar-se para o chão, pôr de lado as próprias pretensões para deixar no centro apenas o Senhor. Quantas vezes o orgulho foi o verdadeiro obstáculo à comunhão! Os Magos tiveram a coragem de deixar em casa prestígio e reputação, para se abaixarem na pobre casinha de Belém; assim descobriram uma imensa alegria. Abaixar-se, deixar, simplificar: nesta tarde, peçamos a Deus esta coragem, a coragem da humildade, único caminho para chegar a adorar a Deus na mesma casa, ao redor do mesmo altar.”
Presentes a Deus
Após adorarem, os magos oferecem a Deus ouro, incenso e mirra.
“Os presentes dos Magos simbolizam aquilo que o Senhor deseja receber de nós. A Deus deve ser dado o ouro, o elemento mais precioso, isto é, deve-Lhe ser dado o primeiro lugar. É para Ele que é preciso olhar, não para nós; para a sua vontade, não a nossa; para os seus caminhos, não para os nossos. Se verdadeiramente temos o Senhor no primeiro lugar, então as nossas opções – mesmo eclesiásticas – não mais se podem basear nas políticas do mundo, mas nos desejos de Deus.”
O incenso, diz o Papa, recorda a importância da oração, que se eleva para Deus como perfume de agradável odor. E a mirra, remete para o cuidado da carne sofredora do Senhor, dilacerada nos membros dos pobres.
São Paulo
Francisco lembrou, por fim, que os magos retornam por outro caminho, e fez um paralelo com o caminho e a vida de São Paulo:
“Como Saulo antes do encontro com Cristo, precisamos mudar de estrada, inverter a rota dos nossos hábitos e conveniências para encontrar o caminho que o Senhor nos mostra, o caminho da humildade, da fraternidade, da adoração. Dai-nos, Senhor, a coragem de trocar de estrada, converter-nos, seguir a vossa vontade e não as nossas comodidades; a coragem de avançar juntos, para Vós, que com o vosso Espírito quereis fazer de nós um só.”