Em audiência com advogados, Pontífice falou sobre o papel dos Estados de Direito diante de tempos de crise e anunciou uma segunda parte da encíclica com “atualização” dos problemas atuais
Da Redação, com Vatican News
“Estou escrevendo uma segunda parte da Laudato si’ para atualizar os problemas atuais”, anunciou o Papa Francisco durante uma audiência realizada nesta segunda-feira, 21. Ele recebeu uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa signatários do Apelo de Viena.
O documento pede aos Estados membros do Conselho que se comprometam com o Estado de direito e a independência da justiça. Segundo o Pontífice, o Apelo se insere no atual contexto europeu, “difícil em muitos aspectos” devido a diversos fatores, como a “guerra sem sentido na Ucrânia”.
Manter-se fiel aos princípios
Tais tempos de crises sociais, econômicas, de identidade e de segurança desafiam as democracias ocidentais a responder de forma eficaz, mantendo-se fiéis a seus princípios. A defesa desses valores demanda um enorme esforço, pontuou Francisco, que também lembrou que o Estado de direito está a serviço da pessoa humana e busca tutelar sua dignidade, e isso não admite nenhuma exceção.
“Deve-se lembrar que o fundamento da dignidade da pessoa humana reside em sua origem transcendente, que, consequentemente, proíbe qualquer violação da mesma; e essa transcendência exige que, em toda atividade humana, a pessoa seja colocada no centro e não fique à mercê das modas e dos poderes do momento”, declarou o Santo Padre.
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Diante disso, uma Europa que não se abre a esse valor transcendente da vida corre o risco de perder sua alma e também o “espírito humanista” que ama e defende, alertou o Pontífice. “Um Estado de direito só pode encontrar solidez na medida em que os povos permanecem fiéis às suas raízes que são alimentadas pela verdade, que constitui a força vital de qualquer sociedade que aspira a ser verdadeiramente livre, humana e solidária. Sem essa busca pela verdade sobre o homem, de acordo com o plano de Deus, cada um se torna a medida de si mesmo e de suas próprias ações”, completou.
Aos advogados
Em relação ao trabalho dos advogados, o Papa destacou um aspecto no Apelo: o do segredo profissional, violado por alguns países-membros do Conselho da Europa. “É essencial que os espaços de confidencialidade sejam preservados em nossas sociedades, onde as pessoas podem se expressar e expor seus fardos”, ressaltou Francisco.
Próximo ao fim do discurso, o Papa destacou os cuidados com a casa comum e o compromisso de participar do desenvolvimento de uma estrutura normativa em favor da proteção ambiental. “Nunca devemos esquecer que as gerações mais jovens têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável, e que isso nos investe de sérios deveres para com a criação que recebemos das mãos generosas de Deus”, frisou.
“Atualização” da Laudato si’
Neste sentido, o Santo Padre anunciou que está escrevendo uma segunda parte da Carta Encíclica Laudato si’, publicada em 2015. O objetivo, segundo ele, é atualizar alguns problemas atuais, mais de oito anos após o documento sobre o cuidado da casa comum ser lançado. Por fim, encorajou os presentes “a perseverar no exercício da profissão, orientada para o serviço da verdade e da justiça, necessária para construir a paz no mundo e a concórdia nas nossas sociedades”.