Discurso do Papa aos participantes da Plenária sobre diálogo inter-religioso

Angelus com o Papa Francisco - 16/02/14
DISCURSO

Audiência com participantes da plenária do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso
Sala Clementina do Palácio Apostólico
Quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal/Liliane Borges

Senhores cardeais,
Queridos irmãos no episcopado,
Queridos irmãos e irmãs,

Antes de tudo desculpo-me pelo atraso. As audiências foram em atraso. Agradeço-vos pela paciência. Tenho o prazer de encontrar-vos no contexto da vossa sessão plenária: dou a cada um de vós as boas vindas e agradeço ao Cardeal Jean Louis Tauran pelas palavras que me dirigiu em vosso nome.

A Igreja católica é consciente do valor que reveste a promoção da amizade e do respeito entre homens e mulheres de diversas tradições religiosas. Compreendemos sempre mais sua importância, seja porque o mundo tornou-se, de qualquer modo, “menor”, seja porque o fenômeno das migrações aumenta os contatos entre pessoas e comunidades de tradição, cultura e religião diferentes. Esta realidade interpela a nossa consciência de cristãos, é um desafio para a compreensão da fé e para a vida concreta das Igrejas locais, das paróquias, de muitíssimos crentes.

Deste modo,  é de particular atualidade o tema escolhido para o vosso encontro: “Membros de diferentes tradições religiosas na sociedade.” Como afirmei na minha Exortação Evangelii Gaudium, “uma atitude de abertura na verdade e amor deve caracterizar o diálogo com os não crentes de religiões não cristãs, apesar dos vários obstáculos e dificuldades, especialmente o fundamentalismo de ambos os lados” (n . 250). Com efeito, não faltam  no mundo contextos nos quais a  convivência é difícil: frequentemente por  razões políticas ou econômicas que se sobrepõem às diferenças culturais e religiosas, contando também as incompreensões e erros do passado. Tudo é risco de gerar desconfiança e medo. Existe  apenas uma estrada para vencer esse medo, e é a do diálogo, o encontro marcado pela amizade e respeito. Quando se caminha por esta estrada,  é uma estrada humana.

O diálogo não significa desistir de sua própria identidade quando se vai ao encontro do outro, e nem mesmo ceder a compromissos  com a fé e a moral cristã. Pelo contrário, “a verdadeira abertura implica manter-se firme em suas próprias convicções mais profundas, com uma identidade clara e alegre” (ibid., 251) e, por isso, aberta a compreender as razões dos outros, capaz de relações humanas respeitosas, convictas que o encontro com quem é  diferente de nós, pode ser uma oportunidade de crescimento na fraternidade, enriquecimento e testemunho.

É por este motivo que o diálogo inter-religioso e a evangelização não se excluem , mas eles se alimentam reciprocamente. Não impomos nada, nós não usamos qualquer estratégia desleal para atrair os fiéis, mas testemunhamos com alegria,  com simplicidade aquilo em que acreditamos e o que somos. Com efeito, um encontro no qual cada um colocasse de  lado aquilo em que acredita, fingindo renunciar o que tem de mais  precioso, certamente não seria uma relação autêntica. Neste caso,  se  poderia falar de uma fraternidade fingida. Como discípulos de Jesus, devemos nos esforçar para superar o medo, sempre prontos para dar o primeiro passo, sem se deixar desanimar diante das dificuldades e incompreensões.

O diálogo construtivo entre as pessoas de diferentes tradições religiosas serve  também para superar um outro medo que encontramos,  infelizmente, em  aumento na sociedade  fortemente secularizada: o medo diante das  diferentes tradições religiosas e da dimensão religiosa em si. A religião é vista como algo inútil ou até mesmo perigoso;  as vezes se pretende que  cristãos renunciem suas próprias convicções religiosas e morais no exercício da profissão (cf. Bento XVI, Discurso ao Corpo Diplomático, 10 de janeiro de 2011).

É difundido o pensamento que a convivência só seria possível escondendo a própria pertença religiosa, encontrando-se em  uma espécie de espaço neutro, desprovido de referências à transcendência. Mas também aqui, como seria possível criar relacionamentos verdadeiros,  construir uma sociedade que seja autêntica casa comum,  impondo por de lado o que cada um considera como uma parte íntima do próprio ser? Não é possível  pensar em uma fraternidade “de laboratório”.

Certo, é necessário que tudo aconteça no respeito das convicções dos outros,  também daqueles que não acreditam, mas devemos ter a coragem e a paciência de irmos ao encontro do outro por aquilo que somos. O futuro está na coexistência respeitosa da diversidade,  não na aprovação de um pensamento único, teoricamente neutro. Temos visto ao longo da história, a tragédia dos pensamentos únicos. Torna-se, por isso, imprescindível  o reconhecimento do direito fundamental à liberdade religiosa, em todas as suas dimensões. Sobre isso, o Magistério da Igreja se expressou nas últimas décadas  com grande empenho. Estamos convencidos de que, por essa via  passa a edificação da paz no mundo.

Agradeço ao Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso pelo serviço valioso que desenvolve,  e invoco sobre cada um de vós a abundância das bênçãos do Senhor. Obrigado.


adailton

Adailton Batista é missionário da Comunidade Canção Nova desde 2009. Nasceu na cidade de Janaúba, MG. Atua como Gerente de mídias sociais e produtor de conteúdo do portal cancaonova.com. Estudante de jornalismo na Faculdade Canção Nova, é também autor do blog.cancaonova.com/metanoia.

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