Íntegra

Discurso do Papa à Congregação para as Igrejas Orientais

Discurso do Papa à Congregação para as Igrejas Orientais
DISCURSO

Audiência com os participantes da plenária da Congregação para as Igrejas Orientais
Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano
Quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal e Rodrigo Santos

Queridos irmãos e irmãs,

“Cristo é a luz dos povos”: assim começa a Constituição dogmática sobre Igreja do Concílio Ecumênico Vaticano II. Do oriente ao ocidente, toda a Igreja dá este testemunho do Filho de Deus; esta Igreja que, como evidencia mais tarde o mesmo texto conciliar, “está presente em toda nação da terra […], de fato, todos os fiéis espalhados pelo mundo estão em comunhão no Espírito Santo” (n. 13). “Assim – acrescenta, então, citando João Crisóstomo – quem está em Roma sabe que os índios são seus membros” (Homilia sobre João 65, 1: PG 59, 361).

A memorável sessão do Vaticano II teve também o mérito de recordar explicitamente como nas antigas liturgias das Igrejas Orientais, em sua teologia, espiritualidade e disciplina canônica “resplandece a tradição que deriva dos apóstolos através dos padres que constituem parte do patrimônio divinamente revelado e indiviso da Igreja universal” (Decr. Orientalium Ecclesiarum, 1).

Hoje tenho realmente o prazer de acolher os Patriarcas e os Arcebispos Maiores, junto com os cardeais, metropolitas e os bispos membros da Congregação para as Igrejas Orientais. Agradeço ao Cardeal Leonardo Sandri pela saudação que me dirigiu e reconheço a colaboração que recebo do Dicastério e de cada um de vocês.

Esta sessão plenária pretende recuperar a graça do Concílio Vaticano II e do sucessivo magistério sobre o Oriente cristão. Da verificação do caminho cumprido, emergem orientações para apoiar a missão confiada pelo Concílio aos irmãos e às irmãs do Oriente, isso é, de “promover a unidade de todos os cristãos, especialmente orientais” (ibid., 24). O Espírito Santo lhes guiou nesta tarefa não fácil nos trilhos da história, alimentando a fidelidade a Cristo, à Igreja universal e ao Sucessor de Pedro, também a um preço caro, não raramente até o martírio. A Igreja toda vos é realmente grata por isto!

Colocando-me no percurso traçado por meus Predecessores, quero aqui reafirmar que “existem legitimamente no seio a comunhão da Igreja, as Igrejas particulares, com as próprias tradições, permanecendo porém íntegro o primado da cátedra de Pedro, a qual preside à comunhão universal de caridade, tutela a variedade legítima e vigia para que o que é particular, não só não prejudique a unidade, mas possa servi-la” (Lumen gentium, 13). Sim, a variedade autentica, a variedade legitima, aquela inspirada pelo Espírito, não danifica a unidade, mas a serve; o Concílio nos diz que esta variedade é necessária à unidade!

Esta manhã, pude ouvir da viva voz dos Patriarcas e dos Arcebispos Maiores a situação das diversas Igrejas Orientais: a reflorescida vitalidade daquelas há muito tempo oprimidas sob regimes comunistas; o dinamismo missionário daqueles que vivem no Oriente Médio, não raramente na condição de “pequeno rebanho”, em ambientes marcados pela hostilidade, conflitos e também perseguições escondidas.

Em vossa reunião estão abordando várias problemáticas relacionadas à vida interna das Igrejas Orientais e a dimensão da diáspora, notavelmente crescida em cada continente. É preciso fazer todo o possível para que os auspícios conciliares encontrem realização, facilitando o cuidado pastoral em territórios próprios e onde as comunidades orientais estão há tempo estabelecidas, promovendo ao mesmo tempo a comunhão e a fraternidade com as comunidades de rito latino. Com isso, poderá contribuir uma renovada vitalidade a ser impressa aos organismos de consulta já existentes entre as particulares Igrejas e com a Santa Sé.

Meu pensamento se dirige de maneira especial à terra abençoada em que Cristo viveu, morreu e ressuscitou. Nela – adverti também hoje pela voz dos Patriarcas presentes – a luz da fé não se apagou, mas resplandece vivaz. É “a luz do Oriente” que “iluminou a Igreja universal, desde quando apareceu sobre nós um sol que surge (Lc 1,78), Jesus Cristo, nosso Senhor” (Carta ap. Orientale Lumen, 1). Cada católico tem por isso um débito de reconhecimento para com as Igrejas que vivem naquela região. Deles, podemos, entre outras coisas, aprender a paciência e a perseverança do exercício cotidiano muitas vezes marcado pela fadiga, pelo espírito ecumênico e pelo diálogo inter-religioso. O contexto geográfico, histórico e cultural em que elas vivem há séculos, de fato, as tornou interlocutoras naturais de numerosas outras confissões cristãs e de outras religiões.

Grande preocupação causa as condições de vida dos cristãos, que em muitas partes do Oriente Médio sofrem de maneira particularmente pesada as conseqüências das tensões e dos conflitos atuais. A Síria, o Iraque, o Egito, e outras áreas da Terra Santa, às vezes derramam-se em lágrimas. O Bispo de Roma não ficará em paz enquanto houver homens e mulheres, de qualquer religião, atingidos em sua dignidade, privados do necessário à sobrevivência, roubados do futuro, constrangidos à condição de desabrigados e refugiados. Hoje, junto aos Pastores das Igrejas do Oriente, fazemos um apelo para que seja respeitado o direito de todos a uma vida digna e a professar livremente a própria fé. Não nos resignamos a pensar no Oriente Médio sem cristãos, que há dois mil anos ali confessam o nome de Jesus, inseridos como cidadãos com plenos direitos na vida social, cultural e religiosa das nações a que pertencem.

A dor dos menores e dos mais frágeis, com o silêncio das vítimas, apontam um pergunta insistente: “Quanto resta da noite?” (Is 21,11). Continuamos a vigiar, como a sentinela bíblica, certos que de o Senhor não nos deixará faltar sua ajuda. Dirijo-me, por isso, a toda Igreja para exortar à oração, que saber obter do coração misericordioso de Deus a reconciliação e a paz. A oração desarma a loucura e gera diálogo onde há conflito. Se for sincera e perseverante, tornará nossa voz mansa e firme, capaz de fazer-se ouvir também pelos Responsáveis das Nações.

Meu pensamento vai, enfim, à Jerusalém, lá onde todos nascemos espiritualmente (cfr Sal 87,4). Desejo-lhe toda consolação para que possa ser verdadeiramente profecia daquela convocação definitiva, do oriente ao ocidente, disposta por Deus (cfr Is 43,5). Os beatos João XXIII e João Paulo II, incansáveis operadores de paz na terra, sejam nossos intercessores no céu, com a Toda Santa Mãe de Deus, que nos deu o Príncipe da Paz. Sobre cada um de vós e sobre as amadas Igrejas Orientais invoco a Benção do Senhor.

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