Na segunda catequese sobre a velhice, Francisco destacou a riqueza da aliança entre as gerações, o que torna todos mais ricos em humanidade
Da Redação, com Vatican News
“Longevidade: símbolo e oportunidade” foi o tema da catequese do Papa Francisco nesta quarta-feira, 2. Seguindo no ciclo de reflexões sobre a velhice, o Pontífice destacou hoje a riqueza que é o diálogo entre as gerações, o que fortifica a família humana e torna todos mais ricos em humanidade.
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“Na narração bíblica das genealogias dos progenitores, impressiona-nos a sua enorme longevidade: fala-se de séculos! Esta cadência secular do tempo, narrada em estilo ritual, confere à relação entre longevidade e genealogia um profundo significado simbólico, forte, muito forte”, sublinhou o Pontífice.
Francisco explicou que é como se a transmissão da vida humana, tão nova no universo criado, exigisse uma iniciação lenta e prolongada. Durante o longo período de tempo, a qualidade espiritual do homem é também lentamente cultivada.
O excesso de velocidade
O Santo Padre alertou sobre o excesso de velocidade que obceca todas as fases da nossa vida, tornando cada experiência mais superficial e menos “nutriente”. “Os jovens são vítimas inconscientes desta divisão entre o tempo do relógio, que quer ser queimado, e os tempos da vida, que requerem uma adequada “fermentação”. Uma vida longa permite experimentar estes longos tempos, e os danos da pressa”.
Segundo o Papa, a velhice certamente impõe ritmos mais lentos, mas não são apenas tempos de inércia. A medida destes ritmos abre espaços de significado da vida desconhecidos pela obsessão da velocidade. Já a perda de contato com os ritmos lentos da velhice fecha estes espaços para todos. E foi neste contexto que Francisco quis instituir a festa dos avós no último domingo de julho, explicou.
Diálogo entre gerações
Para o Pontífice, a aliança entre as duas gerações extremas da vida – crianças e idosos – também ajuda as outras duas – jovens e adultos – a criar laços entre si para tornar a existência de todos mais rica em humanidade. Francisco voltou a defender, então, o diálogo entre as gerações.
“Se não há diálogo entre jovens, idosos e adultos, se não há diálogo, cada geração permanece isolada e não pode transmitir a mensagem. Um jovem que não está ligado às suas raízes, que são os avós, não recebe a força, como a árvore, das raízes, e cresce mal, cresce doente, cresce sem referência. É preciso buscar como uma exigência humana o diálogo entre as gerações. É importante o diálogo entre avós e netos que são os dois extremos.”
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Francisco também acenou para a cultura do descarte, que tende a ser hostil com os idosos e não por acaso também com as crianças. “A velocidade nos coloca numa centrífuga que nos varre como confetes. Perdemos completamente de vista o todo. Cada um agarra-se ao seu pedacinho, flutuando sobre os fluxos da cidade-mercado, para a qual ritmos lentos são perdas e velocidade é dinheiro. A velocidade excessiva pulveriza a vida, não a torna mais intensa. A sabedoria nos pede para perder tempo”.
O ritmo dos idosos ajuda
O Papa ressaltou a necessidade de perder tempo com os filhos, com as crianças. Ele destacou que “este diálogo é fundamental para a sociedade”. Portanto, perder tempo com as crianças e também com os idosos, com um avô ou uma avó que talvez não raciocina bem ou perdeu a capacidade de falar. Esse perder tempo fortifica a família humana. “Crianças e idosos nos dão outra capacidade de ver a vida”, afirma o Papa.
Segundo o Pontífice, os ritmos da velhice são um recurso indispensável para apreender o significado da vida marcada pelo tempo. “Os idosos têm o seu ritmo, mas são ritmos que nos ajudam. Graças a esta mediação, com os idosos, o destino da vida ao encontro com Deus torna-se mais crível: um desígnio que se esconde na criação do ser humano “à sua imagem e semelhança” e que é selado com o Filho de Deus que se fez homem”.
A aliança das gerações é indispensável
Francisco sublinhou ainda que, atualmente, verifica-se uma maior longevidade da vida humana. E isso é uma oportunidade para incrementar a aliança entre todos os tempos da vida humana. Aliança também com o sentido da vida em sua totalidade.
“O sentido da vida não está somente na idade adulta, dos vinte cinco anos aos sessenta, não. O sentido da vida vai do nascimento até à morte e você tem de ser capaz de dialogar com todos, cultivar relações afetivas com todos. Assim a sua maturidade será mais rica, mais forte”.
Francisco concluiu observando que a prepotência do tempo do relógio deve ser convertida na beleza dos ritmos da vida. Eis uma reforma que o ser humano deve fazer em seu coração, na família e na sociedade. A aliança entre gerações é indispensável, define o Papa: sua falta implica uma sociedade estéril, sem futuro e sozinha.
“Que Deus nos ajude a encontrar a música adequada para esta harmonização das diferentes idades, crianças, idosos e adultos, todos juntos, uma verdadeira sinfonia de diálogo”, concluiu.