Homilia

Dia Mundial dos Pobres: a injustiça é a raiz perversa da pobreza, diz Papa

Francisco celebrou neste domingo, 18, a Solenidade da Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo fora dos Muros, e o II Dia Mundial dos Pobres

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante a missa do II Dia Mundial dos Pobres /Foto: Vatican Media

O Papa Francisco presidiu neste domingo, 18, na Basílica de São Pedro, a celebração eucarística da Solenidade da Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo fora dos Muros, e o II Dia Mundial dos Pobres. O Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa na conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia e celebrado pela primeira vez no ano passado, tem como tema este ano: “Este pobre grita e o Senhor o escuta” (Sl 34,7). Sobre a frase do salmista, o Santo Padre afirmou:

“A injustiça é a raiz perversa da pobreza. O grito dos pobres torna-se mais forte a cada dia, e a cada dia é menos ouvido, porque abafado pelo barulho de poucos ricos, que são sempre menos e sempre mais ricos. (…) Junto de Deus, o grito dos pobres encontra refúgio, mas e em nós? Temos olhos para ver, ouvidos para escutar, mãos estendidas para ajudar? Nos pobres, o próprio Cristo como que apela em alta voz para a caridade dos seus discípulos. Pede-nos para O reconhecermos em quem tem fome e sede, é forasteiro e está privado de dignidade, doente e encarcerado”.

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Em sua homilia, Francisco frisou três ações que Jesus realiza no Evangelho. A primeira: o deixar. “Em pleno dia, Jesus deixa a multidão na hora do sucesso, quando era aclamado por ter multiplicado os pães. Os discípulos queriam gozar do triunfo, mas Jesus obrigou-os imediatamente a partir, enquanto Ele despede a multidão”, recordou o Santo Padre.

O Pontífice sublinhou que, ao ser procurado pelo povo, Jesus retirou-se sozinho. “Quando tudo se apresentava ‘em descida’, Ele sobe ao monte para rezar. Depois, no coração da noite, desce do monte e vai encontrar os Seus, caminhando sobre as águas agitadas pelo vento. Em tudo isto, Jesus vai contracorrente: primeiro deixa o sucesso, depois a tranquilidade. Ensina-nos a coragem de deixar: deixar o sucesso que ensoberbece o coração, e a tranquilidade que adormece a alma”, refletiu.

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Francisco disse ainda que o cristão sabe que a sua pátria não é aqui, sabe – como recorda o apóstolo Paulo na segunda Leitura – que já é concidadão dos santos e membro da casa de Deus, é um ágil viandante da existência. “Não vivemos para acumular, a nossa glória está em deixar o que passa, para guardarmos aquilo que permanece”, frisou. O Papa convidou os cristãos a pedirem a Deus a graça de se assemelharem à Igreja descrita na primeira Leitura: sempre em movimento, especialista no deixar e fiel no servir.

Em sua segunda ação Jesus encorajou em plena noite, foi ao encontro dos discípulos submersos na escuridão, e caminhou sobre o mar. O Papa explicou que na realidade, tratava-se de um lago; mas naquele tempo o mar com a profundidade dos seus abismos tenebrosos, evocava as forças do mal.

“Em outras palavras, Jesus vai ao encontro dos discípulos, calcando os inimigos malignos do homem. Grande é o significado deste sinal: não uma manifestação celebrativa de força, mas a revelação, que nos é feita, da certeza tranquilizadora de que Jesus, só Jesus, vence os nossos grandes inimigos: o diabo, o pecado, a morte, o medo. Hoje, Ele diz também a nós: ‘Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais!’”, comentou o Pontífice.

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Em uma analogia com a leitura, o Santo Padre afirmou que a barca da vida humana vê-se, frequentemente balanceada pelas ondas e sacudida pelos ventos; e, se as águas por vezes estão calmas, não tardam a agitar-se. “Então nos irritamos com as tempestades do momento, como se fossem os nossos únicos problemas. Mas o problema não é a tempestade presente, mas o modo como navegar na vida. O segredo de navegar bem é convidar Jesus a subir a bordo. O leme da vida deve ser dado a Ele, para que seja Jesus a traçar a rota”, suscitou.

Na terceira ação o Papa relembrou que no meio da tempestade Jesus estende a mão e agarra Pedro que, assustado, duvidou e, afundando, gritou: ‘Salva-me, Senhor!’. “Podemos colocar-nos no lugar de Pedro: somos pessoas de pouca fé e estamos aqui a mendigar a salvação. Somos pobres de vida verdadeira, e serve-nos a mão estendida do Senhor que nos tire fora do mal. Isto é o início da fé: esvaziar-se da orgulhosa convicção de nos julgarmos em ordem, capazes, autônomos, para nos reconhecermos necessitados de salvação”, comentou Francisco.

A fé, de acordo com o Santo Padre, cresce em um clima ao qual o ser humano se adapta convivendo com quantos não se colocam no pedestal, mas precisam e pedem ajuda. “Por isso é importante, para todos nós, viver a fé em contato com os necessitados. Não é uma opção sociológica, mas exigência teológica. É reconhecer-se mendigos de salvação, irmãos e irmãs de todos, mas especialmente dos pobres, prediletos do Senhor. Assim bebemos do espírito do Evangelho: ‘o espírito de pobreza e de caridade são a glória e o testemunho da Igreja de Cristo”, refletiu.

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“Jesus ouviu o grito de Pedro”, frisou o Papa, convidando os fiéis a pedirem a graça de ouvir o grito de quem vive em águas agitadas. “O grito dos pobres: é o grito estrangulado de bebês que não podem vir à luz, de crianças que passam fome, de adolescentes acostumados ao estrondo das bombas ao invés da algazarra alegre das brincadeiras. É o grito de idosos descartados e deixados sozinhos. É o grito de quem se encontra a enfrentar as tempestades da vida sem uma presença amiga. É o grito daqueles que têm de fugir, deixando a casa e a terra sem a certeza dum refúgio. É o grito de populações inteiras, privadas inclusive dos enormes recursos naturais de que dispõem. É o grito dos inúmeros Lázaros que choram, enquanto poucos epulões se banqueteiam com aquilo que, por justiça, é para todos”, comentou o Pontífice.

Segundo Francisco, diante da dignidade humana espezinhada, muitas vezes fica-se de braços cruzados ou então de braços abertos diante da força obscura do mal. O Santo Padre afirmou então que o cristão não pode ficar de braços cruzados, indiferente, nem de braços abertos, fatalista. Para o Pontífice, todo fiel estende a mão, como Jesus faz com ele. “O Senhor estende a mão: é um gesto gratuito, não devido. É assim que se faz. Não somos chamados a fazer o bem só a quem nos ama. Retribuir é normal, mas Jesus pede para ir mais longe dar a quem não tem para restituir, isto significa, amar gratuitamente”, concluiu o Papa.

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