Afirmação do Santo Padre foi feita durante homilia da santa missa de encerramento da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Da redação, com Boletim da Santa Sé
“Deus é jovem e ama os jovens!”. A frase foi dita na manhã deste domingo, 28, pelo Papa Francisco, durante homilia da santa missa de conclusão da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, iniciada no dia 3 de outubro. Com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, a conferência reuniu, durante 25 dias, 267 padres sinodais que trabalharam na elaboração e conclusão do documento final do Sínodo, entregue neste sábado, 27.
O evangelho de hoje, narrado pelo evangelista Marcos, conta sobre momentos depois da entrada de Jesus em Jerusalém, onde morreria e ressuscitaria. No texto, Bartimeu é o último que segue Jesus ao longo do caminho. Diante deste fato, Francisco fez uma analogia do momento em que o mendigo junta-se aos outros e segue para Jerusalém, com as atividades realizadas durante o Sínodo. “Também nós caminhamos juntos, fizemos sínodo, e agora este Evangelho corrobora três passos fundamentais no caminho da fé”, apontou.
O Pontífice comentou sobre a figura de Bartimeu. “Não é amado, mas abandonado. É cego e não tem quem o ouça; e, quando queria falar, mandavam-no calar. Jesus ouve o seu grito. E, quando Se encontra com ele, deixa-o falar” contou o Santo Padre. O Papa observou que Jesus o ouviu e não teve pressa, e elencou este ato como o primeiro passo para ajudar no caminho da fé. “É o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar”, frisou.
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.: Homilia do Papa na conclusão da XV Assembleia do Sínodo
Os discípulos que repreendiam Bartimeu para que permanecesse calado, seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos, apontou Francisco. “Trata-se dum risco do qual sempre nos devemos precaver. Ao contrário, para Jesus, o grito de quem pede ajuda não é um transtorno que estorva o caminho, mas uma questão vital. Como é importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo”, afirmou.
Ouvir com amor, com paciência, são ações apontadas pelo Santo Padre como importantes. “Assim como Deus faz com as nossas orações muitas vezes repetitivas. Deus nunca Se cansa, sempre Se alegra quando O procuramos”, comentou. Francisco encorajou os fiéis a pedirem a graça de terem um coração dócil a escutar.
“Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos. Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, (…) e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda necessária para se avançar”, falou o Papa aos jovens.
Depois da escuta, Francisco apontou como segundo passo para acompanhar o caminho de fé, o fazer-se próximo. “Vejamos Jesus, que não delega a ninguém da grande multidão que O seguia, mas encontra Ele pessoalmente Bartimeu (…). É assim que Deus procede, envolvendo-Se pessoalmente com um amor de predileção por cada um. Na sua maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem: assim a fé germina na vida”, afirmou o Pontífice, que alertou: “Quando a fé se concentra apenas em formulações doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à cabeça, sem tocar o coração”
“Interroguemo-nos se somos cristãos capazes de nos tornar próximo, capazes de sair dos nossos círculos para abraçar aqueles que não são dos nossos e a quem Deus ansiosamente procura. Sempre existe aquela tentação que reaparece tantas vezes na Escritura: lavar as mãos, desinteressar-se. É o que faz a multidão no Evangelho de hoje, é o que fez Caim com Abel, é o que fará Pilatos com Jesus: lavar as mãos. Nós, pelo contrário, queremos imitar Jesus e, como Ele, meter as mãos na massa, sujá-la”, exortou Francisco.
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Testemunhar é o terceiro passo apontado pelo Papa. “Olhemos os discípulos que chamam Bartimeu: não vão junto dele, que mendigava, levar uma moedinha para o contentar ou dar-lhe conselhos; vão em nome de Jesus. De facto, dirigem-lhe apenas três palavras, todas de Jesus: ‘Coragem, levanta-te que Ele chama-te’ (10, 49). No resto do Evangelho, só Jesus diz ‘coragem!’, porque só Ele ressuscita o coração”, frisou o Pontífice. Para Francisco, não é cristão esperar que os irmãos inquietos batam à porta. “Somos nós que devemos ir ter com eles, não lhes levando a nós mesmos, mas Jesus. Ele manda-nos, como aqueles discípulos, para encorajar e levantar em seu nome”, ressaltou.
O Santo Padre recordou a última frase de Jesus a Bartimeu: ‘Vai, a tua fé te salvou’ (10, 52). “Bartimeu não fez profissões de fé, não realizou ação alguma; pediu apenas piedade. Sentir-se necessitado de salvação é o início da fé. É o caminho direto para encontrar Jesus. A fé, que salvou Bartimeu, não estava nas suas ideias claras sobre Deus, mas no fato de O procurar, de O querer encontrar. A fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas o testemunho da nossa vida”, comentou.
Por fim, Francisco agradeceu todos que participaram do caminho sinodal: “Obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus”.