Papa discursou no encerramento do encontro “O grito da paz”, organizado pela Comunidade de Santo Egídio e que teve a participação de vários líderes religiosos
Jéssica Marçal
Da Redação
No silêncio da oração ouve-se o grito da paz, gravemente violada e ferida, mas o diálogo é o caminho para desarmar os conflitos que afligem a humanidade. Essa é a mensagem do Papa Francisco no encontro de oração pela paz realizado nesta terça-feira, 25, no Coliseu, em Roma.
Francisco se uniu a outros líderes religiosos para levantar a voz, uma vez mais, em prol da paz no mundo. Ele participou do encerramento do encontro organizado pela Comunidade de Santo Egídio com o tema “O grito da paz. Religiões e culturas em diálogo”.
“Neste ano, a nossa oração se tornou um ‘grito’, porque hoje a paz está gravemente violada, ferida”, disse Francisco. Infelizmente, as guerras não deixaram de ensanguentar e empobrecer a terra, lamentou o Papa, mas o momento atual é particularmente grave, ponderou. “Por isso, elevamos a nossa oração a Deus, que sempre ouve o grito angustiado dos seus filhos”.
O Papa afirmou que, muitas vezes, o grito da paz é silenciado pela retórica da guerra e pela indiferença. Nem mesmo crianças e idosos são poupados do terror da guerra. “Mas a invocação da paz não pode ser suprimida: nasce do coração das mães, está escrita nos rostos dos refugiados, das famílias em fuga, dos feridos ou dos moribundos. E este grito silencioso sobe ao céu.”
O projeto de Deus é a paz
Recordando um trecho de sua encíclica Fratelli tutti, Francisco lembrou que toda guerra deixa o mundo pior. E hoje se está verificando o que se temia e que nunca se gostaria de ouvir: o uso de armas atômicas, que continuaram a ser produzidas mesmo após Hiroshima e Nagasaki.
Este cenário, porém, não muda o projeto de Deus, que é um projeto de paz. A paz é dom de Deus, lembrou o Papa, mas deve ser acolhida e cultivada por homens e mulheres, especialmente pelos crentes.
“Não nos deixemos contagiar pela lógica perversa da guerra; não caiamos na armadilha do ódio pelo inimigo. Coloquemos a paz no centro da visão de futuro, como objetivo central da nossa ação pessoal, social e política, em todos os níveis. Desarmemos os conflitos com a arma do diálogo”.
O apelo de paz de São João XXIII
O Pontífice recordou o apelo feito por São João XXIII em outubro de 1962, quando pareciam próximos o conflito militar e uma deflagração nuclear. Na ocasião, o então Papa suplicou a todos os governantes que não ficassem surdos ao grito da humanidade. Levantou a voz para pedir diálogo em todos os níveis, uma regra de sabedoria e de prudência.
Hoje, após 60 anos, estas palavras têm uma impressionante atualidade, frisou o Papa Francisco. “Faço-as minha”, acrescentou.
Semear a reconciliação
Na última parte de seu discurso, Francisco destacou os progressos feitos pela fraternidade entre as religiões. Ele recordou que, há um ano, os líderes religiosos já haviam se reunido ali mesmo, no Coliseu, lançando um apelo que hoje é mais atual do que nunca. Na ocasião, enfatizaram que as religiões não podem ser usadas para a guerra, e que ninguém pode usar o nome de Deus para abençoar o terror e a violência.
Segundo o Papa, segue-se nesse caminho de não desistir frente às guerras, pois os povos querem a paz. “Não nos resignemos à guerra, cultivemos sementes de reconciliação”.