Durante sua primeira missa na Letônia, Papa Francisco recordou momentos em que a vida de Jesus cruza a de Maria
Da redação
Em sua primeira Missa na Letônia, Papa Francisco recordou dois momentos em que a vida de Jesus cruza a de Maria: as bodas de Caná (cf. 2, 1-12) e o texto tema do evangelho desta segunda-feira, 24, o qual cita Maria aos pés da cruz (cf. 19, 25-27). Segundo o Santo Padre, Maria mostra aos cristãos como estar junto daqueles que sofrem, daqueles de quem todo o mundo foge. “Também nós somos chamados a tocar o sofrimento dos outros”, exortou o Pontífice.
Segundo Francisco, na Letônia, repetiu-se o que São Lucas narra no início do livro dos Atos dos Apóstolos: “Estamos intimamente unidos, dedicando-nos à oração e na companhia de Maria, nossa Mãe (cf. 1, 14). Hoje fazemos nosso o lema desta visita: Mostrai-vos Mãe!”, comentou o Papa, que prosseguiu incentivando os fiéis a pedirem a Nossa Senhora que os ajude a encontrar os lugares onde está Jesus crucificado, para encontrarem a presença firme de Deus.
O Evangelho de João, proclamado durante a celebração, tem o interesse de mostrar ao povo, de acordo com o Santo Padre, a Mãe de Jesus em situações de vida aparentemente opostas: a alegria de um matrimônio e o sofrimento pela morte de seu filho.
Durante seu sofrimento aos pés da cruz de Jesus, o Pontífice ressalta que a primeira coisa que o evangelista sublinha em Maria, é que ela está firmemente de pé junto de seu Filho. “É assim que Maria Se mostra em primeiro lugar: junto daqueles que são julgados, condenados por todos, deportados. Não se trata apenas de oprimidos ou explorados, mas estão diretamente fora do sistema, à margem da sociedade (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 53)”.
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Além de estar junto a realidades de dificuldade extrema, Francisco recorda que Maria mostra também como estar próxima: “Não é dar um passeio ou fazer uma breve visita, nem se trata sequer de turismo solidário. É necessário que aqueles que padecem uma realidade dolorosa nos sintam a seu lado e da sua parte, de maneira firme, estável; todos os descartados da sociedade podem experimentar esta Mãe delicadamente próxima, porque, naqueles que sofrem, permanecem as chagas abertas do seu Filho Jesus”, recordou.
Como Maria, o Papa incentivou os fiéis a permanecerem firmes e de pé, com o coração voltado para Deus e corajosos, levantando os que caíram, erguendo os humilhados, e ajudando a pôr fim a toda e qualquer situação de opressão.
No texto de hoje, Maria também fica em evidência, diante do convite feito por Jesus, para que aceitasse o discípulo amado como seu filho. O texto refere que estavam juntos, apontou o Pontífice, mas Jesus dá-se conta de que isto não é suficiente, porque não se acolheram reciprocamente. “É possível estar junto de muitíssimas pessoas, pode-se até compartilhar a mesma casa, bairro ou trabalho; pode-se compartilhar a fé, contemplar e desfrutar os mesmos mistérios, mas sem acolher, nem praticar uma aceitação amorosa do outro”, alertou.
Francisco recordou que às vezes a abertura aos outros pode ter feito mal a muitos, e que as realidades políticas e a história do choque entre os povos é também uma verdade que ainda está dolorosamente viva, mas é preciso, como Maria, estar aberto ao perdão que põe de lado ressentimentos e difidências.
Segundo o Papa, Nossa Senhora renuncia a lamentar-se como tudo poderia ter andado diversamente, se os amigos de seu Filho, os sacerdotes do seu povo ou os governantes se tivessem comportado de outra maneira. “[Maria] não Se deixa vencer pela frustração nem pela impotência. Maria crê em Jesus e acolhe o discípulo, porque as relações que nos curam e libertam são aquelas que nos abrem ao encontro e à fraternidade com os outros, porque, no outro, descobrem o próprio Deus (cf. ibid., 92)”, suscitou o Pontífice.
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“Num período em que parecem voltar mentalidades que nos convidam a desconfiar dos outros, que querem demonstrar-nos com estatísticas que estaremos melhor, teremos mais prosperidade, haveria mais segurança se estivéssemos sozinhos, Maria e os discípulos destas terras convidam-nos a acolher, a apostar de novo no irmão, na fraternidade universal”, incentivou o Santo Padre.
Além de uma pessoa que vive o perdão, Francisco reforçou que Maria mostra-se também como a mulher que se deixa acolher, que aceita humildemente fazer parte das coisas do discípulo. “Naquele matrimônio que ficara sem vinho, com o perigo de acabar cheio de ritos, mas árido de amor e alegria, foi Ela quem ordenou que fizessem o que Ele lhes dissesse (cf. Jo 2, 5). Agora Ela, como discípula obediente, deixa-se acolher, transfere-se, adapta-se ao ritmo do mais novo”, frisou.
“A harmonia custa sempre, quando somos diferentes, quando os anos, as histórias e as circunstâncias nos situam em modos de sentir, pensar e fazer que, à primeira vista, parecem opostos. Quando ouvimos, com fé, a ordem de acolher e ser acolhidos, é possível construir a unidade na diversidade, porque não nos travam nem dividem as diferenças, mas somos capazes de olhar mais além, ver os outros na sua dignidade mais profunda, como filhos de um e mesmo Pai (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 228)”, observou o Papa.
Por fim, o Santo Padre reafirmou a memória da Eucaristia desta segunda-feira, sobre a crucificação: “Aos pés da cruz, Maria lembra-nos a alegria de termos sido reconhecidos como seus filhos, e seu Filho Jesus convida-nos a levá-la para casa, a colocá-la no centro da nossa vida. Ela quer dar-nos a sua coragem para permanecermos firmes de pé; a sua humildade, que Lhe permite adaptar-se às coordenadas de cada momento da história”. Francisco pediu aos fiéis que se comprometam a acolher, sem discriminações, todos da Letônia, privilegiando os pobres e levantando aqueles que caíram.