Apresentando o testemunho de Santa Bakhita, “uma parábola existencial de perdão”, Francisco falou sobre a necessidade de humanizar o outro e a si próprio
Da Redação, com Vatican News
Prosseguindo com o ciclo de reflexões sobre o zelo apostólico na Catequese, o Papa Francisco apresentou, na Audiência Geral desta quarta-feira, 11, o testemunho de Santa Josefina Bakhita. O Pontífice a apresentou como “uma parábola existencial de perdão”.
No início de sua fala, o Santo Padre recordou o “terrível conflito armado” que dilacera o Sudão, país-natal de Santa Bakhita, “sobre o qual pouco se fala hoje”. Ele pediu também que “rezemos pelo povo sudanês, para que possa viver em paz”.
Amparo no sofrimento
Voltando-se para a santa sudanesa, Francisco contou que ela nasceu em Olgossa, na região de Darfur, em 1869; aos sete anos, foi sequestrada e escravizada. Seus raptores a chamavam de “Bakhita”, que significa “afortunada”. Ela teve oito donos diferentes, e sofreu violências que deixaram mais de 100 cicatrizes em seu corpo.
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“Os sofrimentos físicos e morais de que foi vítima, desde pequena, a deixaram sem identidade. (…) Mas ela mesma testemunhou: ‘Como escrava, nunca me desesperei, porque sentia uma força misteriosa que me amparava’”, detalhou o Papa.
Compadecer-se e humanizar
Diante deste sofrimento, apontou o Pontífice, muitas vezes o oprimido acaba tornando-se, posteriormente, um opressor. Contudo, ele indicou que “a vocação dos oprimidos é aquela de libertar os seus opressores a si mesmo, tornando-se restaurador de humanidade. Somente na fraqueza dos oprimidos pode se revelar a força do amor de Deus que liberta ambos. Santa Bakhita expressa muito bem esta verdade”.
Na sequência, Francisco contou que Bakhita ganhou, de um de seus tutores, um pequeno crucifixo, que guardou como um tesouro. Ele relatou que a santa, ao olhar para aquele ícone, experimentou “uma profunda libertação interior porque se sente compreendida e amada e, portanto, capaz de compreender e amar por sua vez”.
“O amor de Deus sempre me acompanhou de forma misteriosa… O Senhor me quis tão bem: é preciso querer bem a todos. É preciso ter compaixão!”
– Santa Bakhita
O Santo Padre explicou também que “com-padecer” significa padecer junto do outro, com as vítimas da desumanidade presente no mundo, é ter compaixão de quem comete erros e injustiças, não buscando justificá-los, mas humanizá-los.
“Quando entramos na lógica da luta, da divisão entre nós, de sentimentos ruins, uns contra outros, perdemos humanidade. Muitas vezes, pensamos que precisamos de humanidade, ser mais humanos. Isso é o que nos ensina Santa Bakhita: humanizar, humanizar a nós mesmos e humanizar os outros”, sublinhou o Papa.
Perdão, fonte de libertação
Convertendo-se ao cristianismo, Santa Bakhita foi transformada pelas palavras de Jesus pregado na cruz, que meditava diariamente: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (cf. Lc 23, 34). O Pontífice comentou que a santa costumava dizer: “Se Judas tivesse pedido perdão a Jesus, também ele teria encontrado misericórdia”. Para o Santo Padre, ela tornou-se um verdadeiro exemplo de perdão.
“Que bonito dizer de uma pessoa que ela foi capaz de perdoar sempre, sempre. E ela foi capaz de fazer isso sempre. Perdoar, porque, depois, seremos perdoados. Não se esqueçam disso. O perdão é a carícia de Deus a todos nós”, ensinou Francisco.
Ele destacou ainda que o perdão foi o que libertou Santa Bakhita: “O perdão recebido, primeiro pelo amor misericordioso de Deus, e, depois, o perdão dado fizeram dela uma mulher livre, alegre, capaz de amar. Assim, Bakhita pôde viver o serviço não como uma escravidão, mas como expressão do dom livre de si. Isso é muito importante: feita serva pela força, escolheu então livremente tornar-se serva, carregar nos ombros o fardo dos outros”.
Por fim, o Santo Padre afirmou que a santa, com o seu exemplo, indica a todos o caminho para a libertação das escravidões e dos medos, e ajuda a desmascarar as hipocrisias e os egoísmos, a superar ressentimentos e conflitos. “O perdão não tira nada, mas acrescenta dignidade à pessoa (…). O perdão é fonte de um zelo que se torna misericórdia e chama a uma santidade humilde e alegre, como a de Santa Bakhita”, concluiu.