AUDIÊNCIA GERAL

Papa: “não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal”

Na Audiência Geral, Francisco destaca o testemunho de São Juan Diego e as aparições da Virgem Maria, que anuncia o Evangelho com “língua materna”

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 23 / Foto: Vatican Media­Handout via REUTERS

O Papa Francisco se encontrou com os fiéis reunidos na Sala Paulo VI, para a Audiência Geral desta quarta-feira, 23. Após não ter realizado o tradicional encontro na última semana, o Pontífice seguiu com o ciclo de reflexões sobre a paixão pela evangelização, partindo da história de São Juan Diego e da aparição da Virgem Maria, em Guadalupe (México).

Definida pelo Papa como “uma fonte sempre viva” de evangelização, a cidade mexicana foi o local em que Nossa Senhora apareceu a um humilde indígena da região. O Santo Padre afirmou que “certamente o Evangelho já lá tinha chegado antes deste acontecimento. Contudo, o anúncio da Palavra de Deus “infelizmente foi acompanhado também por interesses mundanos”.

“Em vez do caminho da inculturação, tomou-se muitas vezes o percurso apressado do transplante e da imposição de modelos pré-constituídos – europeus, por exemplo –, sem respeito pelas populações indígenas. A Virgem de Guadalupe, pelo contrário, aparece vestida com as roupas dos autóctones, fala a sua língua, acolhe e ama a cultura local: Maria é Mãe e sob o seu manto cada filho encontra lugar”, narrou o Pontífice.

Anúncio na língua materna

Prosseguindo, ele destacou que Deus Se encarnou por meio de Maria, e continua a Se encarnar na vida dos povos. Nossa Senhora O anuncia na língua mais adequada, que é a língua materna. Assim, a Mãe segue anunciando seu Filho, e as mulheres também transmitindo o Evangelho aos seus descendentes.

“O Evangelho é transmitido na língua materna. E gostaria de dizer obrigado a tantas mães e avós que o transmitem aos seus filhos e netos: a fé passa com a vida, por isso as mães e as avós são as primeiras anunciadoras. Um aplauso às mães e avós! E o Evangelho se comunica, como mostra Maria, na simplicidade: Nossa Senhora escolhe sempre os simples, na colina de Tepeyac, no México, como em Lourdes e em Fátima: falando-lhes, fala a cada um, numa linguagem adequada a todos, com uma linguagem compreensível, como a de Jesus”, declarou Francisco.

Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, em 2016 / Foto: Reprodução Youtube Vatican News

Testemunho de São Juan Diego

Voltando-se para São Juan Diego, mensageiro da Virgem de Guadalupe, ele ressaltou a humildade daquele “índio do povo”. Foi sobre ele que pousou o olhar de Deus, que tem predileção pelos pequeninos ao realizar milagres.

O Papa descreveu que São Juan Diego converteu-se ao catolicismo já adulto. Quando tinha cerca de 55 anos, enquanto estava a caminho, viu numa altura a Mãe de Deus, que lhe chamou com ternura: “meu pequeno e amado filho Juanito”. Ela pediu que ele fosse ao bispo, para pedir que naquele local fosse construído um templo .

Simples e disponível, o indígena foi com a generosidade do seu coração puro, mas precisou esperar muito tempo. Quando enfim falou com o bispo, o religioso não acreditou. Juan Diego voltou a se encontrar com Nossa Senhora, que o consolou e lhe pediu que tentasse de novo. Ele voltou ao bispo que, depois de o ouvir, o despediu e enviou homens para o seguirem. “Eis a fadiga, a prova do anúncio: não obstante o zelo, chegam os imprevistos, por vezes, da própria Igreja”, sublinhou o Santo Padre.

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Francisco também ensinou que, “para anunciar, com efeito, não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal. (…) Um cristão faz o bem, mas suporta o mal. Ambos caminham juntos, a vida é assim. Ainda hoje, em tantos lugares, inculturar o Evangelho e evangelizar as culturas exige perseverança e paciência, não temer os conflitos, não desanimar”.

Perseverar no anúncio

Continuando com a história da aparição da Virgem em Guadalupe, ele contou que São Juan Diego pediu que Nossa Senhora o dispensasse e fizesse o pedido a alguém mais capaz. Neste ponto, o Pontífice alertou que há sempre o risco de uma certa rendição no anúncio. Contudo, assim como com o humilde homem, Nossa Senhora, “ao mesmo tempo que nos consola, faz-nos ir em frente e assim nos faz crescer, como uma boa mãe que, seguindo os passos do filho, o lança nos desafios do mundo”.

Diante da persistência de São Juan Diego, o bispo então lhe pediu um sinal. Nossa Senhora mais uma vez o consolou: “Não perturbe seu rosto, seu coração: (…) Não estou eu aqui, que sou sua mãe?”. Assim, ainda que fosse inverno na época, o índio recolheu em sua “tilma” (uma vestimenta típica) algumas flores do alto do Tepeyac.

Presença da Mãe

Diante do bispo, ao abrir o manto para mostrar as flores, surgiu também a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. O bispo então autorizou a construção do santuário, e São Juan Diego dedicou o resto da sua vida na evangelização daqueles que iam visitar o templo.

Foto: Marcaroni por Pixabay

“É o que acontece nos santuários marianos, meta de peregrinações e lugares de anúncio, onde todos se sentem em casa e experimentam a saudade, a nostalgia do Céu. Ali, a fé é acolhida de forma simples e genuína, popular, e Nossa Senhora, como disse a Juan Diego, escuta os nossos prantos e cura as nossas penas”, comentou Francisco.

Por fim, o Papa descreveu como nestes “oásis de consolação e misericórdia”, onde a fé se exprime em linguagem materna, o fiel pode depositar as fadigas da vida nos braços de Nossa Senhora e, depois, regressar à vida com a paz no coração.

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