Francisco encerrou, nesta quarta-feira, 29, o ciclo de catequeses das Bem-aventuranças: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus”
Da redação, com Vatican News
Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, 29, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico por causa da pandemia de coronavírus, o Papa Francisco concluiu o percurso das Bem-aventuranças. “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”. Segundo o Santo Padre, ela “anuncia a mesma felicidade que a primeira: o Reino dos Céus é dos perseguidos e dos pobres em espírito”.
“Pobreza em espírito, choro, mansidão, sede de santidade, misericórdia, purificação do coração e obras de paz podem levar à perseguição por causa de Cristo, mas, no final, essa perseguição é motivo de alegria e grande recompensa nos céus”, sublinhou Francisco. Para o Pontífice, o caminho das Bem-aventuranças é um caminho pascal que leva de uma vida segundo o mundo para a vida segundo Deus, de uma existência guiada pela carne, ou seja, pelo egoísmo, para uma existência guiada pelo Espírito.
O Papa acrescentou: “O mundo, com seus ídolos, seus acordos e suas prioridades, não pode aprovar esse tipo de existência. As ‘estruturas de pecado, muitas vezes produzidas pela mentalidade humana, tão estranhas ao Espírito da verdade que o mundo não pode receber, só podem rejeitar a pobreza ou a mansidão ou a pureza e declarar a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, como algo a ser marginalizado. O mundo pensa assim: estes são idealistas ou fanáticos”.
O Santo Padre destacou que, se o mundo vive em função do dinheiro, qualquer um que demonstre que a vida pode ser cumprida no dom e na renúncia se torna um incômodo para o sistema ávido. “A palavra ‘fastio’ é fundamental, pois o testemunho cristão, que faz bem a muitas pessoas, incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana. Eles vivem isso como uma repreensão. Quando a santidade aparece e a vida dos filhos de Deus emerge, nessa beleza há algo de inconveniente que exige uma tomada de posição: ser questionado e abrir-se ao bem ou recusar essa luz e endurecer o coração”.
“É curioso, chama a atenção ver como, nas perseguições dos mártires, a hostilidade aumenta a ponto de incomodar”, frisou Francisco. Basta recordar “as perseguições das ditaduras europeias do século passado: como se chega à ira contra os cristãos, contra o testemunho cristão e contra o heroísmo dos cristãos”, complementou.
O Pontífice prosseguiu: “É doloroso recordar que, neste momento, existem muitos cristãos que sofrem perseguições em várias áreas do mundo, e devemos esperar e rezar para que sua tribulação seja interrompida o mais rápido possível. São muitos: os mártires de hoje são mais do que os mártires dos primeiros séculos. Expressamos nossa proximidade a esses irmãos e irmãs: somos um único corpo, e esses cristãos são os membros ensanguentados do corpo de Cristo, que é a Igreja”.
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Estar atentos para não ler essa Bem-aventurança de maneira vitimista, de autocomiseração, pede o Papa. De fato, o Santo Padre salienta que o desprezo dos homens nem sempre é sinônimo de perseguição: Jesus diz que os cristãos são o “sal da terra” e alerta contra o perigo de “perder o sabor”, caso contrário, o sal “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. “Portanto, há também um desprezo que é culpa nossa quando perdemos o sabor de Cristo e do Evangelho”.
“Devemos ser fiéis ao caminho humilde das Bem-aventuranças, porque é o que leva a ser de Cristo e não do mundo. Vale a pena lembrar o percurso de São Paulo: quando ele pensava que era justo, era de fato perseguidor, mas quando descobriu que era perseguidor, tornou-se um homem de amor, que enfrentou de bom grado o sofrimento da perseguição que sofria”, esclareceu o Pontífice.
O Papa continuou: “A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, nos fazem assemelhar a Cristo crucificado e, associando-nos à Sua Paixão, são a manifestação de uma nova vida. Esta vida é a mesma de Cristo, que para nós homens e para a nossa salvação foi ‘desprezado e rejeitado pelos homens’. Acolher seu Espírito pode nos levar a ter tanto amor no coração, a ponto de oferecermos a vida ao mundo sem fazer acordos com seus enganos e aceitando a recusa”.
Os acordos com o mundo são perigosos: o cristão é sempre tentado a fazer acordos com o mundo, com o espírito do mundo, disse o Santo Padre, ressaltando que é preciso rejeitar os acordos e seguir o caminho de Jesus Cristo. “A vida do Reino dos Céus é a maior alegria, a verdadeira alegria”. “Nas perseguições, há sempre a presença de Jesus que nos acompanha, a presença de Jesus que nos consola e a força do Espírito que nos ajuda a seguir em frente. Não desanimemos quando uma vida coerente do Evangelho atrai as perseguições das pessoas: o Espírito nos sustenta nesse caminho”, concluiu o Papa.