Roberto Benigni, ator italiano que levou três estatuetas do Oscar, fez um discurso após a missa na Praça São Pedro por ocasião da I Jornada Mundial das Crianças
Da redação, com Vatican News
Roberto Benigni fez um discurso ao final da missa da Jornada Mundial das Crianças / Foto: Alberto Lingria – Reuters
O ator e comediante italiano Roberto Benigni é mais conhecido no mundo de língua inglesa por seu filme de 1997 “A Vida É Bela”, que ganhou três estatuetas do Oscar. Mas, em seu país natal, é igualmente famoso pelos seus monólogos, que combinam a sua exuberância e humor característicos com comentários sobre política e literatura.
Todos estes elementos clássicos estiveram presentes no monólogo que Benigni proferiu numa lotada Praça de São Pedro neste domingo, 26, após a missa da primeira edição da Jornada Mundial das Crianças.
O ator italiano dirigiu-se ao Papa — e às milhares de crianças que se reuniram na praça — sobre assuntos que vão desde sonhos e contos de fadas até dúvidas, guerra e o Sermão da Montanha de Jesus. Abaixo estão alguns excertos de seu discurso:
Sonhos
“Posso ver vocês aqui, cheios de sonhos. Posso sentir esse zumbido, uma colmeia de sonhos, um enxame. Sonhar! É a coisa mais linda do mundo. Mas quero contar um segredo a vocês: vocês me dirão que sabem sonhar, dirão que só precisam fechar os olhos, dormir e sonhar. Não, não. Vou contar um segredo: para sonhar não é preciso fechar os olhos. Você tem que abri-los! Você tem que abrir os olhos, ler, escrever, inventar”.
Contos de fadas
“As crianças têm que ler tudo. Todos os contos de fadas, que são tão importantes! Você vai me perguntar: qual é o sentido dos contos de fadas, com as princesas, os ogros e os dragões? Não, os contos de fadas não dizem às crianças que os dragões existem — elas já sabem disso! Os contos de fadas ensinam às crianças que os dragões podem ser derrotados”.
Dificuldades
“Faça coisas difíceis — quanto mais difíceis forem, melhor! Quando você diz: ‘Não consigo fazer isso; é muito difícil’, é isso que você tem que fazer! Coisas difíceis. E se você errar, não se preocupe! Você comete erros? Está tudo bem – cometa um erro e depois cometa um erro novamente, tente e tente novamente. Os erros são necessários, úteis e, por vezes, belos — por exemplo, a Torre Inclinada de Pisa. Que lindo erro!
Dúvidas
“Eu sei que você ainda é pequeno, está naquela idade em que não sabe o que fazer, tem muitas dúvidas, mas não se preocupe, você vai crescer e depois vai tenha ainda mais! Quando eu era pequena, minha mãe me dizia: ‘Robertino, aprenda as coisas agora, porque quando você crescer você não vai entender mais nada’. Não confie em pessoas que lhe dizem: ‘Tenha certeza, siga seu caminho’. Não! O oposto: você tem que estar inseguro. Quanto mais inseguro, indeciso, cético e duvidoso você for, quanto mais dúvidas tiver, melhor. As certezas são boas, mas a incerteza é melhor”.
O Sermão da Montanha
“Na vida as pessoas dão muitos conselhos. Mas posso dizer honestamente: a única coisa sensata que ouvi em toda a minha vida, sabe de quem ouvi? De Jesus. No Evangelho, o Sermão da Montanha. Quando Jesus — é encantador, tão lindo, uma beleza que você não consegue resistir — quando Jesus dá essas listas, temos que memorizá-las. Bem-aventurados os humildes, os pacificadores, os misericordiosos. Exatamente, bem-aventurados os misericordiosos, ou seja, que cuidam da dor dos outros, são sensíveis, perdoam. Basicamente, sendo profundamente bom. Foi isso que Jesus disse, e digo-vos, parece-me ser a única coisa sensata que ouvi em toda a minha vida, a única boa ideia que alguma vez foi expressa na história humana”.
Guerra
“Sabemos que, muitas vezes, o mundo é governado por pessoas que não sabem o que é a misericórdia, o que é o amor, pessoas que cometem os pecados mais graves e mais estúpidos: a guerra. O que dizemos pode tornar-se verdade; o grande problema é encontrar as palavras certas, as palavras que tornam as coisas realidade. Por exemplo, ninguém ainda encontrou a palavra certa, a palavra mágica, para pôr fim à guerra, como “abra o gergelim”, “pare a guerra”, e a guerra acaba. Não o encontramos — não conseguimos. Mas veja — essa palavra existe. Tenho certeza de que, entre vocês, há alguém que encontrará a palavra para acabar com a guerra para sempre. Eu sei isso! Eu posso sentir isso! Porque essa palavra existe! Um de vocês tem que encontrar, vamos encontrar juntos, temos que procurar, todos juntos, com paixão, com sinceridade, temos que procurar em todas as línguas, com imaginação, e vamos encontrar, você encontrará!”
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