Na Catequese desta quarta-feira, 3, Francisco frisou que um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo
Da redação, com Vatican News
“Rezar na liturgia” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 3, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico. O Santo Padre recordou aos fiéis que na história da Igreja verificou-se repetidamente a tentação de praticar um cristianismo intimista. Muitas vezes houve a tendência de não reconhecer o valor espiritual dos ritos litúrgicos públicos.
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Segundo o Pontífice, o movimento reivindicou maior pureza de uma religiosidade que não dependesse de cerimônias externas. “Eram consideradas um fardo inútil ou prejudicial”, frisou. O foco da crítica, observou o Papa, não era uma forma ritual particular, nem uma forma particular de celebração, mas a própria liturgia. “Era a crítica contra a forma litúrgica de rezar”, completou.
A liturgia como mediação objetiva
Francisco disse que na Igreja é possível encontrar formas de espiritualidade que não conseguiram integrar adequadamente o momento litúrgico. Muitos fiéis, embora participassem dos ritos e missas dominicais, buscavam outras fontes devocionais para alimentar a fé e a vida espiritual. “Nas últimas décadas, houve muito progresso. A Constituição Sacrosanctum concilium, do Concílio Vaticano II, representa o centro deste longo trajeto”.
A Constituição Sacrosanctum concilium reafirma de modo completo e orgânico a importância da liturgia divina para a vida dos cristãos, explicou o Papa. Neste documento, a liturgia é tida como mediação objetiva. Isso se deve pelo fato de Jesus Cristo não ser uma ideia nem um sentimento, reforçou o Santo Padre, mas uma Pessoa viva, e o seu Mistério um acontecimento histórico.
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“A oração dos cristãos passa por mediações concretas: a Sagrada Escritura, os Sacramentos, os ritos litúrgicos. Na vida cristã não prescindimos da esfera corpórea e material, porque em Jesus Cristo ela se tornou o caminho da salvação. Podemos dizer que agora devemos rezar com o corpo. O corpo entra na oração”, sublinhou o Pontífice.
Espiritualidade enraizada nos mistérios sagrados
O Papa observou que não existe espiritualidade cristã que não esteja enraizada na celebração dos mistérios sagrados. “A liturgia, em si, não é apenas oração espontânea, mas algo cada vez mais original. É um ato que fundamenta toda a experiência cristã e, por conseguinte, também a oração. É acontecimento, é evento, é presença, é um encontro com Cristo. Cristo faz-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: disto, para nós cristãos, deriva a necessidade de participar nos mistérios divinos. Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo, totalmente sem Cristo”, disse ainda Francisco.
Cada vez que o Batismo é celebrado, ou o pão e o vinho consagrados na Eucaristia, ou o corpo de um enfermo ungido com o Óleo sagrado, Cristo está ali, afirmou o Santo Padre. “Ele está presente como quando curava os membros fracos de um doente ou quando, na Última Ceia, entregou o seu testamento para a salvação do mundo. A oração do cristão faz sua a presença sacramental de Jesus. O que nos é exterior torna-se parte de nós: a liturgia expressa isto também no gesto muito natural de comer”.
Cristo é o Protagonista da liturgia
O Pontífice recordou que a Missa não pode ser somente “ouvida”, que essa não é uma expressão correta. Os fiéis não são apenas espectadores de algo que escorre sem envolver, reforçou também o Papa. “A Missa é sempre celebrada, e não apenas pelo sacerdote que a preside, mas por todos os cristãos que a vivem. O centro é Cristo!”. Segundo Francisco, todos, na diversidade dos dons e ministérios, se unem na missa, porque Cristo é o Protagonista da liturgia.
“Quando os primeiros cristãos começaram a viver o seu culto, fizeram-no atualizando os gestos e a palavras de Jesus”, lembrou o Santo Padre. Tais gestos, com a luz e a força do Espírito Santo, sublinhou Francisco, buscavam uma vida alcançada pela graça, uma vida que se tornasse sacrifício espiritual oferecido a Deus. Esta abordagem foi uma verdadeira “revolução”, comentou.
“A vida é chamada a tornar-se culto a Deus, mas isto não pode acontecer sem a oração, especialmente a oração litúrgica. Que este pensamento nos ajude. Quando vamos à missa aos domingos, vamos para rezar em comunidade, rezar com Cristo que está presente. Quando vamos a uma celebração do Batismo, Cristo está ali presente que batiza. Isso não é uma maneira de dizer. Cristo está presente e na liturgia você reza com Cristo junto de você”.