O mistério pascal deu início a um tempo novo: a morte e a ressurreição de Cristo recria a inocência na humanidade e lhe traz alegria. Prossegue, de fato, o hino: “Daqui inicia a época da salvação de Cristo – Hinc iam beata tempora coepere Christi gratia”.
Reunimo-nos na Basílica Catedral, neste Duomo que é realmente o coração de Milão. Daqui o pensamento se estende à vastíssima Arquidiocese ambrosiana, que, nos séculos e também nos tempos recentes, deu à Igreja homens ilustres na santidade de vida e no ministério, como Santo Ambrósio e São Carlos, e alguns Pontífices de incomum estatura, como Pio XI e o Servo de Deus Paulo VI, e os Beatos cardeais Andrea Carlo Ferrari e Alfredo Ildefonso Schuster.
Estou muito feliz por poder ficar um pouco convosco! Dirijo um afetuoso pensamento de saudação a todos e a cada um em particular, e gostaria de fazê-lo chegar de modo especial àqueles que estão doentes ou muito anciãos. Saúdo com viva cordialidade o vosso Arcebispo, Cardeal Angelo Scola, e o agradeço por suas amáveis palavras; saúdo com afeto os vossos Pastores eméritos, os Cardeais Carlo Maria Martini e Dionigi Tettamanzi, com os outros Cardeais e bispos presentes.
Neste momento vivemos o mistério da Igreja na sua expressão mais alta, aquela da oração litúrgica. Os nossos lábios, os nossos corações e as nossas mentes, na oração eclesial, se fazem presentes as necessidades e as aspirações de todos os homens: “Viro meu coração para teus ensinamentos… Venha a mim, Senhor, a tua graça”.
A oração cotidiana da Liturgia das Horas constitui uma tarefa essencial do ministério ordinal na Igreja. Também através do Ofício divino, que prolonga na jornada o mistério central da Eucaristia, os presbíteros estão, de modo particular, unidos ao Senhor Jesus, vivo e operante no tempo.
O Sacerdócio: aquele dom precioso! Vós, queridos Seminaristas, que se preparam para recebê-lo, aprendam e vivam com empenho o precioso tempo no Seminário!
O Arcebispo Montini, durante as Ordenações de 1958, assim dizia justamente neste Duomo: “Começa a vida sacerdotal: um poema, um drama, um novo mistério… fonte de perpétua meditação… sempre objeto de descoberta e de maravilhas; [o Sacerdócio] – disse – é sempre novidade e beleza para quem se dedica amoroso pensamento… é reconhecimento da obra de Deus em nós” (Homilia para Ordenações de 46 Sacerdotes, 21 de junho de 1958).
Se Cristo, para edificar sua Igreja, se entrega nas mãos do sacerdote, estes, por sua vez, devem confiarem-se a Ele sem reserva: o amor pelo Senhor Jesus é a alma e a razão do ministério sacerdotal, como foi prometido, para que ele concedesse a Pedro a missão de pastoral o próprio rebanho: “Simão…, amas-me mais do que estes?” (Joã 21,15).
O Concílio Vaticano II recordou que Cristo “permanece sempre o princípio e a fonte da unidade de vida dos presbíteros. Para alcançá-la, eles devem, portanto, unir-se a Ele na descoberta da vontade do Pai e na doação de si pelo rebanho a eles confiado.
Assim, representando o Bom Pastor, no próprio exercício da caridade pastoral, encontraremos o vínculo da perfeição sacerdotal que realizará a unidade na vida e atividade”. (Decr. Presbyterorum Ordinis, 14).
Justamente sobre este questionamento é expresso: em meios às ocupações diversas, de hora em hora, a forma para encontrar a unidade de vida, a unidade no ser sacerdote está justamente nesta fonte de amizade profunda com Jesus, no estar com Ele interiormente.
Não existe oposição entre o bem da pessoa, do sacerdote, e sua missão; na verdade, a caridade pastoral é elemento unificador de vida que parte de um relacionamento sempre mais íntimo com Cristo na oração para viver a doação total de si mesmo pelo rebanho, de modo que o Povo de Deus cresça na comunhão com Deus e seja manifestação da comunhão da Santíssima Trindade.
Cada ação nossa, de fato, tem como finalidade conduzir os fiéis à união com o Senhor e fazer assim crescer a comunhão eclesial para a salvação do mundo. As três coisas: união pessoal com Deus, bem da Igreja, bem da unidade em sua totalidade, não são coisas distintas ou opostas, mas uma sinfonia da fé vivida.
Sinal luminoso desta caridade pastoral e de um coração indivisível são o celibato sacerdotal e a virgindade consagrada. Cantamos no Hino de Santo Ambrósio: “Se em ti nasce o Filho de Deus, conserve a vida inocente”. “Acolher Cristo – Christum suscipere” é algo sempre presente na pregação do Santo Bispo de Milão; cito um trecho de seu comentário sobre São Lucas: “Quem acolhe Cristo no íntimo de sua casa é saciado pelas alegrias maiores”(Expos. Evangelii sec. Lucam, V, 16).
O Senhor Jesus foi sua grande atração, o principal argumento de sua reflexão e pregação, e sobretudo o fim de um amor vivo e confiante.
Sem dúvida, o amor por Jesus vale para todos os cristãos, mas conquista um significado singular para o sacerdote celibatário e para quem respondeu à vocação à vida consagrada: somente e sempre em Cristo se encontra a fonte e o modelo para repetir cotidianamente o “sim” à vontade de Deus.
“Com quais laços Cristo é retido?” – se perguntava Santo Ambrósio, que com intensidade surpreendente pregou e cultivou a virgindade na Igreja, promovendo também a dignidade da mulher. Ao questionamento citado respondia: “Não com os nós de corda, mas com os vínculos de amor e com o afeto da alma” (De virginitate, 13, 77). E justamente em um celebre sermão às virgens, ele disse: “Cristo é tido para nós: se desejas curar tuas feridas, Ele é médico; se estás angustiado pela queima da febre; Ele é fonte; se ti encontras oprimido pela culpa, Ele é justiça; se precisa de ajuda; Ele é potência; se tens medo da morte, Ele é vida; se desejais o paraíso; Ele é o caminho; se abrigas as trevas; Ele é luz; se estás em busca de alimento; Ele é o nutrimento” (Ibid., 16, 99).
Queridos irmãos e irmãs consagrados, vos agradeço por vosso testemunho e vos encorajo: olhem para o futuro com confiança, contando com a fidelidade de Deus, não faltará jamais, e a potência de sua graça, capaz de operar sempre novas maravilhas, também em nós e conosco.
As antífonas dos salmos deste sábado levou-nos a contemplar o mistério da Virgem Maria. Nessas podemos, de fato, reconhecer o “tipo de vida virginal e pobre que Cristo Senhor escolheu para si e que a Virgem Mãe Sua abraçou” (Lumen gentium, 46), uma vida em plena obediência à vontade de Deus.
Ainda, o Hino nos redeclarou as palavras de Jesus na cruz: “da glória de seu cadasfalto, Jesus fala à Virgem: “mulher, eis aí o teu filho”; “João, eis aí a tua mãe”. Maria, Mãe de Cristo, estende e prolonga também em nós a sua divina maternidade, a fim que o ministério da Palavra e dos Sacramentos, a vida de contemplação e a atividade apostólica nas múltiplas formas perseverem, sem cansaço e com coragem, a serviço de Deus e à edificação de Sua Igreja.
Neste momento, gostaria de dar graças a Deus pelas fileiras de sacerdotes ambrosianos, de religiosos e religiosos que gastaram suas energias à serviço do Evangelho, chegando até mesmo ao supremo sacrifício da vida.
Alguns desses foram propostos ao culto e à imitação dos fiéis, também em tempos recentes: os Beatros sacerdotes Luigi Talamoni, Luigi Biraghi, Luigi Monza, Carlo Gnocchi, Serafino Morazzone; os Beatos religiosos Giovanni Mazzucconi, Luigi Monti e Clemente Vismara, e as religiosas Maria Anna Sala e Enrichetta Alfieri.
Pela comum intercessão deles pedimos confiantes ao Doador de cada dom de tornar sempre fecundo o ministério dos sacerdotes, de reforçar o testemunho das pessoas consagradas, para mostrar ao mundo a beleza da doação a Cristo e à Igreja, e de renovar as famílias cristãs segundo o designo de Deus, para que sejam lugares de graça e santidade, terreno fértil para as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Amém. Obrigado.