Discurso de Bento XVI - Vésperas na Catedral de León - 25/03/12

 Discurso

Viagem Apostólica de Bento XVI ao México e à República de Cuba
Vésperas com os bispos do México e da América Latina
Catedral de Maria Santíssima da Luz
León, México
Domingo, 25 de março de 2012

 

Senhores Cardeais,
Amados Irmãos no Episcopado!

Sinto uma grande alegria em rezar com todos vós nesta Basílica-Catedral de León, dedicada a Nossa Senhora da Luz. Na linda imagem que aqui se venera, a Virgem Santíssima segura o seu Filho com grande ternura numa mão, enquanto estende a outra para socorrer os pecadores. Assim contempla Maria a Igreja de todos os tempos, que A louva por nos ter dado o Redentor e se entrega a Ela por ser a Mãe que o seu divino Filho, pregado na cruz, nos deixou. Por isso, frequentemente A invocamos como «esperança nossa», porque nos mostrou Jesus e duma forma simples – como se as explicasse aos pequenitos de casa – nos transmitiu as maravilhas que Deus fez e continua a fazer pela humanidade.

Um sinal decisivo destas maravilhas no-lo oferece a Leitura Breve que foi proclamada nestas Vésperas. Os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não reconheceram Cristo, mas, ao condená-Lo à morte, de fato cumpriram as palavras dos profetas (cf. Act 13, 27). É verdade! A maldade e a ignorância dos homens não é capaz de travar o plano divino de salvação, a redenção. O mal não tem poder para isso.

Outra maravilha de Deus é-nos recordada pelo segundo salmo que recitámos: o «rochedo» transforma-se «em lago e a pedra em fonte de água» (Sal 113, 8). O que poderia ser pedra de tropeço e de escândalo, com o triunfo de Jesus sobre a morte, convertera-se em pedra angular: «Tudo isto veio do Senhor, é admirável aos nossos olhos» (Sal 117, 23). Por isso não há motivos para render-se à prepotência do mal. E peçamos ao Senhor Ressuscitado que se manifeste a sua força nas nossas fraquezas e faltas.

Esperava ardentemente este encontro convosco, Pastores da Igreja de Cristo que peregrina no México e nos restantes países deste grande Continente, como uma ocasião para, juntos, contemplarmos Cristo que vos confiou a importante tarefa de anunciar o Evangelho no meio destes povos de forte tradição católica. Com certeza, a situação atual das vossas dioceses apresenta desafios e dificuldades de origem muito diversa. Mas, sabendo que o Senhor ressuscitou, podemos avançar confiadamente, seguros de que o mal não tem a última palavra na história e de que Deus é capaz de abrir novos espaços a uma esperança que não desilude (cf. Rm 5, 5).

Agradeço a cordial saudação que me dirigiu o Senhor Arcebispo de Tlalnepantla e Presidente da Conferência Episcopal Mexicana e do Conselho Episcopal Latino-Americano, fazendo-se intérprete e porta-voz de todos. E a vós, Pastores das diversas Igrejas particulares, peço que, ao regressar às vossas sedes, transmitais aos vossos fiéis o profundo afeto do Papa, que guarda no seu coração todos os seus sofrimentos e aspirações.

Ao ver espelhadas em vossos rostos as preocupações pela rebanho que apascentais, vêm-me à mente as Assembleias do Sínodo dos Bispos quando os participantes aplaudem a intervenção de alguém que exerce o seu ministério em situações particularmente dolorosas para a vida e a missão da Igreja. Este gesto brota da fé no Senhor, significando fraternidade nos trabalhos apostólicos, bem como gratidão e admiração pelos que semeiam o Evangelho entre espinhos, uns sob a forma de perseguição, outros sob a forma de marginalização ou desprezo. E não faltam preocupações também pela carência de meios e recursos humanos ou com as limitações impostas à liberdade da Igreja no cumprimento da sua missão.

O Sucessor de Pedro compartilha estes sentimentos e agradece a vossa solicitude pastoral paciente e humilde. Não estais sozinhos nem nas dificuldades, nem nos sucessos da evangelização; todos estamos unidos nos sofrimentos e na consolação (cf. 2 Cor 1, 5). Sabei que ocupais um lugar particular na oração daquele que recebeu de Cristo o encargo de confirmar na fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 31), e que os encoraja na missão de fazerem com que Nosso Senhor Jesus Cristo seja cada vez mais conhecido, amado e seguido nestas terras, sem se deixarem atemorizar pelas contrariedades.

A fé católica marcou significativamente a vida, os costumes e a história deste Continente, onde muitas das suas nações estão a comemorar o bicentenário da independência. É um momento histórico sobre o qual continua a brilhar o nome de Cristo, trazido para aqui por insignes e generosos missionários, que O proclamaram com coragem e sabedoria. Eles arriscaram tudo por Cristo, mostrando que o homem encontra n’Ele a sua consistência e a força necessária para viver em plenitude e edificar uma sociedade digna do ser humano, como o quis o seu Criador. O ideal de não antepor nada ao Senhor e de fazer com que a Palavra de Deus chegue a todos, valendo-se das características próprias de cada um e das suas melhores tradições, continua a ser uma válida orientação para os Pastores de hoje.

As iniciativas que surgirem motivadas pelo Ano da Fé devem ter como finalidade conduzir os homens a Cristo, cuja graça lhes permitirá deixar as cadeias do pecado que os escraviza e avançar para a liberdade autêntica e responsável. Para isto mesmo contribui também a Missão Continental promovida na Conferência de Aparecida e que já tantos frutos de renovação eclesial está dando nas Igrejas particulares da América Latina e do Caribe. Entre eles, contam-se o estudo, a difusão e a meditação da Sagrada Escritura, que anuncia o amor de Deus e a nossa salvação. Neste sentido, exorto-vos a continuardes a abrir os tesouros do Evangelho, a fim de que se transformem em força de esperança, liberdade e salvação para todos os homens (cf. Rm 1, 16). E sede também testemunhas e intérpretes fiéis da palavra do Filho encarnado, que viveu para cumprir a vontade do Pai e, sendo homem com os homens, Se consumiu por eles até à morte.

Amados Irmãos no Episcopado, no horizonte pastoral e evangelizador que se abre diante de nós, é de capital importância cuidar com grande atenção dos seminaristas, encorajando-os a não se gloriarem de «saber outra coisa a não ser Jesus Cristo, e, Este, crucificado» (1 Cor 2, 2). Não menos fundamental se apresenta a solidariedade com os presbíteros, a quem nunca deve faltar a compreensão e o encorajamento do seu Bispo e, se necessária, também a sua paterna admoestação sobre atitudes contraproducentes. São os vossos primeiros colaboradores na comunhão sacramental do sacerdócio, aos quais deveis manifestar vossa proximidade constante e privilegiada. O mesmo se diga das diversas formas de vida consagrada, cujos carismas devem ser estimados com gratidão e acompanhados com responsabilidade e respeito pelo dom recebido. E uma atenção cada vez mais especial é devida aos leigos mais comprometidos na catequese, na animação litúrgica, na ação caritativa e no compromisso social. A sua formação na fé é crucial para tornar presente e fecundo o Evangelho na sociedade atual. E não é justo que se sintam tratados como quem pouco conta na Igreja, apesar do entusiasmo que sentem em trabalhar nela segundo a sua vocação própria, e o grande sacrifício que às vezes lhes requer esta dedicação. Em tudo isto, é particularmente importante para os Pastores que reine um espírito de comunhão entre sacerdotes, religiosos e leigos, evitando divisões estéreis, críticas e suspeitas nocivas.

Com estes ardentes desejos, convido-vos a ser sentinelas que proclamam dia e noite a glória de Deus, que é a vida do homem. Estejam ao lado de quem é marginalizado pela violência, pelo poder ou por uma riqueza que ignora quem carece de quase tudo. A Igreja não pode separar o louvor de Deus do serviço aos homens. O único Deus Pai e Criador é que nos constituiu irmãos: ser homem é ser irmão e guardião do próximo. Neste caminho com toda a humanidade, a Igreja deve reviver e actualizar o que foi Jesus: o Bom Samaritano que, vindo de longe, se integrou na história dos homens, nos levantou e se prodigalizou pela nossa cura.

Amados Irmãos no Episcopado, a Igreja na América Latina, que muitas vezes se uniu a Jesus Cristo na sua paixão, deve continuar a ser semente de esperança, que permita a todos ver como os frutos da Ressurreição alcançam e enriquecem estas terras.

Que a Mãe de Deus, invocada com o título de Maria Santíssima da Luz, dissipe as trevas do nosso mundo e ilumine o nosso caminho, para podermos confirmar na fé o povo latino-americano nas suas fadigas e aspirações, com fidelidade, valentia e fé firme n’Aquele que tudo pode e a todos ama sem medida. Amém.

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