Discurso de Bento XVI no encontro com os bispos de Benin

Venerados Cardeais,
Prezado D. Ganyé, Presidente da Conferência Episcopal do Benim,
Amados Irmãos no episcopado!

É para mim uma grande alegria encontrar-vos juntos nesta tarde, vós que sois os pastores da Igreja Católica no Benim. Agradeço ao Presidente da vossa Conferência Episcopal,D. Antoine Ganyé, Arcebispo de Cotonou, as palavras fraternas que acaba de pronunciar em vosso nome. Convosco, sinto-me feliz por poder dar graças ao Senhor, no momento em que celebrais o sesquicentenário dos primórdios da evangelização do vosso país. De facto, foi em 18 de Abril de 1861 que os primeiros missionários da Sociedade das Missões Africanas desembarcaram em Ouidah, começando assim um nova página do anúncio do Evangelho na África Ocidental. A todos os missionários – bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos – vindos doutras terras ou originários deste país, que se seguiram desde então até hoje, a Igreja está particularmente agradecida. Ofereceram generosamente a sua vida, às vezes de forma heróica, para que o amor de Deus fosse anunciado a todos.

A celebração deste Jubileu deve ser, para as vossas comunidades e cada um dos seus membros, ocasião para uma profunda renovação espiritual. E compete a vós, como pastores do povo de Deus, discernir os seus contornos à luz da Palavra de Deus. O Ano da Fé, que quis promulgar por ocasião do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, será certamente uma ocasião propícia para permitir aos fiéis redescobrir e aprofundar a sua fé na pessoa do Salvador dos homens. Na realidade, porque aceitaram colocar Cristo no centro da sua vida é que tem havido, desde há 150 anos, homens e mulheres com a coragem de tudo sacrificar pelo serviço do Evangelho. Hoje, esta mesma diligência deve estar no coração da vida da Igreja inteira. É o rosto crucificado e glorioso de Cristo que nos deve guiar a todos, para darmos ao mundo testemunho do seu amor. Esta atitude requer uma conversão constante para dar nova força à dimensão profética do nosso anúncio. Àqueles que receberam a missão de guiar o povo de Deus, incumbe suscitar e ajudar a discernir os sinais da presença de Deus no coração das pessoas e dos acontecimentos. Que todos os fiéis possam viver o encontro pessoal e comunitário com Cristo, para se tornar seus mensageiros. Este encontro com Cristo deve estar firmemente radicado no acolhimento e na meditação da Palavra de Deus. Com efeito, a Escritura deve ocupar um lugar central na vida da Igreja e de cada cristão. Por isso encorajo-vos a fazer da sua descoberta uma fonte de renovação constante, para que unifique a vida diária dos fiéis e esteja cada vez mais no coração de cada atividade eclesial.

A Igreja não pode guardar para si mesma esta Palavra de Deus; anunciá-la ao mundo é a sua vocação. Este ano jubilar deve ser para Igreja no Benim uma ocasião privilegiada para dar novo vigor à sua consciência missionária. O zelo apostólico que deve animar todos os fiéis deriva diretamente do seu Batismo e, por conseguinte, não podem subtrair-se à responsabilidade de confessar a sua fé em Cristo e no seu Evangelho, por todo o lado onde se encontram e na sua vida diária. Os bispos e os sacerdotes, por sua vez, são chamados a despertar esta consciência nas famílias, nas paróquias, nas comunidades e nos diversos movimentos eclesiais. Uma vez mais queria pôr em destaque e exaltar o papel essencial desempenhado pelos catequistas na atividade missionária das vossas dioceses. Por outro lado, como sublinhei na Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, «a Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de “manutenção” para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial» (n. 95). Portanto a Igreja deve ir ao encontro de todos. Encorajo-vos a continuar os vossos esforços por uma partilha do pessoal missionário com as dioceses mais carenciadas, seja no vosso país seja noutros países de África seja em continentes mais distantes. Não tenhais medo de suscitar vocações missionárias de sacerdotes, de religiosos e religiosas e de leigos.

Para que o mundo acredite nesta Palavra que a Igreja anuncia, é indispensável que os discípulos de Cristo estejam unidos entre si (cf. Jo 17, 21). Guias e pastores do vosso povo, sois chamados a ter uma consciência viva da fraternidade sacramental que vos une e da única missão que vos está confiada, para serdes efetivamente sinais e promotores de unidade nas vossas dioceses. Com os vossos sacerdotes, deve prevalecer uma atitude de escuta, de solicitude pessoal e paterna, para que eles, cientes do bem que lhes quereis, vivam com serenidade e sinceridade a sua vocação sacerdotal, a irradiem jubilosamente em seu redor e cumpram fielmente as suas obrigações. Convido-vos, portanto, a ajudar os sacerdotes e os fiéis a descobrirem, eles também, a beleza do sacerdócio e do ministério sacerdotal. As dificuldades encontradas, que às vezes podem ser sérias, não devem jamais ser motivo para desesperar, mas pelo contrário devem tornar-se incentivo para suscitar nos sacerdotes e nos bispos uma vida espiritual profunda que encha o seu coração de um amor cada vez maior por Cristo e de um zelo transbordante pela santificação do povo de Deus. Um reforço dos laços de fraternidade e amizade entre todos será também um apoio importante, que permite avançar na busca de um crescimento espiritual e humano.

Amados irmãos no episcopado, a formação dos futuros sacerdotes das vossas dioceses é uma realidade que tendes particularmente a peito. Encorajo-vos vivamente a fazer dela uma das vossas prioridades pastorais. É indispensável que uma sólida formação humana, intelectual e espiritual permita aos jovens atingir um equilíbrio pessoal, psicológico e afetivo que os prepare para assumirem as realidades da vida sacerdotal, nomeadamente no domínio relacional. Aliás, como disse na carta que recentemente dirigi a todos os seminaristas, «o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. Sacerdote (…) é o mensageiro de Deus no meio dos homens; quer conduzir a Deus, e assim fazer crescer também a verdadeira comunhão dos homens entre si» (n. 1). Nesta perspectiva, os seminaristas devem aprender a viver em contato constante com Deus. Entretanto, a escolha dos formadores é uma responsabilidade importante que compete aos bispos; convido-vos a exercê-la com prudência e discernimento. Os formadores, para além de possuir as qualidade humanas e intelectuais necessárias, devem ter a peito o seu próprio progresso no caminho da santidade e o dos jovens que têm por missão ajudar na busca da vontade de Deus acerca da sua vida.

O ministério episcopal, a que o Senhor vos chamou, tem as suas alegrias e as suas penas. No nosso encontro desta tarde, queria deixar a cada um de vós uma mensagem de esperança. Ao longo dos últimos 150 anos, o Senhor fez grandes coisas no meio do povo do Benim; tende a certeza de que Ele continua a acompanhar-vos dia após dia no vosso compromisso ao serviço da evangelização. Sede sempre pastores segundo o coração de Deus, autênticos servidores do Evangelho. É isto que os homens e mulheres do nosso tempo esperam de vós.

Amados irmãos no episcopado, no final do nosso encontro, quero dizer-vos que é grande a minha alegria por ter voltado à terra africana e concretamente ao Benim, nesta dupla circunstância da celebração do sesquicentenário da evangelização do vosso país e da entrega da Exortação Apostólica pós-sinodal Africæ munus. Quero agradecer-vos e, por vosso intermédio, a todo o povo do Benim pelo caloroso acolhimento – eu diria simplesmente pelo «acolhimento africano» – que me reservastes. Confio à Virgem Maria, Nossa Senhora da África, cada uma das vossas dioceses, bem como vós mesmos e o vosso ministério episcopal. Que Ela vele sobre o povo inteiro do Benim. E de todo o coração concedo a vós, e também aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, aos catequistas e a todos os fiéis das vossas dioceses, uma afetuosa Bênção Apostólica.

 

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