Íntegra

Homilia da Missa de recepção dos peregrinos da JMJ 2019

Homilia da Missa de recepção dos peregrinos da JMJ 2019
Campo Santa Maria Antigua
Mons. José Domingo Ulloa Mendieta, O.S.A

Fonte: Imprensa – panama2019.pa
Tradução: Rocío Victória Espinoza Gutierrez (Canção Nova)  

Queridos jovens peregrinos e povo de Deus,

Nossa alegria é imensa diante da presença de todos vocês. O Panamá hoje os recebe com o coração e os braços abertos. Obrigado por aceitar o chamado a nos encontrar neste pequeno país, onde a fé chegou pela mão da Virgem Maria. Um país que tem feito seu melhor para que cada um de vocês tenha um encontro com Jesus Cristo — o Caminho, a Verdade e a Vida.

Somos a primeira diocese em terra firme e, desde aqui, se espalhou o Evangelho ao restante do continente Americano, sempre com o amparo da Virgem Maria. Ela sempre tem nos acompanhado, por isso não é de se estranhar que este encontro com Jesus Cristo, nesta Jornada Mundial da Juventude, seja Maria quem nos tenha animado. Ela continua animando a celebração deste histórico evento que vamos viver todos unidos, os jovens do mundo.

Damos graças a Deus, por ser a sede da primeira Jornada Mundial da Juventude onde Maria – “A estrela da Evangelização”- tenha sido proposta a vocês como modelo de valentia e coragem, ela que esteve disposta a cumprir com o projeito de Deus, sendo a sua resposta o lema desta JMJ: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”(Lc 1, 38).

Obrigado Papa Francisco, por confiar e nos dar a oportunidade de fazer uma Jornada Mundial da Juventude para as periferias existenciais e geográficas. Desejamos que seja um balsamo para a difícil situação com que convivem sem esperança muitos deles, especialmente a juventude que migra pela quase nula resposta de seus países de origem, que os mandam colocar suas esperanças em outros países, expondo-os ao narcotráfico, tráfico de pessoas e muitos outros problemas sociais.

Para a Igreja Católico, como para as outras comunidades da fé no nosso país, mais particularmente para a Secretaria do Episcopado da América Central, que inclui todos os bispos da região, vocês são muito importantes. Por vocês toda uma máquina humana se organizou para tornar possível as mínimas condições necessárias para que vivam sua peregrinação neste pequeno país.

Vocês, queridos peregrinos de diferentes países do nosso planeta terra, encontrarão no Panamá um pedacinho do nosso mundo inteiro. Nossa história e serviço são ponto de encontro, de unidade na diversidade, sem distinção de crença, raça, idade, sexo, e nos convertem em uma nação abençoada.

Graças a sua presença este país é, desde agora, a capital da juventude do mundo, na qual o calor humano, e também o clima deste tempo, cria ótimas condições para que possam conviver entre os seus pares, partilhando seus sonhos, esperanças e projetos, pela força do Espirito Santo. Comprometam-se a fazer a revolução do amor, que não será fácil, mas não é impossível quando colocarmos nossa confiança em Deus.

Que país encontrarão os peregrinos? Um pouco dos peregrinos que estão neste pequeno país fizeram uma experiência na diocese do Panamá ou da Costa Rica. Nosso povo está preparado para receber e partilhar as tradições multiétnicas e pluriculturais, a alegria da fé num Deus, que está agindo entre nós, em nossa história pessoal e comunitária. Nas paróquias e lares de acolhida temos a preparação necessária para dar o melhor de nós, o carinho, a proximidade, a fraternidade, e os adotar como verdadeira família, a família de Deus.

Os jovens terão a disponibilidade de escutar a Deus nestes dias na JMJ por meio da catequese com bispos de diferentes países. Também contarão com uma formação interessante: o parque do perdão— onde estarão os lugares para confissão, para se reconciliar com Deus —, o festival da juventude — onde a variedade de talentos dos diferentes países oferecerá uma possibilidade para alimentar o espírito —, e o encontro tão especial com Jesus na eucaristia — alimento espiritual para enfrentar os desafios da vida.

Este encontro de vocês jovens com Jesus Cristo, os deve levar ao confrontamento consigo mesmos e com a doutrina do sistema de anti-valores que predomina e sustenta a busca de uma falsa felicidade que é tão fugaz, que os leva a experimentar desesperadamente tantas coisas que ferem a mente e o espírito e que, no final, não preenchem o vazio existencial.

Jovens, o chamado é contínuo, intenso, pleno de uma ternura que só sabe comunicar Cristo. Talvez, como Igreja, não tenhamos conseguido transmitir isso com clareza suficiente, porque às vezes os adultos pensam que os jovens não querem escutar, que são surdos e estão vazios. Mas a realidade é outra. Eles precisam de orientação, acompanhamento, sobretudo de quem os possa escutar.

Sabemos que vocês não se deixam impressionar facilmente. Não funcionam as frases prontas, os discursos de teatro ou slogans desenhados para elevar suas emoções. Sabemos que, como nos tempos de Jesus, os jovens procuram testemunhas, referências cheias de conteúdo e experiência; com caminhada, com milhagem, com um Deus intelectualizado; vocês procuram quem mostre Deus com a sua vida, e não quem fale dele.

Jovens, verdadeiros protagonistas da JMJ na Igreja, estamos na espera desta primavera juvenil. Confiamos em vocês, esperamos muito de vocês, porque estamos plenamente convencidos que os verdadeiros protagonistas para as mudanças e as transformações que a humanidade e a Igreja precisam estão em suas mãos, em suas capacidades e visão de um mundo melhor.

Para assumir este grande desafio, vocês deverão se preparar com consciência, conhecendo sua história pessoal, familiar, social, cultural, mas sobretudo assumir a sua história de fé. Só assim, de mãos dadas com os seus avós e os mais velhos, vocês poderão transformar a Igreja e as situações de injustiça que ferem a sociedade.

A Virgem Maria, a jovenzinha de Nazaré, é um modelo confiável de quem seguiu com disposição e serviço o plano de Deus. É aquela jovem que se atreveu a dar seu “sim” ao projeto de Deus, não teve medo, ainda em meio aos riscos que isso significava. Ainda assim, disse “sim”, porque conhecia a promessa de Deus feita ao seu povo, que enviaria o Salvador. Sua vida de fé lhe deu a força e a confiança em Deus para assumir e ser a mãe do Deus homem.

Nos olhos de Maria, cada jovem pode redescobrir a beleza do discernimento; no seu coração pode experimentar a ternura da intimidade e da coragem do testemunho e da missão. Por isso, esta JMJ se confiou a Maria. Confiar em Maria não é só pedir sua ajuda e a sua intercessão em tudo; é também agir como ela. Imitemos a sua disposição em servir, como fez com sua prima Isabel. Estamos dispostos que uma espada nos atravesse o coração como aconteceu com Maria ao viver a paixão do seu filho e esperar pacientemente a sua feliz ressurreição?

Na Igreja, durante a preparação da JMJ, nós vemos e descobrimos jovens capazes de se doar na entrega pelos outros. Tem nascido os talentos e lideranças jovens que tem sustentado a organização desta Jornada. Esta é uma valiosa mostra de que se podem assumir projetos impensáveis. Visível é também a juventude indígena e afrodescendentes. Uma maravilhosa experiência tivemos até agora com os jovens indígenas e afrodescendentes. Tiveram seus encontros prévios da JMJ, para abordarem suas realidades específicas. Isto marca a história das Jornadas, porque pela primeira vez eles têm um espaço específico. A Jornada Mundial da Juventude nesta região não podia acontecer sem ver a situação de exclusão e discriminação, que os coloca na marginalidade e a pobreza.

No Foro JMJ, afrodescendentes, líderes jovens de diversas religiões e diferentes ideologias têm mostrado a capacidade de gerarem, juntos, respostas à situações de discriminação e exclusão, de demandas das politicas públicas no marco da justiça e da educação, sobre o trabalho, e a reivindicação da mulher desde sua cultura étnica, não só nos espaços sociais, mas também religiosos. A importância de recuperar a memória histórica com os avós e idosos tem sido também de vital importância para a juventude afrodescendente.

Os jovens indígenas realizaram seu encontro mundial, onde se focaram na memória dos seus povos, na luta por manter a harmonia com a mãe terra, desde a riqueza das suas culturas à luz da ‘Laudato Si’ e, a importância de sua participação ativa na construção de outro mundo possível. Para a juventude indígena tem sido encorajadora a mensagem do Papa Francisco.

A ferramenta de formação DOCAT (Doutrina Social da Igreja Catolica) de acompanhamento e formação da juventude, foi proposta para que aprendam sobre a Doutrina Social da Igreja, por meio de uma ferramenta tecnológica que fortalecerá a liderança juvenil. Este é um sonho do Papa Francisco, que também queremos que seja assumido por vocês, jovens peregrinos, especialmente da região Centro Americana. Uma maneira de enfrentar as adversidades desde a fé é conhecendo o pensamento social da Igreja, para fazer realidade a revolução do amor e da justiça.

O presente do Papa aos jovens centro-americanos é o livro DOCAT e o aplicativo DOCAT que será entregue durante a JMJ. É uma oportunidade para que possam assumir, com responsabilidade, seu protagonismo. Em sua exortação apostólica sobre “O chamado à Santidade no mundo atual”, o Papa destacou que a Santidade tem seus riscos, desafios, e oportunidades, porque a cada um foi escolhido pelo Senhor. “O Senhor nos escolheu para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dEle pelo amor”(Ef 1,4).

Ser santo não é ter rosto em imagens. Não queridos irmãos e queridos jovens, todos podemos ser santos: ainda quando possamos pensar que nossa existência não tem um grande valor por todos os pecados cometidos. Todos podemos viver e chegar à santidade.

O Santo Padre disse que para sermos santos temos que ir contra correnteza; tem que saber chorar, e sair da lógica “do pare de sofrer” que nos faz gastar muitas energias por fugir das circunstâncias onde se faz presente o sofrimento. O ser santo nos faz sair da corrupção espiritual e material, de tudo aquilo que nos faz mal e ofende a Deus.

Um santo defende aos indefensos; ao não nascido, mas também a quem nasceu na miséria; defende os migrantes, procura a justiça; ora, vive e ama a comunidade; é alegre e tem senso de humor; luta sempre, sai da mediocridade, vive a misericórdia de Deus e a compartilha com o próximo. Ser Santo não é um mito, é uma realidade palpável.

O testemunho de vida de santos e santas da JMJ é uma prova disso: São Martinho de Lima, Santa Rosa de Lima, São Juan Diego, São José Sánchez Del Río, São João Bosco, Beata María Romero Meneses, São Oscar Romero e João Paulo II. Todos eles nos mostram que é possível a vida de santidade, em todas as culturas e etnias, sem diferenças de sexo, nem idade. A entrega generosa de suas vidas por Deus e pelo próximo que os fez chegar à santidade.

Não tenhais medo queridos jovens, tenham a coragem de ser santos no mundo de hoje, com isso não renunciem à sua juventude nem à sua alegria; pelo contrário, mostrem ao mundo que é possível ser feliz com tão pouco, porque Jesus Cristo, a razão da nossa felicidade, já ganhou para nós a vida eterna, com sua ressurreição.

Queridos jovens que se prepararam para a Jornada Mundial da Juventude, convido-os a viver este momento com humildade e disposição. É uma experiência panamenha, onde há mais de 500 anos chegou a fé.

Esperamos que, ao encerrar a JMJ, tenhamos enviado ao mundo estes novos discípulos de Jesus Cristo para contagiarem toda terra com a alegria do evangelho da misericórdia e do amor de Deus. Durante estes dias, a cidade de Panamá será uma grande casa de oração e de promoção cristã. A palavra de Deus vai ressoar em todos os momentos e por todas as esquinas. Todos estão prontos para viverem a festa do amor de Deus no meio de nós. Mas, não esqueçam que quem vai nos levar será Maria, e o Papa Francisco, como representante de Jesus Cristo, ele nos segurará e confirmará na fé.

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