Presidente do Pontifício Conselho para a Família, Dom Vincenzo Paglia, afirmou que diante da ditadura do “eu”, é preciso redescobrir a beleza do “nós”
Da redação, com Rádio Vaticano
Famílias de todo o mundo estão na Filadélfia para o VIII Encontro Mundial das Famílias, um evento desejado por João Paulo II e que desde 1994 é realizado a cada três anos. Desde terça-feira, 22, orações, debates e encontros criam pontes e reforçam o sagrado vínculo da família. [Acesse cobertura do evento]
Em entrevista à Rádio Vaticano, o Presidente do Pontifício Conselho para a Família, Dom Vincenzo Paglia, falou sobre o encontro e sobre a família atual.
Em diversas ocasiões o senhor reiterou que é necessário colocar a família no centro. Em que sentido, concretamente, se coloca a família no centro?
Dom Paglia: “Quando nos preocupamos realmente por ela e portanto se vive a alegria, as lutas, mas também a esperança da família, porque na família está em jogo quer a Igreja, quer a sociedade, e também na Filadélfia. A Igreja Católica está se preocupando não somente com famílias católicas, não somente com as famílias cristãs, mas com as famílias do mundo inteiro. Devo sublinhar que o tema aqui não é a definição de família: o tema é como ajudar as famílias a viver a sua missão e a sua vocação na sociedade contemporânea, sabendo que família frágil quer dizer sociedade frágil e família forte, sociedade forte”.
É também verdade, porém, que a família frequentemente sofre ataques. O Papa Francisco, referindo-se ao “gender”, definiu-o como “ditadura”, “a colonização ideológica” que quer destruir a família…
Dom Paglia: “A prevalência de uma cultura individualista tem como que descobriu a astúcia de não opor-se à família, mas de fragmentá-la, de submetê-la, de multiplicá-la…. Aquilo que hoje vejo como o vírus mais deletério é justamente isto: que o individualismo exalta a fragmentação, submete tudo a si mesmo. E no fundo é esta simplificação – da redução à si – que explica o medo da multiplicidade. A questão do “gender” é o medo do complexo: para reconhecer a dignidade, devemos ser antes, todos homogêneos… E ao invés disto não, nós temos a necessidade, como acontece desde o início da criação, de reconhecer a força e a beleza da diversidade! Diante da ditadura do “eu”, devemos redescobrir a beleza do “nós”. E a família é o primeiro “nós” que encontramos”.
Neste contexto, qual é a missão da Igreja?
Dom Paglia: “Aquela de dar uma alma ou, caso se queira, uma qualidade ao amor familiar que o sacramento reforça, para que este amor leve a superar todos os limites que encontramos: antes de tudo a superar o limite do “eu”, para unir-se ao primeiro “nós”, com o homem e a mulher que se amam; a gerar filhos; superar o risco do “familismo”. E assim, pouco a pouco, até chegar ao último elo – poderíamos dizer – deste amor indispensável, para fazer de todos os povos uma única grande família”.
Uma única família dos povos. Assim, neste sentido, a paz passa também através das famílias?
Dom Paglia: “Se a família vive o amor, se aprende quase que por instinto a solidariedade. O primeiro acordo é entre marido, mulher e filhos. E se não se aprende isto de pequeno, aos 15, 20 anos será tarde! E na família se tem sim em miniatura a experiência do mundo: porque é óbvio que em família se experimentam também os conflitos, mas os conflitos em família, se é como que obrigado a superá-los, caso se queira continuar. E deve-se abrir mão, deve-se renunciar! Eis porque a família e a família dos povos são fortemente entrecruzadas”.
Aqui na Filadélfia a árvore simboliza a família. Por que esta escolha?
Dom Paglia: “Porque com raízes profundas os anciãos, com um tronco robusto, que não é o amor romântico, mas é um amor que quer construir, que exige também esforços, e que justo por isto, recolhendo a linfa das raízes e elaborando-a ao longo do tronco, pode produzir frutos que são filhos, netos. E se esta é a família, nós pensamos que o mundo deve ser uma floresta destas árvores, para mostrar que realmente esta casa comum, que é o mundo inteiro, é a casa comum da família de todos os povos”.