Imigrantes em situação de perigo buscam refúgio nos países europeus, atraídos, em especial, pelo desenvolvimento econômico
Jéssica Marçal
Da Redação
O principal destino dos refugiados que saem da África e Oriente Médio fugindo de guerras e situações de perigo tem sido a Europa. Só neste ano, o continente europeu já recebeu mais de 700 mil imigrantes que fizeram a travessia pelo Mar Mediterrâneo. O que torna a Europa tão atrativa para os refugiados?
Um primeiro aspecto é a localização geográfica. Os países europeus, como Grécia e Itália, constituem os refúgios mais próximos, por exemplo, para quem sai da Síria e de algumas regiões do Oriente Médio. Outro atrativo é a economia europeia e o desenvolvimento tecnológico que se observa nos países do continente.
Acesse
.: Todas as notícias sobre a crise de refugiados
Mas essa onda de imigração para a Europa não é de agora. O continente sempre foi visto, depois da Guerra, como estado do bem estar social por ter conseguido garantir à sua população o acesso aos bens fundamentais, como educação, saúde, segurança, transporte público. A partir dos anos 1980, 1990, isso despertou o interesse das pessoas de fora e gerou um fluxo para a Europa, o que não foi de tudo negativo.
“De certa forma foi bom, porque acabou suprindo a falta de mão de obra europeia, carente em algumas áreas que exigem menos qualificação, e essas pessoas foram atuando em alguns serviços, em alguns trabalhos, alguns oficios, para exatamente complementar a população economicamente ativa europeia em alguns países”, explica o professor universitário Henrique Alckmin.
Ironia do destino: Europa acolhe imigrantes de países que colonizou
Desse ponto pra cá o fluxo só aumentou. De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), mais de 700 mil pessoas pediram asilo na Europa no ano passado, um aumento de 47% em relação a 2014. Só que esse fluxo imigratório para a Europa acabou despertando um novo nacionalismo em alguns países, como França e Itália. E isso faz com que nem sempre, nos dais atuais, haja uma grande abertura para o acolhimento. Mas essa situação, olhando para toda a história, acaba sendo uma ironia, explica Henrique.
“A Europa colonizou, de uma forma até sangrenta, algumas áreas da África, no século XIX e até no século XX, muitos massacres foram cometidos pelos belgas na República Democrática do Congo, pela França na Argélia, sem falar outros tantos. E agora, parece que a história nos ensina através de uma lição. A Europa tem que se organizar, tem que se preocupar, porque não consegue controlar o fluxo de pessoas miseráveis, que acabam saindo da África e do Oriente Médio e que buscam chegar até seus países, até suas fronteiras”.
O acolhimento na Alemanha
Um dos países que mais se abriu ao acolhimento de refugiados nessa crise foi a Alemanha, indo na contra-mão do restante da Europa. O país disse que poderia receber até 500 refugiados por ano nos próximos anos, mas pediu que seus vizinhos também se disponibilizassem ao acolhimento.
A atitude da Alemanha, segundo Henrique, pode ser entendida voltando 70 anos na história do país, que sofreu muito com a Segunda Guerra Mundial. Além da tragédia do holocausto, quando cerca de seis milhões de judeus morreram nos campos de concentração, houve muitas perdas materiais bem como de vidas humanas de outros países.
“Então a Alemanha acabou, depois da guerra, combatendo e tendo políticas muito abertas para receber imigrantes. Porque o nazifascismo foi construído a partir da égide da superioridade racial, esse era o discurso de Hitler (…) E depois da guerra, a Alemanha, certamente tenta coibir muito isso e sempre promoveu políticas de abertura”.
Leia também
.: Crise de refugiados: especialistas comentam possíveis soluções