A cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil
Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Camila Guimarães
Nesta terça-feira, 6, o Brasil lembra o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, instituído em 2007.
De acordo com a pesquisa da fundação Perseu Abramo, estima-se que no Brasil a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas. O marido, namorado ou ex-companheiro são responsáveis por mais de 80% dos casos.
Para o delegado na cidade de Campos do Jordão (SP), Dr. Luiz Geraldo Ferreira Júnior, um fator essencial para contribuir com a diminuição destes números é a conscientização das mulheres sobre seus direitos.
“A mulher tem que se conscientizar de que ela não é obrigada a ficar com o agressor, simplesmente porque são casados ou têm filhos juntos. (…) Muitas vezes, a mulher, por ser vulnerável economicamente ao seu agressor, acredita que aquela agressão não voltará a se repetir”, explica o delegado.
Segundo ele, esta é uma crença errônea, que leva a delitos mais graves, além de inibir o trabalho das autoridades.
“Esta mentalidade de que o agressor vai melhorar inibe o trabalho da polícia. Muitas vezes a mulher chega a procurar as forças policiais, mas depois volta atrás na esperança de que a paz volte ao lar”, alerta.
Dr. Ferreira Júnior explica que o perfil mais comum das vítimas são mulheres que dependem economicamente dos maridos, que acreditam que se o marido for preso serão ainda mais prejudicadas.
Por sua vez, os agressores justificam suas agressões colocando a culpa no álcool, em algum stress, em algum problema no serviço ou em condutas da própria vítima, como acusações de traição.
Contudo, o delegado incentiva as mulheres a procurar ajuda policial sempre que forem vítimas de violência. “As agressões sempre tendem a piorar, não diminuir ou acabar. Têm que procurar as autoridades policiais, relatar o que está acontecendo”.
E motiva inclusive os vizinhos e parentes próximos, quando perceberem esse problema, a denunciarem, mesmo com a revelia da mulher. “Para que as autoridades possam tomar uma atitude, para que não tenham crimes de homicídio e coisas graves relacionadas à parte passional”.
O que a Igreja diz?
Quando a violência acontece dentro do matrimônio é sinal de que esse matrimônio não existe mais, explica o Mestre e Doutor em Teologia Pastoral Bíblica e Litúrgica e conselheiro de casais, padre Anderson Marçal.
O sacerdote explica que o casamento é feito de uma vida construída a dois, um caminho de fidelidade. E se há a violência, não existe uma lei que obrigue a pessoa a ficar com o esposo (ou esposa), mas é algo que precisa ser bem acompanhado.
“Se você está vivendo uma situação como essa, procure alguém que o ajude, alguém que vá lhe dar não somente uma posição parcial, olhando somente o seu lado, pois é preciso ver todos os lados. Então, seria muito interessante procurar um padre, um bispo, se fosse o caso, mas também um psicólogo, algum profissional que possa ajudar a pessoa para que ela tome uma decisão consciente do que está fazendo”, orienta. [Leia entrevista completa]
No documento final do Sínodo dos Bispos para a Família destaca-se a necessidade de acompanhar de perto o drama da violência doméstica.
“A solidão do cônjuge abandonado, ou que foi obrigado a interromper uma convivência caracterizada por maus-tratos contínuos e graves, exige uma atenção especial da parte da comunidade cristã. Prevenção e cuidado nos casos de violência familiar requerem uma colaboração estreita com a justiça, para agir contra os responsáveis e proteger adequadamente as vítimas”, destaca o texto.
Ainda antes da realização do Sínodo, o documento de trabalho (Instrumentum laboris) destacava a necessidade de intervenções de apoio junto à essas realidades.
“Em alguns casos é urgente a necessidade de acompanhar situações nas quais os vínculos familiares estão ameaçados pela violência doméstica, com intervenções de apoio capazes de curar as feridas infligidas, e desenraizar as causas que as determinaram. Onde dominam abuso, violência e abandono não pode haver nem crescimento nem percepção alguma do próprio valor”, salienta o documento.
A violência física é apenas um tipo de agressão que pode afligir o relacionamento, existe o abuso emocional, verbal, financeiro e outros. [Confira a série Relacionamentos Abusivos]