Dia Nacional de Atenção à Dislexia conscientiza sobre o tema
Denise Claro
Da redação
Nesta quarta-feira, 16, é comemorado em todo o Brasil o Dia de Atenção à Dislexia. A data conscientiza sobre a doença, que acomete cerca de 15% da população do país, segundo a Associação Brasileira de Dislexia.
A Dislexia do desenvolvimento é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas.
A psicopedagoga Josy Braga comenta que a definição complexa pode ser considerada ainda mais confusa para os leigos no assunto, pois se apresenta de variadas formas e intensidades nos mais diversos contextos das crianças e das suas realidades específicas:
“A criança, em si, a princípio, não se percebe como diferente em nada de outras crianças porque ela não tem construído em sua psique um critério que a norteie numa análise de estar inferior ou superior às outras. É o ambiente externo com suas manifestações humanas que vai atribuindo à criança uma ‘diferença’ por, de repente, a mesma não corresponder ao esperado num ambiente social (formal e/ou informal) daquilo que se determinou como ‘normalidade’.”
É comum que a dislexia só seja notada quando a criança é inserida no ambiente escolar e sejam percebidos seus sinais (dispersão, atenção insatisfatória, atraso no desenvolvimento da fala e linguagem, falta de interesse por livros impressos, entre outros), explica Josy.
A psicopedagoga lembra que o diagnóstico de dislexia deve ser muito criterioso e cauteloso amparado por profissionais competentes para que um laudo não seja atribuído de maneira inconsistente e irreal, de forma a determinar um rótulo que poderá marcar negativamente a vida da pessoa disléxica.
Saiba mais
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A dislexia na família
A empresária paulista Odete descobriu a dislexia dos filhos, há 15 anos:
“A psicopedagoga da escola me alertou que meu filho estava apresentando alguns sinais. Em exatas meu filho ia bem, mas em humanas ele tinha muita dificuldade. Não conseguia entender direita e esquerda, nem dar respostas longas, escritas. Mas quando se perguntava oralmente, ele sabia responder. Levei ele ao neuropediatra e foi diagnosticado. Mas vivia muito bullying por parte dos colegas.”
Ao acompanhar o filho nos exames e na Associação de Dislexia, Odete também descobriu que ela mesma tinha um quadro do transtorno.
“Percebi que sempre tive dificuldade de interpretação, era lenta para algumas coisas, dificuldade de direita/esquerda. No meu profissional eu era uma empresária bem sucedida, mas tinha um advogado que fazia os contratos para mim. Quando criança, os colegas me achavam ‘burra’, tinha também dificuldades em português e história, por exemplo. Naquela época não se falava sobre isso, só descobri em mim porque fui investigar a situação dele”.
Dificuldades de Socialização
A pessoa disléxica compreende que é possuidora de uma diferença de aprendizado, e seu maior desafio, após o diagnóstico, será o lado emocional:
“A pessoa disléxica vai estar muito atenta a como as pessoas a sua volta a tratam. É comum que os disléxicos sejam muito atentos ao que os outros o fazem sentir.”, ressalta a especialista.
Muitas vezes, o disléxico vive situações de desprezo ou constrangimento por parte dos colegas, pais, e professores. A psicopedagoga lembra que as emoções despertadas podem levá-las às mais diversas posturas: da apatia à agressividade, da euforia à baixa autoestima:
“É sabido que a maneira como nos sentimos e como compreendemos este sentir é o que nos conduzirá à nossa forma de agir no mundo. A sociedade chega a ser um tanto insensível quando ‘exige’ que todos aprendam pelo mesmo caminho e atinjam sempre o objetivo que foi gerado com expectativa comum a todos.”, comenta Josy.
Soluções
A psicopedagoga comenta que é muito importante que os profissionais da educação trabalhem com o espírito de companheirismo e solidariedade das crianças em geral para que elas se entreajudem, diminuindo o preconceito e aumentando a conscientização da sociedade.
“Os disléxicos, antes de qualquer coisa, precisam ser amados e vistos como capazes. A criança disléxica precisa sentir-se igual e não diferente. Diferente é sua forma de aprender, e não a sua essência, capaz de construir sua própria história se descobrindo a cada dia, a cada nova etapa como vencedora e feliz por isso.”
Odete confirma que, para ela, o reconhecimento e apoio das pessoas à sua volta sempre a ajudou:
“Era importante para mim ser valorizada e elogiada. Ter aquela re-olhada na prova, ser aplaudida quando alcançava alguma conquista. Hoje também faço faculdade e percebo nos professores uma paciência muito grande, adaptando os testes, dando tempo em dobro para as atividades, fazendo perguntas claras e objetivas. Isso faz toda a diferença.”