No dia do psicólogo, especialista dá dicas para lidar com situações de ansiedade e fala sobre as mudanças nos hábitos
Kelen Galvan
Da redação
Nesta quinta-feira, 26, lembramos os profissionais que, neste tempo de pandemia, têm tido um papel fundamental para ajudar as pessoas a manterem sua saúde emocional: os psicólogos.
Estes profissionais exercem uma importante missão não só para tratar possíveis doenças psíquicas, mas também para auxiliar no autodesenvolvimento e prevenir os transtornos emocionais.
“O trabalho dos psicólogos é muito importante para a nossa sociedade. Cada vez mais, as pessoas vão vencendo os preconceitos em relação à psicologia, percebendo que o psicólogo não é apenas para quem está louco, muito pelo contrário, a grande maioria das pessoas o procuram para um autoconhecimento e para saber lidar com as próprias emoções”, destaca o doutor Élison Santos, psicólogo há 12 anos.
Com o início do isolamento social, em março deste ano, esse acompanhamento profissional passou por uma nova adaptação, com a realidade dos atendimentos virtuais. Fator que, para Élison, trouxe um “novo sabor” a este processo.
“Os psicólogos puderam conhecer mais a realidade dos seus pacientes, nas suas casas, e os pacientes também conhecendo, muitas vezes, as realidades dos seus psicólogos. Isso deu um novo sabor a este processo, para as pessoas perceberem a humanidade. Li alguns estudos americanos que diziam o quanto os pacientes se sentiram mais próximos dos seus psicólogos, porque perceberam que o psicólogo também tem uma casa, uma família, uma vida, e por conseguirem ver um pouco desta realidade no atendimento on-line”, explicou.
Segundo ele, essa proximidade é importante para que o paciente perceba que o psicólogo tem sim o conhecimento, mas é um ser humano prestando um serviço.
Com o passar dos meses de isolamento social, a procura pelo serviço de psicologia aumentou muito, destaca Élison, principalmente nos meses de junho e julho. “Isso porque as pessoas passaram pelos três primeiros meses de isolamento que teve um custo emocional muito grande. Tanto pelo luto de pessoas que perderam entes queridos, quanto pelo luto da perda de empregos, da rotina diária. Enfim, foram várias questões que afetaram a saúde emocional das pessoas e fizeram com que elas buscassem [esse recurso]. Que bom que elas estão encontrando esse recurso da psicologia, que está a serviço da saúde das pessoas”.
Ansiedade
Élison explica que a mente humana está sempre buscando uma forma de agir em situações que façam sentido para ela. Uma vez que há rotinas de trabalho, de estudo, entre outras, a pessoa vai encontrando um equilíbrio interior. Quando acontece a pandemia, a mudança de rotinas causa um certo estresse e pode causar ansiedade.
“As pessoas que não puderam manter seus trabalhos em casa, seja home office ou teletrabalho, isso gera um ambiente mais propício à ansiedade. Porque a pessoa está acostumada a fazer várias atividades e, de repente, se vê numa situação em que ela não tem o que fazer. E por mais que se invente coisas para fazer, ela, muitas vezes, não consegue encontrar uma rotina que traga uma satisfação para a mente”, destaca.
Em uma situação dessas, o psicólogo afirma que a pessoa precisa usar sua criatividade, outros recursos são fazer aquela meditação de respiração, de perceber o corpo, pois isso ajuda a diminuir a ansiedade, orações e atividades religiosas, atividades artesanais e culinárias.
“Tudo isso são atividades que ajudam a diminuir a ansiedade, uma vez que a pessoa faça aquilo com atenção. Sabe-se que a ansiedade tem muito a ver com o foco no futuro, no amanhã e a insatisfação do agora. Então, as pessoas estão sendo desafiadas a prestarem atenção no agora. A curtir esse agora. A aproveitar bem o tempo do hoje. Seja ele o mais simples que for, ela pode ser cheia de sentido”.
Élison enfatiza que é preciso ter paciência, porque tudo vai passar, e destaca como ponto de reflexão: “quem eu vou ser amanhã?”. “Eu não posso destruir as minhas emoções, o meu psicológico por conta da minha impaciência. Se é difícil demais para mim, então os psicólogos estão aí para ajudar”.
Atendimentos on-line
Os atendimentos on-line foram um recurso muito utilizado durante este período de isolamento social. Élison destaca que essa é uma prática que já acontecia muito antes da pandemia, inclusive reconhecida no mundo todo na psicologia, e dá muito certo.
Atualmente, alguns profissionais já retomaram os atendimentos presenciais com os devidos cuidados, mas outros tantos continuam.
Élison afirma que os atendimentos virtuais não prejudicam de forma alguma o atendimento, porém é preciso obedecer algumas regras para garantir a privacidade e o ambiente propício. Os psicólogos já têm um treinamento nesse sentido e cuidam muito bem disso, mas também os pacientes devem ter esse cuidado em suas casas.
“Os resultados [do acompanhamento] tendem a ser praticamente os mesmos. É claro que o contato físico é muito importante também, mas o fato de não estar em uma consulta presencial não deixa de ter os resultados também esperados”.
Mudanças
O especialista lembra que os hábitos se tornam parte da vida humana a partir do momento que a pessoa realiza uma atividade durante um longo período. Com a pandemia, ampliou-se o uso do ambiente virtual, inclusive para manter os relacionamentos pessoais.
“Há um sofrimento grande no isolamento social, mas há também o desenvolvimento de novos hábitos. Eu acredito que aquela pessoa que descobriu que pode falar com sua mãe, avó, pai ou amigo através da internet pode ser que o relacionamento, as conversas se tornaram mais frequentes do que antes (…) É claro que isso pode trazer também o outro lado da moeda, que é a acomodação. As pessoas podem se acomodar apenas com o contato virtual e deixar de visitar as pessoas”, explica.
Ele acredita que isso vai acontecer, mas que por mais que os encontros diminuam, não irão acabar. “A gente sente falta do encontro pessoal, de abraçar, estar junto, sentir o sorriso e a presença do outro. Alguma coisa vai mudar sim”.
Élison destaca que os psicólogos ao redor do mundo têm estudado esses comportamentos e nós estamos no meio deste processo e estamos tentando entender o que está acontecendo com o ser humano.
“Muitos têm falado desse ‘novo normal’. É um novo normal sim, porque vai mudar. Já está diferente e nós precisamos nos preparar para lidar com este mundo que está em mudança sem perder a nossa humanidade. Que é a nossa capacidade de ter um olhar compassivo, de compreensão, tolerância e de amor, que é a nossa maior capacidade”.
Ele conclui lembrando que aquilo que nos realiza é a gente poder oferecer o que há de melhor para nós para as pessoas. “Seja on-line ou pessoalmente, que a gente não deixe de olhar para as pessoas da melhor forma possível e transmitir para as pessoas o que há de melhor em nós. Manter a nossa calma, buscar a nossa saúde emocional e sermos propagadores de boas notícias. O mundo está precisando muito disso. A esperança não pode morrer”.