A partir da mensagem do Papa, padre Fernando Santa Maria indica atitudes concretas para quem pretende viver as práticas da Quaresma
André Cunha
Da Redação
“A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus ‘de todo o coração’ (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor”.
Por meio desta mensagem, publicada no mês passado, o Papa Francisco quis introduzir a Igreja no tempo da Quaresma que começa nesta Quarta-feira de Cinzas, 1º de março.
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Ainda no texto, o Papa ressalta que a Quaresma é o “momento favorável” para intensificar a vida espiritual através dos “meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola”.
Francisco disse ainda que a Quaresma é o tempo favorável à renovação interior, encontrando “Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo”. “O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir”.
No sentido da mensagem de Francisco, o padre Fernando Santa Maria, da Comunidade Canção Nova, descreve como viver as práticas apontadas pelo Pontífice: renovar-se e encontrar o Cristo na Palavra, nos Sacramentos e no próximo.
Retomar a medida de si mesmo
O sacerdote destaca que, numa sociedade marcada pelo narcisismo, pela necessidade de “likes”, de ser visto, há o risco da pessoa perder a referência de sua importância como filho de Deus, criado à Sua imagem e semelhança. “Não precisamos ceder a todas essas formas que tendem a alimentar em nós o narcisismo, a vaidade, o egoísmo, o relativismo – onde eu me torno a medida de mim mesmo. Isso é muito mau!”
“A Quaresma é esse tempo onde posso retomar e aprofundar que a minha medida é Deus, meu centro e fundamento é Jesus. Na Quaresma, é preciso retomar com profundidade, com a ajuda do Espírito Santo, a nossa conversão, onde Jesus possa ser ainda mais nosso centro”, explica.
Palavra de Deus
A respeito da escuta da Palavra, o padre indica frequentar a Missa com uma “nova disposição”, aos domingos e, para quem puder, também durante a semana. Além disso, ele sugere retomar a leitura da Palavra de Deus de forma pessoal.
Sacramento da Reconciliação
Sobre a confissão, padre Fernando considera que os fiéis precisam se preparar melhor para receber o Sacramento. Para isso, ele indica um exame de consciência e a vivência dessa celebração que, segundo ele, não é do pecado, mas da misericórdia de Deus.
“É um sacramento que se vive de forma pessoal, a experiência de Deus que quer saber do nosso arrependimento. Às vezes, somos tentados a dizer: ah, eu sou tão pecador que eu nem sei quais são os meus pecados. Mas se daqueles que eu me recordo, com a graça de Deus me arrependo, isso é o suficiente para uma profunda experiência que pode ser crescente na Quaresma. Não vou dizer confessar toda semana, mas digo com a ajuda do Espírito Santo, vamos saber quantas vezes precisamos passar pela confissão”, esclarece.
Jejum e abstinência
Em se tratando de jejum, o padre recorda que Jesus, no Evangelho, faz acento de que a prática do jejum, bem como da esmola e da oração, não podem ser feitas para o engrandecimento pessoal. “Não! É para se comunicar com Deus e com os irmãos”, afirmou.
Outra coisa é a abstinência, explica ele, que não é deixar uma refeição, mas fazer uma penitência de algo que esteja muito apegado, como filmes, por exemplo. “Uma pessoa que é muito apanhada por filmes e, às vezes, até entra num estado de escravidão, então, esse é um bom tempo para essa pessoa abster-se de assistir filmes, ou assistir menos”, exemplificou. Todavia, reafirma que o jejum e a abstinência não podem ser motivos para alimentar a vaidade. “Tudo isso é para a glória de Deus!”, disse.
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Reconciliação com os irmãos
Por último, padre Fernando fala sobre a necessidade de reconciliação com o próximo, que está diretamente ligada à relação com Deus. “É como rezamos no Pai Nosso: ‘perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’. Então, se existe alguém que preciso procurar para pedir perdão ou dar o meu perdão, a Quaresma é um propício pra isso também. Ou seja, retomar com Deus, mas também com os irmãos”.
“Se eu não tenho disposição alguma para retomar com os irmãos, infelizmente, não estarei preparado para retomar com Deus. O relacionamento com Deus e os irmãos não se confundem, mas estão profundamente unidos como mandamento do Senhor: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo teu coração, com toda tua alma e com todo teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo”, concluiu.