Sacerdote comenta o “Evangelho da Reconciliação”, destacando exemplo de paz e diplomacia dado pelo Santo Padre
Padre João Carlos Almeida, scj
Teólogo e educador
No dia 23 de maio de 2013, o Papa Francisco escreveu no Twitter:
Tenho levado o Evangelho da reconciliação e do amor aos ambientes onde vivo e trabalho.
Era uma sexta-feira do tempo pascal. O Papa vive intensamente a mística de ligar a fé com a vida, a liturgia com o dia a dia, a Missa com a missão. Aos poucos, ficaria muito claro que a Celebração Eucarística diária, logo pela manhã, é o momento alto do seu dia. Neste dia, por exemplo, certamente o Evangelho de João 15,12-17 o inspirou: “Amai-vos uns aos outros”.
O Evangelho lido e meditado diariamente dá o tom para todos os seus afazeres, decisões e até mesmo orienta suas palavras. A breve homilia feita diariamente na Casa Santa Marta foi ganhando a atenção de todo o mundo. Até mesmo a imprensa secular começou a repercutir aquelas breves frases que têm o poder de destruir muros e construir pontes.
O Papa é também chamado de Pontífice, ou seja, alguém que tem a missão de construir pontes entre as pessoas, as culturas, as religiões, os cristãos e até mesmo da humanidade com Deus. Este é o sentido da mensagem que ele publicou neste dia. Devemos ter nos lábios e nas atitudes uma boa notícia de reconciliação. Ele tem moral para fazer esta proposta. Ao fim de 2014, o Papa ganharia as manchetes como protagonistas da improvável reconciliação entre Estados Unidos e Cuba. Tentou também reconciliar o Ocidente com o Oriente, judeus e palestinos, idosos e jovens, homens e mulheres, leigos e clérigos. Seu jeito de viver o equilíbrio entre o vigor e a ternura o torna um profeta da paz.
Paz na Bíblia é mais do que ausência de conflitos. O shalom que Jesus tanto pregou significa viver a harmonia e a reconciliação com Deus, com a natureza, com os outros e consigo mesmo. É ser uma pessoa íntegra e integrada. Mas não é isso que vemos em nosso fragmentado mundo moderno. Reivindicamos as liberdades individuais e acabamos escravos de um egoísmo narcisista que tem como efeito colateral uma tremenda solidão. Outro efeito é a falta de cuidado com o jardim que Deus plantou desde as nossas origens. A natureza tem sido estuprada violentamente por queimadas irresponsáveis. Paradoxalmente, amamos de modo saturado nossos gatos e cães, mas nos esquecemos da vida em extinção. É comum levar o cãozinho no petshop e ver crianças pelas ruas, de pé no chão. Aqueles trinta reais alimentariam uma criança pobre por três dias.
Toda esta realidade está clara diante dos olhos da diplomacia do Papa Francisco. Ele transmite uma severa paz. Severa, porque não cala a denúncia de tudo o que impede a reconciliação. Ele sabe que o apego aos bens produz injustiça e exclusão. Pior que isso é o apego ao cargo ou ao prestígio. Suas palavras são duras quando se dirige a líderes religiosos que fazem questão de ser cultuados. Chama isso de doença. E é mesmo. O poder pode corromper e tornar as pessoas medíocres e incapazes de exercer sua missão de humildade e serviço.
Podemos seguir o exemplo de Francisco e construir pontes de reconciliação com nossos familiares e amigos. Alguns podem estar do outro lado do muro da política, da cultura ou da religião. Por que não dar o primeiro passo?