Artigo - Dom Walmor

Olhai as minas de Minas, pede Dom Walmor em alerta sobre tragédias

Arcebispo de BH destaca que tragédia de Brumadinho traz uma dolorosa lição, a ser definitivamente aprendida para evitar novas tragédias

Dom Walmor Oliveira de Azevedo*
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

“O tratamento dado ao território mineiro precisa mudar e, para isso, muitas
intervenções devem ser feitas”, destaca o arcebispo de BH / Foto: Arquivo Paula Dizaró – Canção Nova

Minas Gerais não pode ser mais a mesma. Encontrar novo caminho, fiel às tradições e
às riquezas do território mineiro, para que se viva um novo tempo, é a missão que
desafia o Estado e o seu povo. Minas não pode mais ser a mesma porque a tragédia de
Brumadinho traz novamente dolorosa lição, a ser definitivamente aprendida por
todos: não se pode reduzir os parâmetros do desenvolvimento às bitolas de idolatrias,
como a do dinheiro, descompromissadas com os valores humanitários. Idolatrias que
produzem irreparáveis prejuízos, dores que jamais serão esquecidas.

Por isso mesmo, no coração da sociedade mineira deve vir, primeiro, o
comprometimento com o cuidado e a atenção para as minas de Minas. Assim,
impulsionados pelas dores e esperanças do povo, gravemente ferido pela tragédia de
Brumadinho, todos se unirão para fazer surgir nova etapa na organização social,
política e cultural do Estado. O momento exige cooperação sincera e transparente dos
diferentes segmentos sociais, desafiados a contribuir para a construção de um tempo
novo. É preciso vencer, corajosamente, uma perigosa “barragem de rejeitos”, que
acumula a ganância sem limites, a burocracia perversa – obstáculo para avanços
necessários aos processos que merecem adequadas avaliações e juízos,
fundamentados no bem comum.

É imprescindível que todos os cidadãos façam um exame de consciência para não se
dedicar apenas ao que leva a ganhos pessoais e egoístas. É fundamental cultivar a
sensibilidade diante da dor dos pobres, do luto de familiares. Minas Gerais pode e
merece ser diferente. A sua natureza há de ser preservada – um belo jardim. É preciso
que as posturas tenham o propósito do desenvolvimento integral. Os agentes da
destruição, que tratam com descaso a Casa Comum, não se enganem: cedo ou tarde,
tragédias similares às que ocorreram em Brumadinho, no Vale do Paraopeba, e em
Bento Rodrigues, distrito de Mariana, podem dizimar outros lugares, outras vidas.

É preciso intervir com urgência na realidade para evitar outras manifestações trágicas,
com mudanças profundas em diferentes campos, da legislação ao convívio social,
valorizando mais a seriedade e a competência, o jeito mineiro de ser, que conta muito
neste momento. Ninguém pode se sentir distante da missão de cuidar da Casa Comum
nem se deixar manipular por interesses pouco nobres. Seja um ponto de partida olhar
as minas de Minas – reconhecendo que suas riquezas podem ser fonte de
desenvolvimento integral, progresso e geração de emprego, fundamentados em
parâmetros legais e técnico-científicos. Livre de empreendimentos que simplesmente
esburacam as montanhas e produzem barragens de rejeitos – bombas-relógio que ao
explodirem destroem vidas humanas e o meio ambiente.

Olhai as minas de Minas nas suas belezas e riquezas, para que o Estado se consolide
entre os maiores destinos turísticos do mundo. Particularmente, as regiões de Minas
Gerais sejam ainda mais reconhecidas como referência para o turismo histórico e
religioso. O tratamento dado ao território mineiro precisa mudar e, para isso, muitas
intervenções devem ser feitas. Importante destacar o papel essencial da política nesse
processo, recordando-se do que diz o Papa Francisco, em mensagem para o Dia

Mundial da Paz: a política é um meio fundamental para construir a cidadania e as
obras do homem. Nunca pode ser instrumento de opressão, marginalização e
destruição. A qualificação da política depende, sobretudo, do respeito fundamental
pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas, uma forma eminente de caridade.

Os olhos e os corações precisam ser fecundados para que surjam novos modos de ver
e de sentir, com percepções mais qualificadas da realidade. Um caminho que levará
Minas Gerais a ser devidamente reconhecida e ainda mais respeitada. Todos
enxergarão o verdadeiro jardim de infinitas belezas que é o território mineiro, um
tesouro com riquezas naturais e tradições – religiosas e culturais. Minas tem um povo
com a força para impulsionar a sociedade brasileira rumo a novos tempos. Seja, cada
mineiro, consciente de seu pertencimento ao Estado de Minas Gerais, para exercer,
com gosto, fecunda cidadania. Assim se constrói novo marco civilizatório, começando
pelo que é simples, mas altamente eficaz: olhar as minas de Minas.

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Dom Walmor

*O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).

 

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