Dois grupos; pessoas diferentes, mas com um único objetivo: ajudar quem precisa, ser presença para quem está só, enfim, ser Natal na vida do outro
André Cunha
Da redação
O Natal por si só tem uma força que impulsiona as pessoas para o amor ao próximo e provoca, muitas vezes, gestos concretos de solidariedade.
Foi o que aconteceu no litoral paulista, especificamente na cidade de Ilha Bela, onde a solidariedade uniu amigos, conhecidos e desconhecidos, em prol de quem sofre nos leitos do Hospital Mário Covas.
Há mais de nove anos, um grupo de cerca de 20 amigos decidiu colocar em segundo plano a organização da ceia e até a companhia da família para estar com os doentes na véspera do Natal.
A ideia surgiu numa conversa de amigos, como conta uma das participantes, Beatriz Bello. “Nós começamos pedindo latinha para colocar bolachas e levar no hospital na noite de Natal. Existem pessoas que vão pra lá, são medicadas, tem alta e vão embora. Mas tem aquelas que não podem ir e acabam passando o Natal sozinhas. Além dos próprios funcionários que trabalham e que também estão longe da família. Então resolvemos levar um pouco de alegria a eles”.
Beatriz conta que durante as visitas, uma pessoa se veste de Papai Noel e junto com o outros vão ao hospital para entregar as bolachas, empacotadas dentro das latinhas recolhidas dias antes da visita. O recipiente é produzido com a ajuda das crianças do grupo.
Mas há cerca de quatro anos, além de ir ao hospital, o grupo também realiza outro gesto que torna o Natal ainda mais concreto. Eles vão à procura de alguém que está com algum tipo de dificuldade e tentam ajudar.
“Por exemplo: no primeiro ano, antes de ir para o hospital, nós juntamos panetones, brinquedos e etc, e fomos à casa de uma moça que trabalha no SAMU, muito bacana, dedicada e que tem um monte de filhos. Papai Noel foi até lá com seus ajudantes. No ano seguinte, visitamos uma família que tem uma filha com deficiência física. Fizemos a visita e a menina ficou cheia de alegria; foi muito bom”, conta Beatriz.
A força da alegria
Em meio aos relatos das visitas, um chamou a atenção por apresentar um começo triste, mas uma história de vitória, logo depois.
“No ano passado nós visitamos uma moça terminal de câncer. Era só ela e o filho. Desempregada… Aquela situação que quando chega o Natal dá nó no coração da gente”, relatou Beatriz. Segundo ela, a jovem não esperava celebrar o Natal com o filho, pois a doença já estava avançada e era muito grave.
O Papai Noel visitou a família, entregou brinquedos ao menino, um vestido para a moça, além de uma caixa com outras doações.
“Meses depois – conta Beatriz – fui levar a foto dela com o Papai Noel que tinha prometido. Quando cheguei, ela me contou que estava curada do câncer. Encheu-se de tanta felicidade e alegria com a visita que acho que a ajudou no tratamento”, testemunhou.
Beatriz acredita que as pessoas adoecem mais facilmente porque ficam tristes. “Mas quando você devolve a alegria a elas, mostra um motivo de alegria, elas voltam a viver. Quando a pessoa sorri, recebe carinho, os remédios fazem efeito mais rápido e ela se cura”, constatou.
Palhaços “atordoados”
O grupo de amigos da Beatriz despertou também a generosidade do grupo de palhaços “Atordoados” que se juntou a eles nas visitas ao hospital Mário Covas em Ilha Bela (SP) na noite de Natal.
Os “Atordoados” já realizam trabalho voluntário no mesmo hospital há dois anos. Simone Fortes, enfermeira e uma das voluntárias, conta que o grupo de dez pessoas resolveu aproveitar a oportunidade e ajudar o Papai Noel a fazer o bem.
“É uma troca! As pessoas falam: nossa, vocês devem ganhar muito bem pra fazer um trabalho assim. Aí a gente dá risada e diz: realmente, nós ganhamos muito bem… Porque não tem o que pague aquele sorriso no rosto, num ambiente hospitalar que é pesado por causa da dor, do sofrimento… Então, o olhinho brilhando, aquele sorriso no rosto já diz tudo pra gente, é o nosso pagamento”, afirmou Simone.
E a enfermeira completou: “o sorriso cura; a alegria é curativa. É algo que não conseguimos mensurar, mas que a gente sente ter ajudado nesse sentido”.
Simone destaca a dificuldade de, “no mundo louco que a gente está”, olhar para outro ou até se colocar em seu lugar. Neste sentido, ela acredita que falta uma boa dose de amor. Ao mesmo tempo afirma que qualquer pessoa pode fazer algo, com o pouco ou com o muito que se tem.
“As pessoas falam: nossa, que trabalho legal! Queria muito fazer isso, mas eu não tenho jeito pra palhaço. Mas não precisa ser apenas um palhaço. Basta trabalhar naquilo que consegue doar. Aliás, não é só o doar; a gente recebe muito! É uma troca muito equilibrada. O principal é o doar-se, é o que vem de dentro. A gente faz tudo com o coração”, concluiu.
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