Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas é comemorado nesta terça-feira, 16
Denise Claro
Da redação
Nesta terça-feira, 16, é comemorado o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. A data foi estabelecida pela lei nº12.533/2011 para viabilizar debates e mobilizações em torno de alternativas mais sustentáveis para as mais diversas áreas.
Quase todas as atividades humanas resultam no lançamento de gases de efeito estufa. Como exemplo, a agricultura e o uso de fertilizantes que liberam óxido nitroso (N2O). A pecuária e a digestão dos animais ruminantes emitem metano (CH4), e os equipamentos de refrigeração podem lançar hidrofluorcarbonetos (HFCs). O uso de combustíveis fósseis, como o diesel, libera dióxido de carbono (CO2) no meio ambiente. Por isso a necessidade de se refletir sobre o impacto desses poluentes sobre o clima no planeta.
O pesquisador e meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Lincoln Muniz Alves, afirma que a estimativa é de que as atividades humanas tenham causado cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais. A temperatura média global observada na superfície (sigla em inglês GMST) para a década 2006–2015 foi 0,87°C. Foi mais alta que a média registrada no período 1850–1900 (período pré-industrial).
Impactos
Impactos do aquecimento global sobre os sistemas natural e humano podem ser observados. Muitos ecossistemas terrestres e oceânicos e alguns dos serviços que eles fornecem já se alteraram devido ao aquecimento global. O pesquisador explica que as consequências disso no futuro podem ser preocupantes.
“Avalia-se que diversas mudanças regionais no clima acontecerão com o aquecimento global de 1,5°C em comparação aos níveis pré-industriais. Inclusive o aquecimento de temperaturas extremas em muitas regiões, aumentos na frequência, intensidade, e/ou quantidade de chuva intensa em diversas regiões. E um aumento da intensidade ou frequência de secas em algumas regiões.”
Conscientização
O especialista afirma que algumas atitudes, se tomadas, podem frear este processo e as consequências mais graves no futuro. Limitar o uso de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural e substituí-los por fontes de energia renováveis e mais limpas, aumentando a eficiência energética, é uma delas.
“O caminho para essa transição inclui decisões diárias ao alcance de cada um – como dirigir e voar menos, optar (se possível) por um fornecedor de energia ‘verde’ e até mesmo mudar o que se come e compra”, esclarece.
Depois dos combustíveis fósseis, a indústria de alimentos é um dos que mais colaboram para a mudança climática. Em particular, o setor de carnes e laticínios.
“Você não precisa se tornar vegetariano ou vegano para fazer a diferença: reduza gradualmente e se torne um ‘flexitariano’. Ao reduzir seu consumo de proteína animal pela metade, você pode reduzir a pegada de carbono da sua dieta em mais de 40%.”
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Exemplo
Patrícia Novaes é produtora rural na cidade de Cruzeiro (SP) e uma das fundadoras do grupo agroecológico da cidade. Há alguns anos, ela entendeu a importância da mudança de algumas atitudes. Assim, adotou um novo comportamento diante das escolhas do dia a dia.
“Não reciclava lixo, era indiferente quanto às queimadas e aos venenos utilizados em hortaliças e frutíferas. Hoje, considero-me uma pessoa mais consciente. Entendi a importância de uma alimentação saudável livre de agrotóxicos e do cuidado com o meio ambiente.”
Atualmente, Patrícia planta alguns dos alimentos que consome, e adotou um estilo de vida mais saudável, de modo geral.
O pesquisador Lincoln Alves reforça que é preciso que as pessoas se readaptem a esta nova realidade. Afirma que a contribuição do ser humano é significativa para a ocorrência dos fenômenos ligados às mudanças climáticas, por isso é importante que ele se reconheça parte do problema.
“Um outro grande desafio é falar de problemas para os próximos 10, 20 anos quando os tomadores de decisões pensam em políticas imediatistas. Não é o fim do mundo, mas é preciso preparar-se para esse novo mundo, e os resultados mostram que a parcela mais pobre da população mundial será a primeira a sentir os efeitos.”
Igreja e Meio Ambiente
A Igreja sempre se preocupou com o cuidado com o meio ambiente. A Doutrina Social afirma que na origem da questão ambiental está a pretensão da humanidade de exercer um domínio incondicional sobre as coisas. Como consequência, acontece uma exploração inconsiderada dos recursos da criação.
Em 2015, o Papa Francisco apresentou ao mundo a Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum. O documento foi recebido com apreço pela opinião pública internacional e saudado como uma “encíclica verde”. O Papa fez questão de enfatizar que essa é também uma encíclica social, porque fala da questão ambiental enquanto relacionada com a questão social.
Leia na íntegra
.: Encíclica Laudato Sí, sobre o Cuidado da Casa Comum
Dentre as propostas levantadas pelo Papa Francisco na encíclica está o apelo a uma mudança no estilo de produção e consumo atuais. São determinados pelo mercado e geradores de necessidades artificiais, o que João Paulo II chamou de “conversão ecológica” (Catequese do dia 17 de Janeiro de 2001) e que foi assumido nesta encíclica (LS 216-221).
Casa Comum
Em 2019, no encontro “A transição energética e a tutela da casa comum”, promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, o Papa Francisco discursou aos participantes.
“Queridos amigos, o tempo está se esgotando!”, disse o Papa sobre as emergências climáticas e sobre a necessidade de uma transição. Para o Santo Padre, a sociedade não pode permitir o luxo de esperar que outros tomem iniciativas ou dar prioridade a vantagens econômicas a curto prazo.
“A crise climática requer de nós uma ação determinada aqui e agora, e a Igreja está plenamente engajada a fazer a sua parte”. E concluiu: “Ainda há esperança e tempo para evitar os piores impactos da mudança climática, com a condição de que haja uma ação rápida e resoluta”.