No Dia Mundial da Enfermagem, profissionais comentam importância da atenção, do carinho e da fé no cuidado com os pacientes
Thiago Coutinho,
Da redação
Nesta sexta-feira, 12, é celebrado o Dia Mundial da Enfermagem. A data foi criada para homenagear uma importante figura: Florence Nightingale, conhecida como a fundadora da enfermagem moderna. Ela também foi a pioneira no desenvolvimento do que ficaria conhecido como o tratamento humanizado. Foi também responsável pela criação da primeira escola de enfermagem da Inglaterra, que funcionava no Hospital Saint Thomas, em Londres.
A data também recorda uma importante figura brasileira relacionada à enfermagem: Ana Néri, a primeira enfermeira brasileira a se alistar voluntariamente em combates militares.
Uma profissão de origem milenar, a enfermagem, em seus primórdios, era uma referência a quem cuidava, protegia e alimentava pessoas com alguma doença, enfermidade ou deficiência. São, em suma, profissionais que estão comprometidos com a saúde e o bem-estar das pessoas.
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Atenção e carinho
As motivações por trás da escolha desta profissão são sempre diversas. A enfermeira Raphaela Calazans de Moraes, que atuou como técnica em enfermagem por cinco anos e há dois trabalha como enfermeira numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), sentia um forte carinho pelos pacientes, especialmente após trabalhar em um centro de hemodiálise. “Minha motivação veio quando eu trabalhei na clínica de hemodiálise local, eu era secretária e lá eu desenvolvi muito apego nos pacientes, e vontade de estar em contato direto com eles”, disse.
Histórias com forte apelo emocional são constantes na vida desses profissionais. Fabiana Tavares de Almeida, que há 14 anos trabalha como enfermeira, recorda-se de uma história peculiar que a marcou muito. De forma aleatória, ela se encontrou com dois pacientes que ela pôde cuidar na UTI. E ambos a reconheceram e foram agradecer-lhe pelo cuidado que teve enquanto estiveram internados.
“Eles se apresentaram e disseram que eu havia cuidado deles com muito carinho. Disseram ainda que rezariam por mim e que pediram a Deus para me abençoar. Pediram um abraço e me disseram que tinham uma gratidão enorme pelo modo como os tratei. Isso é muito gratificante, quando você cuida de um paciente cheio de dor, autoestima baixa — já que nem sempre é uma dor física. Às vezes, eles querem apenas atenção e carinho. E, graças a Deus, recebo muitos agradecimentos quando encontro essas pessoas após um tempo”, afirma Fabiana.
Na linha de frente
Enfermeiros fazem parte da linha de frente de um hospital, por isso nem sempre o contato com o público pode ser fácil. Raphaela, por exemplo, sentiu muito este peso durante a pandemia. “Era muito difícil salvar vidas [na pandemia]”, recorda. “Naquela época, o vírus estava alastrado e levando embora muitos jovens, o que era mais triste. Mas conseguimos passar pela pandemia, o que é uma grande felicidade”, acrescenta.
Fabiana reforça a necessidade de os pacientes tratarem bem os enfermeiros. “Fazemos o melhor que podemos”, ressalta. Ela destaca também o cansaço e a necessidade de reconhecimento desta profissão.
A fé
A fé, numa profissão que lida com a vida e a morte a todo instante, toma novos contornos. Raphaela explica que, dentro da UTI, os momentos de oração são muito importantes. “Dentro da UTI, às vezes, fazemos orações, principalmente com os pacientes lúcidos. Infelizmente, devido à correria, acaba não sendo uma rotina. Mas sempre que podemos, rezamos juntos. E sempre buscamos conversar para amenizar o sofrimento daqueles que estão ali conosco”, diz.
Fabiana também leva muito em consideração este momento de espiritualidade. “Conversando com as pessoas, vemos que muitas delas estão machucadas e são agressivas. Minha fé faz com que eu veja Jesus em cada paciente que trato. Lidamos com todo tipo de doenças — do corpo e da alma”, pondera.
Tratamento humanizado
Nos últimos tempos, a medicina tem investido no que ficou conhecido como tratamento humanizado. Neste tipo de tratamento, o profissional de saúde procura sempre ouvir o paciente para poder entender o que o aflige. “O tratamento humanizado deve sim ser uma regra para quem trabalha na área. Devemos sempre ter em mente que devemos tratar o paciente como gostaríamos de ser tratados, ou como gostaríamos que tratassem nossos pais, avós e irmãos”, observa Raphaela.
“Eu escolhi estudar e atuar como enfermeira”, assevera Fabiana. “Mas o paciente não. Ele não quis estar ali sofrendo, com dor e sendo maltratado. O tratamento humanizado deveria, sim, ser uma regra”, finaliza.