A cada ano, há sempre um novo manto envolvendo Nossa Senhora e a sua apresentação é realizada de modo solene diante de milhares de fiéis
Liliane Borges
Da Redação
Todos os anos, na segunda semana de outubro, mais de 2 milhões de pessoas seguem em procissão pelas ruas de Belém para homenagear Nossa Senhora. A festa intitulada Círio de Nazaré é a maior manifestação mariana do país. Sua grandiosidade já foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que a tornou patrimônio cultural de natureza imaterial.
Uma festa grande na devoção e rica nos detalhes que se expressam por meios dos diversos símbolos. Entre os mais conhecidos, figura o Manto que orna e revela a nobreza da pequena imagem.
A cada ano, há sempre um novo manto envolvendo Nossa Senhora e a sua apresentação é realizada de modo solene diante de milhares de fiéis. Nesta edição de 2019, a apresentação do manto será nesta quinta-feira, 10, na Missa das 18h na Basílica Santuário. A confecção é sempre envolvida pela expectativa, e até mesmo um pouco de mistério, pois poucas pessoas têm acesso à peça antes da revelação pública.
Quem tem o privilegio de “vestir a mãe de Deus” sabe bem o que significa essa expectativa. A estilista Kátia Novellino realiza pela segunda vez a confecção do ornamento. “Ano passado, quando fui convidada pela Lilian e Claudio Acatauassú, diretores do Círio, foi uma emoção gigante, este ano já sabia que estaria também na equipe para confecção do manto”, conta Káthia.
A estilista explica que o manto recebe a ornamentação a partir do tema da Festa. “A escolha do tema do Círio pelo arcebispo é sempre um momento de grande expectativa para os devotos. É a partir desse anúncio que começamos a discutir e direcionar a escolha de formatos, desenhos, cores e material usado para a confecção do manto.”
Neste ano, o tema escolhido é “Maria, Mãe da Igreja”, uma homenagem também aos 300 anos da Diocese de Belém. A estilista revela a inspiração, mas o segredo será mantido até o momento da Missa de Apresentação logo mais à noite.
“O manto do ano passado foi muito clássico, inspirado em bordados sacros, com muita linha em ouro e prata, e muitas joias. Já este ano, quis fazer algo totalmente diferente, em termos de material, cores e texturas, e de grande impacto visual”, revela Káthia.
Para os turistas e peregrinos que acorrem à Belém todos os anos, o Círio tem data específica, mas para os paraenses é festa todos os dias e a tradição é guardada com carinho desde o primeiro Círio em 1793. Portanto, os mantos recebem um lugar especial no Museu do Santuário e sua história revela o zelo de um povo mariano.
Segundo o histórico registrado pela Basílica, os pesquisadores divergem quanto ao fato de a imagem ter sido encontrada já com o manto. Mesmo entre os que defendem a hipótese há divergências quanto ao estado da peça. Alguns destacam sua preservação, sendo ele azul brilhante intacto como se fosse novo e outros de que estaria desgastado, uma vez que a imagem foi encontrada em meio a uma floresta.
O fato é que, desde os primeiros registros da Festa de Nazaré, a imagem é revestida por um manto em formato retangular. O que foi mantido quando passou a ser tecido por irmã Alexandra, da Congregação Filhas de Sant’Ana. A religiosa confeccionou anualmente os mantos para celebrar as festas, e o fez até sua morte em 1973. A tarefa foi então assumida por Esther Paes França, que já auxiliava irmã Alexandra no bordado das peças, ela chegou a produzir 19 mantos.
A partir daí, a oportunidade de costurar um novo manto em homenagem à Nossa Senhora Peregrina para as procissões do Círio passou a ser assumida anualmente por outras pessoas, entre elas estilistas e artistas locais.
Experiência que somente quem já viveu pode expressar a grandiosidade. “A passagem de Nossa Senhora é um momento sublime de devoção e muitas orações, esses dois anos confeccionando o manto, a expectativa é muito maior, pela responsabilidade das escolhas, e de como as pessoas reagirão a elas. Me sinto privilegiada por esses dois anos e sem dúvida foram meus trabalhos mais importantes e emocionantes”, afirma Kathia.
O momento de maior expressão é certamente a procissão, aguardada pelos peregrinos de tantos lugares, que ao ver a imagem podem entrever no manto um traço de sua grandeza e assim homenagear por meio da devoção a Rainha dos Céus.